Para nós que vivemos na tal cidade de Lamatown



Não sou um bom autor de resenhas. Especialmente de peças. Mas preciso escrever sobre minhas impressões de “Lamatown – Quando a lama virou mar”, um dos espetáculos em exibição nos palcos do Natal em Natal.

O texto de Clotilde Tavares e a direção de Henrique Fontes me deixaram profundamente impactado pela crítica nem tão sutil à sociedade da capital potiguar - uma cidade em que "ninguém se dá muito mal", como já dizia Pedrinho Mendes.

Corrupção, condescendência social, pancada na cultura de eventos como Carnatal. Crítica intensa aos nossos governantes - o que se torna mais surpreendente uma vez que o espetáculo, realizado pela Casa da Ribeira, foi contemplado pelo edital Natal em Cena, da prefeitura de Lamatown, digo, Natal.

Lamatown é uma cidade que se organiza social e economicamente em torno da lama. Todos ganham com a Lama, inclusive a presidenta do sindicato das lavadeiras. Aliás, o sindicato das lavadeiras faz lembrar, invariavelmente, alguns sindicatos da cidade, como o dos motoristas de ônibus - inclusive nas negociações para o fim de greves.

E o fim, apoteótico, nos leva para dentro da Arena das Dunas nos dias de Carnatal, "na tal cidade de Lamatown".

Porque o poder não morre. Ele se muda.

Imperdível.

Ainda estou absorto e embasbacado com o que vi, na noite de estreia que foi atrapalhada um tanto pela chuva. Nada mais lógico que a chuva atrapalhasse a lama.



O espetáculo “Lamatown – Quando a lama virou mar” será apresentado hoje na Árvore de Mirassol às 19h. No próximo fim de semana (dias 11, 12 e 13) no estacionamento do ginásio Nélio Dias, também às 19h, e na Praça Matriz da Cidade da Esperança (18, 19 e 20, às 20h).