Secretaria de Saúde do RN quer acabar com o Centro de Saúde Reprodutiva

No Jornal de Hoje

A semana de atividades dedicada à mulher do Centro de Saúde Reprodutiva Professor Leide Morais terminou nesta sexta-feira (15) com os servidores realizando um abraço simbólico à unidade contra a possibilidade de fechamento do serviço. Depois de mais de dez meses com o atendimento suspenso, em virtude da greve dos médicos, o atendimento foi retomado na última segunda-feira (11), com demanda aberta. Mas o clima entre os servidores é de tensão, frustração e tristeza, pois há rumores de que o Governo do Estado deseje fechar o Centro e remanejar os profissionais para outras unidades. A frase estampada na camisa dos servidores da unidade durante o abraço “Juntos Somos Fortes” traduz o sentimento de união dos servidores pela manutenção dos serviços prestados à população.

A diretora geral do Centro de Saúde Reprodutiva, Débora Torquato, que trabalha na unidade desde 1998, conta que enquanto o Governo Federal estabelece como prioridade nacional a prevenção e o combate aos cânceres de mama e de colo de útero, o Governo do Rio Grande do Norte vai à contramão. “Temos uma unidade que está funcionando e tem tudo para poder continuar. Somos uma unidade referência no diagnóstico e tratamento destes cânceres, realizamos procedimentos que não são feitos em nenhuma unidade e temos bons profissionais, qualificados e especialistas em média complexidade. Considero que é uma irresponsabilidade fechar um serviço que está funcionando. Querem acabar com a prevenção para colocar os médicos nos hospitais, mas eles estão temerosos com essa postura do Governo”, destacou a diretora.

A lista de especialidades e procedimentos realizados no Centro de Saúde Reprodutiva é extensa. Dermatologia, nutrição, psicologia, urologia, enfermagem, farmácia, procedimentos como testes de HIV, Hepatite e VDRL, pequenas cirurgias, cauterização, peniscopia, consultas, exames laboratoriais, terapias e atendimentos são alguns dos procedimentos realizados. No Programa do Adolescente, são procedimentos como sexologia, serviço social, enfermagem, nutrição, hebeatra e psicologia. Na área de ginecologia, são oferecidos citologia, AMIU, DIU, biópsia, colposcopia, retirada de pólipo, eletrocauterização de colo e cauterização química, além do tratamento de climatério com mulheres histerectomizadas menopausadas. Na mastologia, a mamografia está suspensa há meses e os exames de ultrassonografia não podem ser realizados, pois o equipamento está emprestado ao Hospital Walfredo Gurgel. Hoje, a unidade conta com 153 profissionais, sendo 31 médicos, e realiza uma média de 1.200 atendimentos diários.

Esta semana, a Secretaria pediu que a diretora fizesse um levantamento do patrimônio do Centro. A diretora fez um relatório e entregou à Sesap, mas nesta quinta-feira (14), quatro técnicos da Coordenadoria de Operacionalização de Hospitais e Unidades de Referência (Cohur) e um funcionário do setor de Patrimônio da Sesap, estiveram na unidade para conferir a relação apresentada pela diretora. “Senti como se eu estivesse entrando na minha casa e sendo invadido. Me senti invadida e constrangida. Acredito que o secretário (Isaú Gerino) poderia ter uma postura mais ética, pois esse autoritarismo deixou todos os funcionários apavorados”, destacou.

Débora Torquato conta que desde que o secretário de Saúde assumiu só foi chamada para uma rápida reunião, e nunca foi procurada pela coordenadora da Cohur, Almerinda Fernandes Queiroz. Ela conta que ainda não foi informada pela Secretaria sobre o fechamento da unidade, mas que já houve diversas reuniões com os médicos da unidade. “Não fui convidada, nem tampouco informada, mas os médicos me disseram que informaram que iam fechar a unidade e que eles tinham que procurar outra unidade para trabalhar. Os médicos ficaram assustados e não sabem o que fazer. Não deram prazo de quando isso vai acontecer, mas entramos em dotação orçamentária deste ano e, por isso, que acredito que não iremos fechar este ano. Lamento que esta seja a postura do secretário, pois acredito que deveríamos nos reunir para traçarmos estratégias e planejamento para ampliar o serviço e não acabar com ele, mas a estratégia utilizada é ficar alheio aos serviços. Sou uma técnica e não posso compactuar com essas irregularidades”, afirmou a diretora.

Caso se confirme o fechamento da unidade, os seis médicos ultrassonografistas do Centro, que tem experiência em mama, seriam transferidos para os hospitais Ruy Pereira ou Walfredo Gurgel. Os demais profissionais seriam remanejados para o Hospital Santa Catarina ou para os Hospitais Regionais da Região Metropolitana de Natal, como Parnamirim ou Macaíba. “Todo esse clima de terrorismo já mexeu com o meu psicológico e agora está mexendo com o psicológico dos médicos. Isso é inadmissível. Estamos aqui por amor ao que fazemos e não ao cargo ou dinheiro”, desabafou Débora Torquato.

A ginecologista Rejane Monteiro Cavalcanti vê com reservas e tristeza a possibilidade de fechamento do serviço. “O Centro dá um importante apoio a rede básica, pois realizamos aquilo que não pode ser resolvido na ponta (unidade de saúde) e se fechar será um prejuízo grande tanto para Natal quanto para o Estado, pois hoje somos referência para todo o RN. Esse clima de incerteza tem gerado tristeza, pois trabalhamos com amor, além de gerar muito estresse e frustração. Entendemos que deveriam abrir novos locais e melhor equipar a rede básica e não fechar os serviços”, destacou a médica que já procura uma unidade para ser transferida.

A dona de casa Maria Dalva, de 59 anos, há 12 anos utiliza os serviços da unidade. Ela, que está no climatério (período da menopausa), disse que o Centro de Saúde Reprodutiva é o único local que tem o seu tratamento. “Procuramos aqui e ali e nenhum canto oferece este tipo de serviço para a população. O atendimento é excelente, se fechar não sei como ficar. A reportagem d’O Jornal de Hoje tentou entrar em contato com o secretário de Saúde Pública do Estado, Isaú Gerino, mas ele não atendeu as ligações.

Comentários

matheus disse…
seria muito interessante levantar a capacidade dessa unidade. Ela tem
pouco impacto para o estado e muita gente lotada lá. 31 médicos é muita coisa! Sugeriria calcular carga horária versus produção/resultado. Não acho que deva fechar, mas poderia funcionar melhor. Ninguem viu mobilização para a saída do mamógrafo e do ultrassom... pq?