Se os tucanos querem sangrar Dilma, a esquerda tem que defender sua agenda

Meu pai foi candidato a governador do RN, pelo PT, em 1982. Não lembro dessa eleição - tinha três anos.
Minha primeira eleição - aquela da qual me lembro - foi a de 89. Aos 10 anos, me esforcei pedindo voto para Lula.  Perdi e chorei.
Perdi também em 90, 92, 94, 96, 98 e 2000, até que venci a primeira eleição em 2002, nas ruas e nas urnas com Lula.
Depois venci em 2006, 2010 e 2014, mas perdi também em 2004, 2008 e 2012.
Perdi 10 vezes, venci 5 vezes. Nunca pedi nada parecido com impeachment pelo despeito de perder uma eleição.  Acho que sei perder. Faz parte do jogo.
Nossa aristocrática elite, que bate panelas e xinga de vagabunda a presidenta da República, não sabe perder eleições. Grita, despeitadamente, o #ForaDilma.
Em 2011 e 2012, eu publiquei muitos posts com a hashtag #ForaMicarla. Ali, tinhamos uma prefeita tão enrolada em esquemas de corrupção que alcançou 95% de reprovação popular e não terminou o mandato, afastada pela justiça.
Hoje, temos uma presidenta reeleita por 54 milhões de eleitores, com dois meses de governo, contra quem não existe nenhuma investigação. Querer tirá-la é birra de quem não aprendeu a perder eleições.
Por isso, também, não estou preocupado com o legítimo exercício de expressão de quem acha que pode ganhar no grito.  Estive nervoso na campanha, com a possibilidade de perder a eleição, agora não. Acabou a eleição.
Quem quiser arcar com o golpe que arque com suas consequências.
O impeachment só é viável se:
1. Houver o mínimo fato jurídico (que eventualmente poderia surgir, por exemplo, na CPI da Petrobras);
2. Ele tem de ser aprovado na Câmara, cheia de investigados pela Lava Jato e presidida por um deles;
3. O processo é aberto e pode durar 6 meses no Senado, que não seria, então, presidido pelo investigado Renan Calheiros, mas por Ricardo Lewandovsky;
4. Para Dilma ser deposta, 54 senadores teriam de aceitar.
Agora imagina o cenário social que ocorreria durante esse processo?
Organizações sindicais, movimentos sociais irião às ruas com força e organização que só eles têm. O PT não é o PRN, Dilma não é Collor.
Os dois lados sabem disso. O ambiente é político de olho no desgaste e na destruição da esquerda - tornar Dilma e o PT irrelevantes e, inclusive, o discurso da esquerda - até a esquerda de oposição.
Eles querem controlar a pauta e se valer do congresso conservador para governar de fato - sem precisar suplantar Dilma.  Assim como os republicanos ameaçam fazer controlando o Congresso nos dois anos finais de Obama.
Se o governo não se comunica bem - o que é uma crítica recorrente - são os partidos e os movimentos sociais nas ruas que precisam disputar a pauta, a agenda, a política pelos próximos anos.  O governo tem de reagir, sim, mas os partidos e movimentos sociais tem a sua parte a fazer.
E sssa parte não é defender o governo, mas lutar pela nossa pauta - a nossa luta é maior que nossos partidos: reforma política democrática, avanço na reforma agrária, direitos das minorias, reforma da mídia, defesa da Petrobras e do Pré-sal, etc.
Aí reside a força da importância dos eventos do dia 13, sexta-feira, em defesa da democracia e da Petrobras.
Essa análise que tracei acima é confirmada com as declarações de dois líderes da oposição.  O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse "que a saída de Dilma Rousseff não irá resolver a crise política por que passa o governo. 'Não adianta nada tirar a presidente', disse.
O "senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) – ex-candidato a vice na chapa de Aécio Neves– também disse ser contra o impeachment. O tucano afirmou que prefere ver a petista 'sangrar' nos próximos quatro anos, quando encerrará o seu segundo mandato.  'Não quero que ela saia, quero sangrar a Dilma, não quero que o Brasil seja presidido pelo Michel Temer (PMDB)', disse Nunes Ferreira. Ele é defensor dos protestos agendados para este domingo (15)".
Em que pese a fala de Aloysio parecer-se com algo dito pela mesma oposição em 2005 - será que a história se repete? -, o fato é que as declarações dos tucanos servem para confirmar as impressões relacionadas acima.
Por isso, às ruas no dia 13.

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