16/8/2013, Pepe Escobar, Asia Times Online
http://www.atimes.com/atimes/Middle_East/MID-04-160813.html
http://www.atimes.com/atimes/Middle_East/MID-04-160813.html
Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu
Escrevi em outro artigo[1] que o que está acontecendo no Egito é um banho de sangue que não é banho de sangue, promovido por uma junta militar responsável por um golpe que não é golpe, sob o disfarce de uma “guerra ao terror” à egípcia. Mas esse gambito em novilíngua – que facilmente pode ter sido escrito na Casa Branca – é só parte do quadro.
Sob o denso nevoeiro de opiniões e agendas concorrentes, um fato impressionante se destaca. Pesquisa feita há apenas dez dias, pelo Egyptian Center for Media Studies and Public Opinion já mostrava que 69% dos egípcios opunham-se ao golpe militar de 3 de julho orquestrado pelo pinochetesco Abdel Fattah al-Sisi.[2]
O banho de sangue que não é banho de sangue, pois, não pode de modo algum ser considerado legítimo – se não por um bando de mubarakistas privilegiados (os chamados fulool), grupelho de oligarcas corruptos e o “estado profundo” egípcio controlado pelos militares.
O governo da Fraternidade Muçulmana liderado por Morsi pode ter sido supremamente incompetente – tentando re-escrever a Constituição; incitando os fundamentalistas linha duríssima; e curvado em reverência ante o Fundo Monetário Internacional. Mas não se pode esquecer que tudo isso veio junto com sabotagem total, permanente, pelo “estado profundo”.[3]
É verdade que o Egito estava – e continua – à beira do total colapso econômico; o banho de sangue que não é banho de sangue sobreveio depois de uma mudança em quem assinava os cheques, antes os qataris, agora os sauditas (e os Emirados Árabes Unidos). Como Spengler já demonstrou nesse portal (ver “Islam's civil war moves to Egypt”, Asia Times Online, 8/7/2013[4]), o Egito permanecerá uma república de bananas sem bananas e dependente de estrangeiros até para comer banana. O desastre econômico não se apaga – e tampouco se apaga o ressentimento cósmico dos Irmãos da Fraternidade Muçulmana.
Vencedor, no pé em que estão as coisas é o eixo Casa de Saud/Israel/Pentágono. Como conseguiram?
Na dúvida, chame Bandar
Em teoria, Washington tinha (relativo) controle tanto sobre a Fraternidade Muçulmana como sobre o exército de Sisi. Assim, na superfície, é situação de ganha-ganha. De fato, os falcões de Washington são pró-exército de Sisi, enquanto os “imperialistas liberais” são pró-Fraternidade; é a cobertura perfeita, porque a Fraternidade Muçulmana é islamista, local, populista, economicamente neoliberal, quer trabalhar com o FMI e não ameaçou Israel.
A Fraternidade Muçulmana não é exatamente um problema nem para Washington nem para Telavive; e os hiper ambiciosos qataris ali estavam como leva-e-traz. A política externa do Qatar, como todos sabem, resume-se a agir como torcida organizada dos Irmãos, por todos os cantos.
Daí se conclui que Morsi deve ter cruzado alguma linha vermelha muito séria. Pode ter sido a conclamação para que os sunitas egípcios se unissem em jihad contra o governo de Bashar al-Assad na Síria (embora, nisso, estivessem formalmente sintonizados com a política de “Assad tem de sair” de Barack Obama). Pode ter sido talvez o estímulo que Morsi deu à instalação de uma espécie de paraíso jihadista, do Sinai até Gaza. O Sinai, para todas as finalidades práticas, é governado por Israel.[5] Tudo isso sugere que Pentágono e Telavive podem ter dado luz verde para o golpe.
Telavive vive em perfeita harmonia com o exército de Sisi e os apoiadores sauditas da junta militar. A única coisa que conta, para Israel, é que o exército de Sisi manterá os acordos de Camp David. A Fraternidade Muçulmana talvez tivesse outras ideias para o futuro imediato.
Mas para a Casa de Saud, essa jamais foi situação de ganha-ganha. A Fraternidade no poder no Egito era anátema. Nesse facinoroso triângulo –Washington, Telavive e Riad – ainda falta determinar quem é o mais ardiloso no departamento rabo-que-sacode-o-cachorro.
E onde entra a cena inacreditável do “Qatar que Desapareceu”. A ascensão e (súbita) queda do Qatar, da ribalta da política externa, estão diretamente conectadas ao atual vácuo de liderança no “arco de instabilidade” que o Pentágono definiu. O Qatar era no máximo figurante em filme arrasa-quarteirão – considerando os movimentos de iô-iô que o governo Obama e Rússia e China estão jogando, em ritmo de espera.
Sheikh Hamad al-Thani, o emir que terminou por se autodepor, claramente se excedeu, não só na Síria mas também no Iraque; estava financiando aliados dos Irmãos, mas também financiava jihadistas de linha ultra dura por todo o deserto. Não há provas, porque ninguém fala nem em Doha nem em Washington, mas tudo faz crer que o emir foi “convidado” a autoderrubar-se do trono. E não por acaso, os ‘rebeldes’ sírios passaram a ser completamente comandados pela Casa de Saud, via Bandar Bush, também conhecido como príncipe Bandar bin Sultan, espetacularmente ressuscitado.
Os vencedores foram mais uma vez os sauditas – com o governo Obama estimando que ambas, a Fraternidade Muçulmana e a nuvem al-Qaeda, já teriam, nessa altura, caído no esquecimento na Síria. Isso ainda não está definido. É possível que doravante o Egito passe a atrair muitos jihadistas saídos da Síria. De um modo ou de outro, permanecerão no MENA (Middle East-Northern Africa/Oriente Médio-Norte da África).
Sisi parece ter sido esperto o bastante para se apropriar do tema “terror” e difundir, preventivamente, a equação Fraternidade = al-Qaeda no Egito, construindo assim o cenário para o banho de sangue que não é banho de sangue. O resumo da história é que se pode conjecturar que o governo Obama, de fato, terceirizou sua política para o Oriente Médio, entregando-a à Casa de Saud.
Escolha o seu eixo
Apenas dois dias antes do banho de sangue que não é banho de sangue, o Comandante do Estado-maior das Forças Conjuntas dos EUA [orig. Chairman of the Joint Chiefs of Staff], general Martin Dempsey, estava em Israel confraternizando com o general Benny Gantz e o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e discutindo as proverbiais “ameaças que podem emanar da região – globalmente e para a pátria-mãe – e como continuar a trabalhar juntos para tornar nossos dois países mais seguros.” É inconcebível que não tenham discutido o que ambos teriam a extrair, como lucros, do (então) iminente banho de sangue que não é banho de sangue.
Ao mesmo tempo, o ministro da Defesa de Israel Moshe Ya'alon anunciava bombasticamente um novo “eixo do mal”: Irã, Síria e Líbano.[6] Reuniu Teerã, Damasco e, significativamente, Beirute (tudo, não só os subúrbios do sul da cidade, predominantemente xiitas). Ya'alon disse explicitamente a Dempsey que esse pessoal “está proibido” de vencer a guerra civil na Síria.
Considerando que a própria CIA já avalia a guerra civil na Síria como “alta ameaça” à segurança nacional dos EUA no caso de grupos aliados e assemelhados à al-Qaeda virem a predominar num eventual quadro pós-Assad; e que, simultaneamente, Washington reluta muito a abandonar a posição de “liderar pela retaguarda”, pode-se conjecturar que Israel planeje invadir outra vez o Líbano. Sempre alerta, Nassan Nasrallah, secretário-geral do Hezbollah, já falou sobre a possibilidade.[7]
De Israel, Dempsey foi à Jordânia – que sempre mantém por perto 1.000 soldados dos EUA, F-16s e respectivas tripulações e um sortimento de mísseis Patriot. Dizem os boatos que o Pentágono está ajudando Amã com “técnicas de controle de fronteiras”, uma das siglas preferidas do Pentágono, ISR ("intelligence, surveillance and reconnaissance"/inteligência, vigilância e reconhecimento).
São boatos. Dempsey só passou por lá para supervisionar os progressos da distribuição dos novos mísseis antitanques comprados – e quem poderia ser? – pelos sauditas e fornecidos pela CIA, via Jordânia, a seletos “bons rebeldes” no sul da Síria. Esses ‘rebeldes’, por falar deles, foram treinados por Forças Especiais dos EUA dentro da Jordânia. Não há dúvidas de que Damasco preparará um contragolpe a essa ofensiva do eixo EUA/Sauditas/Jordânia.
Escolha seu mal
Já praticamente não existe “credibilidade dos EUA” no Oriente Médio – exceto em entidades fantoches como a Jordânia e entre seletas elites no Golfo feudal, aquele reino “democrático” de corruptos, mercenários e proletários importados tratados como gado.
Pouco ajuda que o secretário de Estado John Kerry tenha indicado Robert Ford, ex-embaixador dos EUA na Síria, para o posto de embaixador dos EUA no Egito.
A reputação precede o homem. A opinião bem informada em todo o Oriente Médio imediatamente identifica Ford como sinistro facilitador de esquadrões da morte. Seu currículo antes da Síria – onde legitimou os ‘rebeldes’ – é insuperável: foi braço direito do famigerado John Negroponte que promoveu a “Salvador Option” no Iraque em 2004. “Salvador Option” é nome-código dos esquadrões da morte patrocinados pelos EUA, tática que foi aplicada pela primeira vez em El Salvador (por Negroponte) nos anos 1980s (e que fez, no mínimo, 75 mil mortos) mas cujas origens profundas jazem na América Latina, do final dos anos 1960s e durante os anos 1970s.
Sisi segue jogando seu jogo, seguindo seu próprio plano máster – insuflar a narrativa mítica de que o exército egípcio defende a nação e suas instituições, quando, de fato, só defende seus vastos privilégios socioeconômicos. Esqueçam qualquer supervisão civil. E esqueçam também qualquer possibilidade de partido – ou movimento – político independente no Egito.
Do ponto de vista de Washington, tanto faz a Fraternidade Muçulmana, ou “estado profundo”, e não faz diferença, sequer, uma guerra civil no Egito – árabes matando árabes, dividir para governar ad infinitum: tudo estará sempre tudo bem, desde que nada ameace Israel.
Com Israel possivelmente já cerebrando outra invasão ao Líbano; com o “processo de paz” de Kerry como desculpa para construir mais colônias na Palestina; com Bandar Bush praticando suas artes obscuras; com qualquer possível solução para o dossiê nuclear iraniano já devidamente evitada; com o Egito em guerra civil; com a Síria e também o Iraque sangrando sem parar, só resta, garantida, a proliferação de todos os tipos de eixo e de todos os tipos de mal.
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Escrevi em outro artigo[1] que o que está acontecendo no Egito é um banho de sangue que não é banho de sangue, promovido por uma junta militar responsável por um golpe que não é golpe, sob o disfarce de uma “guerra ao terror” à egípcia. Mas esse gambito em novilíngua – que facilmente pode ter sido escrito na Casa Branca – é só parte do quadro.
Sob o denso nevoeiro de opiniões e agendas concorrentes, um fato impressionante se destaca. Pesquisa feita há apenas dez dias, pelo Egyptian Center for Media Studies and Public Opinion já mostrava que 69% dos egípcios opunham-se ao golpe militar de 3 de julho orquestrado pelo pinochetesco Abdel Fattah al-Sisi.[2]
O banho de sangue que não é banho de sangue, pois, não pode de modo algum ser considerado legítimo – se não por um bando de mubarakistas privilegiados (os chamados fulool), grupelho de oligarcas corruptos e o “estado profundo” egípcio controlado pelos militares.
O governo da Fraternidade Muçulmana liderado por Morsi pode ter sido supremamente incompetente – tentando re-escrever a Constituição; incitando os fundamentalistas linha duríssima; e curvado em reverência ante o Fundo Monetário Internacional. Mas não se pode esquecer que tudo isso veio junto com sabotagem total, permanente, pelo “estado profundo”.[3]
É verdade que o Egito estava – e continua – à beira do total colapso econômico; o banho de sangue que não é banho de sangue sobreveio depois de uma mudança em quem assinava os cheques, antes os qataris, agora os sauditas (e os Emirados Árabes Unidos). Como Spengler já demonstrou nesse portal (ver “Islam's civil war moves to Egypt”, Asia Times Online, 8/7/2013[4]), o Egito permanecerá uma república de bananas sem bananas e dependente de estrangeiros até para comer banana. O desastre econômico não se apaga – e tampouco se apaga o ressentimento cósmico dos Irmãos da Fraternidade Muçulmana.
Vencedor, no pé em que estão as coisas é o eixo Casa de Saud/Israel/Pentágono. Como conseguiram?
Na dúvida, chame Bandar
Em teoria, Washington tinha (relativo) controle tanto sobre a Fraternidade Muçulmana como sobre o exército de Sisi. Assim, na superfície, é situação de ganha-ganha. De fato, os falcões de Washington são pró-exército de Sisi, enquanto os “imperialistas liberais” são pró-Fraternidade; é a cobertura perfeita, porque a Fraternidade Muçulmana é islamista, local, populista, economicamente neoliberal, quer trabalhar com o FMI e não ameaçou Israel.
A Fraternidade Muçulmana não é exatamente um problema nem para Washington nem para Telavive; e os hiper ambiciosos qataris ali estavam como leva-e-traz. A política externa do Qatar, como todos sabem, resume-se a agir como torcida organizada dos Irmãos, por todos os cantos.
Daí se conclui que Morsi deve ter cruzado alguma linha vermelha muito séria. Pode ter sido a conclamação para que os sunitas egípcios se unissem em jihad contra o governo de Bashar al-Assad na Síria (embora, nisso, estivessem formalmente sintonizados com a política de “Assad tem de sair” de Barack Obama). Pode ter sido talvez o estímulo que Morsi deu à instalação de uma espécie de paraíso jihadista, do Sinai até Gaza. O Sinai, para todas as finalidades práticas, é governado por Israel.[5] Tudo isso sugere que Pentágono e Telavive podem ter dado luz verde para o golpe.
Telavive vive em perfeita harmonia com o exército de Sisi e os apoiadores sauditas da junta militar. A única coisa que conta, para Israel, é que o exército de Sisi manterá os acordos de Camp David. A Fraternidade Muçulmana talvez tivesse outras ideias para o futuro imediato.
Mas para a Casa de Saud, essa jamais foi situação de ganha-ganha. A Fraternidade no poder no Egito era anátema. Nesse facinoroso triângulo –Washington, Telavive e Riad – ainda falta determinar quem é o mais ardiloso no departamento rabo-que-sacode-o-cachorro.
E onde entra a cena inacreditável do “Qatar que Desapareceu”. A ascensão e (súbita) queda do Qatar, da ribalta da política externa, estão diretamente conectadas ao atual vácuo de liderança no “arco de instabilidade” que o Pentágono definiu. O Qatar era no máximo figurante em filme arrasa-quarteirão – considerando os movimentos de iô-iô que o governo Obama e Rússia e China estão jogando, em ritmo de espera.
Sheikh Hamad al-Thani, o emir que terminou por se autodepor, claramente se excedeu, não só na Síria mas também no Iraque; estava financiando aliados dos Irmãos, mas também financiava jihadistas de linha ultra dura por todo o deserto. Não há provas, porque ninguém fala nem em Doha nem em Washington, mas tudo faz crer que o emir foi “convidado” a autoderrubar-se do trono. E não por acaso, os ‘rebeldes’ sírios passaram a ser completamente comandados pela Casa de Saud, via Bandar Bush, também conhecido como príncipe Bandar bin Sultan, espetacularmente ressuscitado.
Os vencedores foram mais uma vez os sauditas – com o governo Obama estimando que ambas, a Fraternidade Muçulmana e a nuvem al-Qaeda, já teriam, nessa altura, caído no esquecimento na Síria. Isso ainda não está definido. É possível que doravante o Egito passe a atrair muitos jihadistas saídos da Síria. De um modo ou de outro, permanecerão no MENA (Middle East-Northern Africa/Oriente Médio-Norte da África).
Sisi parece ter sido esperto o bastante para se apropriar do tema “terror” e difundir, preventivamente, a equação Fraternidade = al-Qaeda no Egito, construindo assim o cenário para o banho de sangue que não é banho de sangue. O resumo da história é que se pode conjecturar que o governo Obama, de fato, terceirizou sua política para o Oriente Médio, entregando-a à Casa de Saud.
Escolha o seu eixo
Apenas dois dias antes do banho de sangue que não é banho de sangue, o Comandante do Estado-maior das Forças Conjuntas dos EUA [orig. Chairman of the Joint Chiefs of Staff], general Martin Dempsey, estava em Israel confraternizando com o general Benny Gantz e o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e discutindo as proverbiais “ameaças que podem emanar da região – globalmente e para a pátria-mãe – e como continuar a trabalhar juntos para tornar nossos dois países mais seguros.” É inconcebível que não tenham discutido o que ambos teriam a extrair, como lucros, do (então) iminente banho de sangue que não é banho de sangue.
Ao mesmo tempo, o ministro da Defesa de Israel Moshe Ya'alon anunciava bombasticamente um novo “eixo do mal”: Irã, Síria e Líbano.[6] Reuniu Teerã, Damasco e, significativamente, Beirute (tudo, não só os subúrbios do sul da cidade, predominantemente xiitas). Ya'alon disse explicitamente a Dempsey que esse pessoal “está proibido” de vencer a guerra civil na Síria.
Considerando que a própria CIA já avalia a guerra civil na Síria como “alta ameaça” à segurança nacional dos EUA no caso de grupos aliados e assemelhados à al-Qaeda virem a predominar num eventual quadro pós-Assad; e que, simultaneamente, Washington reluta muito a abandonar a posição de “liderar pela retaguarda”, pode-se conjecturar que Israel planeje invadir outra vez o Líbano. Sempre alerta, Nassan Nasrallah, secretário-geral do Hezbollah, já falou sobre a possibilidade.[7]
De Israel, Dempsey foi à Jordânia – que sempre mantém por perto 1.000 soldados dos EUA, F-16s e respectivas tripulações e um sortimento de mísseis Patriot. Dizem os boatos que o Pentágono está ajudando Amã com “técnicas de controle de fronteiras”, uma das siglas preferidas do Pentágono, ISR ("intelligence, surveillance and reconnaissance"/inteligência, vigilância e reconhecimento).
São boatos. Dempsey só passou por lá para supervisionar os progressos da distribuição dos novos mísseis antitanques comprados – e quem poderia ser? – pelos sauditas e fornecidos pela CIA, via Jordânia, a seletos “bons rebeldes” no sul da Síria. Esses ‘rebeldes’, por falar deles, foram treinados por Forças Especiais dos EUA dentro da Jordânia. Não há dúvidas de que Damasco preparará um contragolpe a essa ofensiva do eixo EUA/Sauditas/Jordânia.
Escolha seu mal
Já praticamente não existe “credibilidade dos EUA” no Oriente Médio – exceto em entidades fantoches como a Jordânia e entre seletas elites no Golfo feudal, aquele reino “democrático” de corruptos, mercenários e proletários importados tratados como gado.
Pouco ajuda que o secretário de Estado John Kerry tenha indicado Robert Ford, ex-embaixador dos EUA na Síria, para o posto de embaixador dos EUA no Egito.
A reputação precede o homem. A opinião bem informada em todo o Oriente Médio imediatamente identifica Ford como sinistro facilitador de esquadrões da morte. Seu currículo antes da Síria – onde legitimou os ‘rebeldes’ – é insuperável: foi braço direito do famigerado John Negroponte que promoveu a “Salvador Option” no Iraque em 2004. “Salvador Option” é nome-código dos esquadrões da morte patrocinados pelos EUA, tática que foi aplicada pela primeira vez em El Salvador (por Negroponte) nos anos 1980s (e que fez, no mínimo, 75 mil mortos) mas cujas origens profundas jazem na América Latina, do final dos anos 1960s e durante os anos 1970s.
Sisi segue jogando seu jogo, seguindo seu próprio plano máster – insuflar a narrativa mítica de que o exército egípcio defende a nação e suas instituições, quando, de fato, só defende seus vastos privilégios socioeconômicos. Esqueçam qualquer supervisão civil. E esqueçam também qualquer possibilidade de partido – ou movimento – político independente no Egito.
Do ponto de vista de Washington, tanto faz a Fraternidade Muçulmana, ou “estado profundo”, e não faz diferença, sequer, uma guerra civil no Egito – árabes matando árabes, dividir para governar ad infinitum: tudo estará sempre tudo bem, desde que nada ameace Israel.
Com Israel possivelmente já cerebrando outra invasão ao Líbano; com o “processo de paz” de Kerry como desculpa para construir mais colônias na Palestina; com Bandar Bush praticando suas artes obscuras; com qualquer possível solução para o dossiê nuclear iraniano já devidamente evitada; com o Egito em guerra civil; com a Síria e também o Iraque sangrando sem parar, só resta, garantida, a proliferação de todos os tipos de eixo e de todos os tipos de mal.
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