#DesarquivandoBR #DitaduraNuncaMais Rubens Lemos

Rubens Manoel Lemos nasceu no Sítio Pixoré, atualmente município de Santana do Matos (RN), em 7 de junho de 1941. 

Aos 16 anos foi para o Paraná. Um irmão, Osório, havia ido para Querência do Norte, cidade da qual chegou a ser prefeito. Foi o primeiro político da família Lemos.

Começou a trabalhar em rádio e jornal em 1958, ingressando na Radio Londrina e na Folha de Londrina. Com 19 anos já era editor do segundo caderno do jornal, função que ocupou por 6 anos.

Começou fazendo esportes e terminou passando por todas as editorias e escalões do jornalismo.

Depois, recebeu o convite para ser o chefe de reportagem do jornal Ultima Hora, de Samuel Wainer. Dividiu a redação com Samuel Wainer e Nilson Rimoli, os dois maiores jornalistas que, segundo ele, conheceu. Paralelamente, ao trabalho no Jornal, Rubens Lemos fazia rádio. Agitador e contestador, liderou então o primeiro movimento grevista do rádio brasileiro, paralisando por oito dias uma das principais emissoras do Paraná, ao lado de 23 companheiros. Surgia ali o guerrilheiro urbano.

Em 1964, aos 22 anos assumiu a direção da principal emissora do Paraná, a Rádio Atalaia de Maringá e, posteriormente, a rádio Atalaia de Londrina. Foi exatamente quando veio o Golpe Militar. Rubens se posicionou contra a ditadura. A sua rádio não se submeteu às imposições dos militares. Em represália, a emissora foi tirada do ar. Com prisão decretada,passou a se esconder dos militares. Foi para o Mato Grosso do Sul, atrás de um irmão, mas ao chegar lá ele já estava preso por questões políticas.

Retornou para Natal, onde se refugiou.

Trabalhou nos jornais da cidade. Na rádio, fazia programa que intercalava música e política (A grande parada) e comentava futebol. Com isenção, apesar de torcedor do ABC. Uma das cabines de imprensa do estádio Frasqueirão, do clube alvinegro de Natal, leva seu nome.

Rubens Lemos ajudou a organizar a Ação Libertadora Nacional, de Marighella, no estado. Depois, rompeu e se organizou o Partido Comunista Brasileiro Revolucionário – PCBR, a convite do advogado Juliano Siqueira. Caiu na clandestinidade quando um aparelho do PCBR foi desbaratado e lá constava uma lista de aparelhos pelo Nordeste – dentre os quais um, no RN, tinha Rubens como fiador no contrato do aluguel.

Mandou sua primeira esposa e três filhos de volta para o Paraná. Pouco tempo depois, fugiu de um cerco policial e conseguiu, a duras penas, chegar ao exílio no Chile. Não sem antes passar fome no Rio e em São Paulo, ser desprezado pela família, fugir para o Uruguai disfarçado de torcedor do Palmeiras, encontrar o ex-prefeito de Natal Djalma Maranhão e o presidente deposto João Goulart.

No exílio viveu situações inusitadas, como receber entre os companheiros um brasileiro supostamente membro do PCBR. Desconfiados, revistaram sua mala e encontraram uma passagem aérea de volta ao país. Quem se exila com passagem de volta? Anos depois, Rubens Lemos encontrou esse brasileiro entre seus interrogadores nos aparelhos da repressão ditatorial.

Voltou ao Brasil, em 73, antes do golpe de Pinochet, com a missão de retirar um companheiro da organização do país. Para isso, trouxe dólares que precisavam ser trocados. Havia também uma missão de imprimir material da organização para a propaganda revolucionária. Encontrado, o companheiro que devia sair do país pediu-lhe um tempo para que pudesse participar de uma ação conjunta com outras organizações prevista para se realizar em São Paulo. Àquela altura, a luta armada urbana estava sendo destroçada e as organizações se uniam para ações conjuntas.

Saudoso da família, Rubens veio para Natal onde, primeiro, ficou hospedado com um primo, Aldemir Lemos, conhecido como o Velho pela esquerda potiguar. Não foi cuidadoso. Nos primeiros dias depois de chegar a Natal, as pessoas encontravam Aldemir e perguntavam por Rubens, pois sabiam que ele estava em Natal.

O material do PCBR foi impresso em um parque gráfico do governo do estado, pelas madrugadas. Era um volume de poesias latino-americanas revolucionárias. Não se conhece que algum exemplar tenha sido preservado até hoje.

Um dia saiu para trocar os dólares e foi preso no bairro do Alecrim.

O companheiro que ele precisava tirar do país foi morto na ação a qual pediu para participar antes de fugir.

Ficou preso por cerca de dois meses, primeiro em Natal e depois no DOI-CODI em Recife. Lá foi torturado todos os dias durante 33 dias. Foi deixado amarrado ao relento no pátio da instituição. Teve dentes quebrados e unhas arrancados. A vilania das torturas o deixou com sequelas no reto e ânus até o fim da vida.

Na prisão, encontrou gente como Mata Machado, líder da AP, que lhe pediu para dizer que morreria mas não havia entregue ninguém.

Um dia, foi posto por engano na mesma cela que um outro preso, mais velho, absolutamente estropiado pela tortura. Disse ao homem uma frase marcante: “Você não vai morrer mesmo que eles lhe matem”.

Chegaram a invadir sua cela, ainda em Natal, homens encapuzados, para executá-lo. Ao ouvirem sua voz, um dos homens o reconheceu do rádio. “Você é Rubens Lemos?”, perguntou. “Sou”. “Ninguém toca nesse”.

Um de seus interrogadores, Cursio Neto, usava o codinome de Dr. Fernando e lia a Bíblia enquanto torturava suas vítimas.

Saiu da cadeia.

Reorganizou o PCBR quando voltou o pluripartidarismo, mas o partido decidiu ingressar no PT como uma de suas correntes.

Em 1982, foi o primeiro candidato a governador pelo PT no RN.

Atuou depois na gestão de Dante de Oliveira na prefeitura de Cuiabá (MT).

Deixou o Diretório Nacional do PT quando seu filho Marcos, também do PCBR, foi preso em uma tentativa de assalto frustada ao Banco do Brasil no campus de Canela da UFBA, em Salvador, na última ação armada que se tem conhecimento no país, já em abril de 1986.

Criticava a Anistia que perdoou torturadores, que nunca foram punidos, e torturados, que sofreram nas mãos de sádicos que agiam em nome do Estado.

Quando, eleito Collor, ele indicou o Brigadeiro Sócrates da Costa Monteiro como comandante da Marinha, Rubens o identificou como um de seus torturadores. Apesar da polêmica nacional gerada pela denúncia, o brigadeiro permaneceu no cargo. Caiu por denúncias de corrupção pouco tempo depois.

Rubens morreu em 1999, dias antes de completar 58 anos de idade, vítima de alcoolismo que, provavelmente era sua forma de lidar com toda a dor que a Ditadura Militar trouxe. A tortura mata a alma.

Deixou sete filhos. Entre eles, eu, o caçula.

Sobre a série premiada que Rubens Lemos escreveu sobre sua experiência no exílio, você pode ler esse artigo: https://periodicos.ufsc.br/index.php/jornalismo/article/view/2201

A série, transcrita, você lê aqui: http://www.dhnet.org.br/verdade/rn/combatentes/rubenslemos/memorias_exilio.htm e aqui: http://www.dhnet.org.br/verdade/rn/combatentes/rubenslemos/memorias_exilio.htm

Sobre o episódio do Brigadeiro Sócrates, você pode ler aqui: https://blogdobarbosa.jor.br/o-bau-de-um-reporter-106/

Um resumo de informações sobre Rubens Lemos pode ser encontrado aqui: http://www.dhnet.org.br/verdade/rn/combatentes/rubenslemos/index.htm#tempo

Aqui, em evento sobre os dez anos da anistia e o lançamento do Comitê pela Vida na OAB em Natal, Rubens fala sobre ditadura e anistia https://youtu.be/yq6t90vcges

E a seguir há vídeos de uma entrevista que Rubens concedeu a Roberto Monte sobre sua vida, militância e prisão. Vídeo 1: https://youtu.be/XLdsKT1Ze8w

Segunda parte da entrevista de Rubens Lemos https://youtu.be/995DFP4xJEA

Terceira parte da entrevista de Rubens Lemos https://youtu.be/AinIxtc9TnE

Quarta parte da entrevista de Rubens Lemos https://youtu.be/FpJu4gn8Aqk

Quinta parte da entrevista de Rubens Lemos https://youtu.be/LlKB894EuEk

Sexta parte da entrevista de Rubens Lemos https://youtu.be/wRayel_5wEc

Imagens da campanha para governador do estado em 1982 https://youtu.be/lwHXk0SeIU4

Sobre a ação do PCBR em Salvador no ano de 1986, Cynara Menezes escreveu no ano passado http://www.socialistamorena.com.br/o-ultimo-assalto-a-banco-da-luta-armada/














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