PM atirou até em quem pedia que não machucassem os meninos

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Uma unidade da Tropa de Choque atravessava a avenida Paulista, em São Paulo, por volta das 20h, quando uma moça negra usando camiseta branca com uma cruz preta fez um apelo da calçada, perto da esquina com a rua da Consolação, onde se encontravam pelo menos outras 20 pessoas: “Por favor, não machuquem os meninos, eles não fizeram nada contra vocês”. Um policial retardatário ouviu o apelo e respondeu. “Então toma, sua hipócrita filha da p...”, e atirou uma bomba de gás lacrimogêneo.

O efeito da fumaça atingiu todos que estavam na calçada. Uma senhora aparentando ter mais de 60 anos passou mal e foi carregada pelos colegas para dentro de um prédio. Os outros saíram correndo. A maioria era composta por trabalhadores que ficaram presos na Paulista depois do trabalho sem conseguir voltar para suas casas.

As estações de Metrô da principal avenida da cidade fecharam os portões. Os seguranças escolhiam quem podia entrar pela cara e pelas roupas. O comércio fechou as portas por orientação da Polícia Militar, que impediu o tráfego de pessoas em vários pontos e os barrados no Metrô se aglomeravam nas calçadas.

Algumas vezes os trabalhadores eram confundidos com grupos de manifestantes e viravam alvos das balas de borracha, bombas de efeito moral e gás. Pessoas choravam, tentavam se esconder e andavam com os braços erguidos para evitar a violência policial.

A reportagem do iG flagrou diversos casos de arbitrariedades cometidos pela PM na região central ao longo da tarde e início da noite de quinta-feira.

Um homem também negro, com camiseta de listras horizontais, foi detido violentamente depois de reclamar da falta de diálogo do governador Geraldo Alckmin (PSDB) no Largo do Patriarca, ainda antes do início da marcha.

O auxiliar de escritório Valdemir de Souza, 21 anos, levou um tapa na orelha de um PM na calçada da rua da Consolação. “Tira essa máscara e mostra a cara seu filho da p...”, gritava o policial enquanto o espancava.

Souza não estava mascarado. Ele colocou a camiseta preta no rosto para evitar os efeitos do gás lacrimogêneo e nem sequer participava do protesto.

“Acabei de sair do trabalho e estou tentando voltar para casa. Nem sei porque apanhei”, disse ele.

Daniel Klein, professor de Economia da PUC-SP, e outras duas pessoas foram detidos simplesmente por gravarem a ação da PM com seus tablets e celulares na Praça Roosevelt.

A reportagem também flagrou outras cinco pessoas sendo levadas pela PM por chamarem os policiais de fascistas.

“O único jeito de não ser preso hoje é andar com as mãos para cima e calado”, disse o advogado Estevão da Cunha. Ele recebeu uma reprimenda e quase foi preso por gritar “violência não”.

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