Arena das Dunas colocou somente 12 mil ingressos a venda?

Estive na inauguração da Arena das Dunas ontem.  Devo começar relatando isso para, em seguida, destacar algo que está me chamando a atenção.
Comprei os ingressos pelo site da Arena na última quinta-feira, à noite.  Houve um atraso de praticamente dois dias na venda dos ingressos devido aos problemas com Habite-se do novo estádio (entre outras coisas, segundo me foi informado, as portas dos banheiros não têm largura suficiente para acesso de caldeirantes).  
Na terça-feira, ao anunciar o início das vendas, o governo do estado e a concessionária informaram que haveria cinco mil cortesias para os dois jogos na abertura.  Desse modo, segundo o que foi dito, dos 32 mil lugares disponíveis, aproximadamente 27 mil estariam à venda.
O voucher impresso após a minha compra informava que eu precisaria ir à bilheteria 2 do estádio para realizar a troca de meus ingressos.  Ao chegar ao estádio, na sexta à tarde, descobri que não havia bilheteria 2.  Apenas aquela que, antes, estaria destinada à venda e à troca de ingressos para os torcedores americanos.  Fiquei alguns minutos na fila e imaginei que no sábado ou domingo as filas diminuiriam à medida que os ingressos se esgotassem.
No sábado, em sua página no Facebook, a Arena das Dunas informou que os ingressos estavam esgotados nos locais de venda que estariam disponíveis apenas para troca de vouchers dos ingressos vendidos pela Internet - "os últimos ingressos", segundo a nota.
Fui trocar os ingressos no domingo de manhã.  Sem nenhum fila.  Em todos os lugares visíveis da bilheteria cartazes informavam que os ingressos estavam esgotados.  Ali no estádio, ingressos, somente com cambistas.
À tarde, assisti ao primeiro tempo do jogo América e Confiança pela tevê, no Esporte Interativo.  Muitos vazios no lado americano da torcida.  Comecei a achar que os ingressos haviam morrido nas mãos dos cambistas.
Fui para o estádio e lá tive certeza de que os ingressos tinha se acabado com os cambistas, uma vez que a torcida do ABC, durante o jogo com o Alecrim, conseguia estar ainda mais vazia que a do América.
Ingresso ser vendido e não ser usado não é incomum.  Na Copa das Confederações, por exemplo, fui assistir Brasil e México no Castelão, em Fortaleza.  Apesar de a renda oficial contabilizar a venda da totalidade dos ingressos, havia muitos espaços vazios no meio das cadeiras.
O que me chamou a atenção é que, ao anunciar o público oficial, a Arena das Dunas informou 16.552 pagantes e público total de 19.244 pessoas. Dentre 16.552 pagantes, 3.749 pessoas não compraram ingressos. Eram os sócios-torcedores de ABC e de América.  Você pode ver os números oficiais de renda e público dos jogos aqui.
O que aconteceu aos quase oito mil ingressos?  Ficaram com cambistas que não puderam vendê-los?  Por que foi anunciada a venda total dos ingressos e, depois, os números oficiais (e a constatação visual evidente de quem esteve no estádio) mostraram que não foram vendidos 27 mil ingressos nem havia 32 mil pessoas?  Quantos ingressos foram, efetivamente, colocados a venda?
Fica uma suspeita, a partir dos dados publicados pela própria Federação de Futebol:



Perceba que existem vários custos, inclusive impostos, que são variáveis de acordo com o valor da renda.  A federação fica com 8% da renda (ou R$ 37.538,40).  Há recolhimento de INSS sobre 5% da renda bruta (R$ 23.461,50), seguro de público pagante (cinco centavos por pessoa para a Copa do Nordeste e oito centavos no Campeonato Potiguar).   Tais custos variáveis ficaram em R$ 63.729,62.
Imagine que a carga de ingressos tenha sido 27 mil, como havia anunciado a Arena das Dunas, e todos efetivamente tivessem sido vendidos.  Quanto seria esse custo variável, boa parte tributos?
Uma regra de três simples daria como renda aproximadamente R$ 658 mil, em vez dos R$ 469 mil.
Os cinco por cento de INSS sobre a renda bruta dariam R$ 32.917,29.  Os oito por cento da federação seriam R$ 52.667,59.  E os seguros pagos seriam de R$ 3.510,00.  Nesse caso os custos variáveis seriam de R$ 89.094,88, quase R$ 25 mil a mais.  A renda líquida, evidentemente, também seria maior, superando os R$ 300 mil.
Há algumas possibilidades de se explicar os fatos relatados acima.  Um deles envolve os sócios torcedores de ABC e América.  A Arena pode ter posto a venda apenas 12.803 ingressos (os que foram vendidos, segundo os números oficiais) e reservado os demais (em torno de 14 mil) para os sócios torcedores dos dois times, que não precisariam retirar os ingressos, acessando o estádio com suas carteiras.  Resta a dúvida.
Mas olhar os números oficiais do jogo me fizeram querer entender o que representariam os R$ 212.505,55 descontados da renda do jogo na rubrica genérica "despesas administrativas".  Até porque a concessionária já recebe, mensalmente, uma contraprestação do governo do Estado no valor de R$ 9.125.000,00 (nove milhões, cento e vinte cinco mil reais), entendo, para a manutenção e administração do estádio.  Ou estou errado?  Se é isso, o que estariam abarcados nessa rubrica "despesas administrativas"?  E por que a FNF e os times não pagaram o aluguel do estádio que, segundo a planilha, corresponderia a 10% da renda?


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