Ao jovem manifestante

Por Plínio Bortolotti
Em O Povo

Finalmente os organizadores do Movimento Passe Livre (MPL) vieram a público para condenar a violência contra os partidos, que se vê nas manifestações, nas quais muitos dos jovens participantes iniciam a militância política (sim, vocês fazem política).

Esse tipo de intolerância - gente queimando bandeiras de partidos, agredindo seus militantes e os expulsando das passeatas - é o ovo da serpente do fascismo: é preciso que isso seja dito claramente.

O movimento é justo, mas não se pode aceitar tudo o que fazem qualquer um dos participantes, como se fossem crianças mimadas, que não podem ser contrariadas.

E foi devido à hostilidade aos partidos e ao aumento do número de manifestantes que propõem “pautas conservadoras” (como a redução da maioridade penal) que o MPL decidiu suspender novas convocações para novas passeatas.

É certo, pois a pluralidade - que tanto se vê nesses movimentos - tem de valer também para aqueles que optam por se filiar a partidos políticos. Aceitar o contraditório, conviver com as diferenças, deveria ser a bandeira intocável do movimento, senão, o negócio vira Marcha da Família com Deus pela Liberdade. (Aos jovens que nunca ouviram falar disso, sugiro uma googlada).

Ser apartidário não significa ser antipartidário, como bem disseram os representantes do MPL. Criminalizar militantes políticos, a ditadura já o fez muito bem, e todos - creio que até os jovens - sabem onde isso termina. Mas vou repetir: termina em autoritarismo, em fim das liberdade, em censura, em tortura. E foi essa ditadura que as gerações anteriores combateram.

Tudo bem, PT e PCdoB estão hoje no governo, trocaram as ruas pelos gabinetes. Mas foram os militantes do PCdoB que morreram no Araguaia; foram os dirigentes deles que foram covardemente assassinatos na “Chacina da Lapa” (Google, por favor); foram os caras vindos da luta armada (quantos morreram? quantos foram torturados?), que construíram o PT junto com os operários do ABC e continuaram o confronto com ditadura, em passeatas, greves e manifestações (tão grandes quanto as de hoje), que desaguou na luta das Diretas Já - e na democracia. E o fizeram quando isso dava cadeia, tortura e morte, e não apenas balas de borracha e bombas de “efeito moral”.

Estavam nessa perigosa linha de frente as organizações trotskystas, comunistas, democráticas - e gente que não tinha partido, como as bravas mulheres do Movimento Feminino da Anistia. Havia divergência, disputa de palavras de ordem nas passeatas - mas seria impossível passar pela cabeça de alguém cassar o direito do outro de se manifestar.

Pois bem, meus jovens amigos, são esses caras que alguns de vocês violentam hoje, com xingamentos, tomando-lhes as bandeiras que eles levantaram no passado, com risco da própria vida. Foram eles que abriram a picada e deixaram o campo aberto para o espraiamento da democracia, que vocês tanto embelezam com suas reivindicações.

Não é preciso concordar com os velhos militantes, com aqueles filiados a algum partido, mas eles merecem respeito. Sei que a maioria de vocês se horroriza com o comportamento de alguns manifestantes, mas não basta isso, é preciso garantir aos militantes partidários o direito democrático de se expressarem.

Pois se o movimento continuar nessa toada - espremido entre arruaceiros e aprendizes de ditador - a grande vitória que conquistou transformar-se-á em derrota avassaladora.


INCÔMODO

Resolvi escrever essas linhas ao ver o modo como o vereador João Alfredo (Psol) foi tratado por alguns manifestantes no ato de quinta-feira (em frente à Assembleia Legislativa). Foi chamado, em coro, de “oportunista”, cercaram-no, gritavam e não deixavam que argumentasse. Discorde-se de João Alfredo, mas ele é um dos que descrevi acima. A ditadura calou uma geração à força, será que vocês querem continuar o serviço?

ARRUAÇA

Este jornal acertou em cheio com a manchete de ontem: “Isto é democracia” (com fotos mostrando manifestações pacíficas); “Isto é vandalismo” (com fotos mostrando tais atos).

É preciso deter os vândalos que estão promovendo essas barbaridades Brasil afora. E, mais do isso, identificá-los para saber se são simples arruaceiros ou um segmento fascista organizado, atentando contra a democracia, para depois bater às portas dos quartéis.

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