Por Aline Moura
No Facebook
De início, claro, fiquei chocada de tão surreal. Mais parecia aquelas notícias bizarras que compartilhamos no Facebook. Passei ainda dois dias refletindo se estaria certa em me sentir mal com a situação. Afinal, o opressor sempre tenta te convencer que você é que é exagerada, como naquele texto “As feministas é que são chatas” (http://www.alinevalek.com.br/blog/2012/07/as-feministas-e-que-sao-chatas/). A culpa é sempre de quem se sente oprimida com uma piada "ingênua". Porque, obviamente, racismo ou machismo são coisas que não existem no Brasil. Quero deixar bem claro que, pra mim, o pior racista não é aquele que compara uma pessoa a um macaco. O pior racista é aquele que não se acha racista porque tem amigos pretos. O pior racista é aquele que perpetua hábitos discriminatórios, mas se ofende quando chamado como tal. O pior racista é aquele que vê um amigo cometendo um ato criminoso (racismo é crime pra quem não sabe) e tenta AMENIZAR a situação. O pior racista é aquele que se omite. O pior racista é aquele que diz: “Fala mais baixo porque o garçom também é negro”. Tudo bem proferir comentários racistas desde que o garçom que está lhe servindo não escute. Esta é a forma do racista ser gentil: conhecer os garçons pelo nome, mas não se importar que o amigo faça “piadas” racistas. Até porque somente um negro deve se ofender com uma “piada” racista. Daí eu lembro que nem sou tão preta assim.
A pior decepção não foi essa tentativa idiota de me desestabilizar. Nem de longe. A maior decepção foi descobrir que esse grupo já tinha o estranho hábito de discriminar as pessoas pela cor de pele. Já tinha o inútil hábito de me discriminar. Eu estudei quatro anos na UFC com duas pessoas que têm o mesmo nome que o meu: Aline. Durante esse tempo, e até o fatídico dia, nunca vi alguém achar necessário recorrer ao tom de pele para se referir a uma de nós. Sabe a Aline Preta? Isso. Ela mesma. Agradeço aos meus colegas de turma por me deixarem mal acostumada. Realmente nunca tinha sentido o gostinho da discriminação. Se houve, foi aquela discriminação gentil: tudo bem existir, desde que a pessoa não saiba. O problema é que soltaram na minha frente e as máscaras caíram. Uma pena! São pessoas tão legais. Realmente, mas legais pra quem? Nesse momento, alguns devem estar confusos, outros putos. “Mas ela nem é tão preta assim”.
O que é irônico é que muitos desses Brancos Classe Média Bem Nascidos são fãs de Clube da Luta ou choram com À Espera de um Milagre. Então, deixa eu dar um aviso aos navegantes: Tyler Durden cuspiria na cara de vocês, além de urinar na sua comida, é claro. Como o próprio diria: “Nós cozinhamos, limpamos e fazemos ligações para você. Dirigimos suas ambulâncias e olhamos para você enquanto dorme. Não nos aborreça”. Se você gosta desse filme por achar que se trata de um monte de cara se batendo, eu sinto em te avisar que, além de um idiota, você não é lá muito inteligente. Só para esclarecer, eu sou egressa de escola pública e moradora da Periferia, mas nunca fiz questão de entoar isso aos quatro ventos porque realmente não me era necessário. Tanto que a maioria das pessoas não sabe. “Oi, eu sou Aline, Egressa de Escola Pública Moradora da Periferia Classe C. E você?”. Completamente desnecessário. Mas se vocês fazem tanta questão... Daqui pra frente serei Aline Preta Pobre e Favelada. Obrigada!
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