Sobre os VIPs no Carnaval de Natal

Falar sobre Carnaval, hoje, deveria ser a partir do golden shower do presidente da República, sua reação ao orange shower no Carnaval de rua contra ele. Aprovado por menos que 40% dos brasileiros, o presidente do Laranjal se deu mal em seu primeiro grande teste de rua.
Mas quero falar sobre o Carnaval de Natal.
Natal, cada vez mais, vai à rua celebrar o Carnaval. Dos pólos em que estive, nenhum público supera em número o show do Monobloco no encerramento em Petropólis.
Mas os destaques para mim são outros.
Primeiro, as reações ao show de Antonio Nobrega na segunda, no mesmo pólo. Depois de uma chuva torrencial no fim do show de Rodolfo Amaral, o público se dispersou. O brincante Nobrega, discípulo de Ariano Suassuna, fez um show momesco - até na crítica política.  Com em 2017 em Ponta Negra, ele executou Eu vou pra Saruê, mas agora a letra foi adaptada de Temer para a família do presidente da República e seu Laranjal. O público puxou o grito mais importante da festa no Brasil inteiro: "Ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, Bolsonaro é o carai".
O ato provocou irritação de parte da elite da cidade.  A colunista social Hilneth Correia, que foi investigada como funcionária fantasma da Assembleia Legislativapediu um "fora Antonio Nobrega" no Instagram. Gustavo Negreiros disse que não sabia quem era Nobrega e afirmou que o público foi embora depois disso.
Ao fim do bis, parte da plateia puxou palavras de ordem em defesa do ex-presidente Lula. Nobrega voltou a pegar a rabeca e regeu todo mundo em um "olê, olê, olá, Lula, Lula".
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Mas duas coisas me incomodaram muito no Carnaval de Natal. No sábado fui com minha filha para o Poetas, carecas, bruxas e lobisomens, bloco que ela adora. Ela tem nove anos e desde 2015 estamos sempre por lá no sábado de Carnaval. Acontece que organizaram grades de segurança e disposição das barracas de alimentação de tal maneira que o bloco engarrafou na saída da Praça Ecológica de Ponta Negra. Olhei aquilo e percebi que corria o risco de me machucar e, principalmente, de ela se machucar caso ficássemos no bloco e desisti de seguir. Vi que outras pessoas tomaram decisão parecida. Conversei com alguns que pensaram como eu.  A prefeitura estragou a saída dos blocos desde a Praça em Ponta Negra.
A outra coisa que incomodou é bem mais séria. Em todos os palcos, nos pólos, a prefeitura separou áreas VIPs, reservadas para o prefeito Alvaro Dias, secretários, vereadores e deputados aliados e aspones. Isso é um absurdo. O Carnaval de Natal é uma festa pública, paga com dinheiro público, realizado pela prefeitura da cidade - não uma festa privada, paga pelo dinheiro de uns poucos. Não faz sentido uma festa pública e paga com dinheiro reservar área VIP. Nada pode justificar esse desvio de função.
Se o argumento fosse segurança, na primeira noite da festa encontrei a deputada federal Natália Bonavides (PT) no meio do povo antes do show dos Paralamas do Sucesso.
No show do Monobloco, maior público que vi no Carnaval, encontrei a vereadora Júlia Arruda (PDT) e seu marido Renato Quaresma no meio da multidão. Júlia está grávida.
Nada justifica que o dinheiro público pague para que alguns tenham acesso a lugares melhores da festa.
Foram os VIPs que mais se incomodaram com Antonio Nobrega. Muitos, inclusive Hilneth, disseram que Carnaval devia ser apolítico, o que mostra o profundo desconhecimento sobre a festa.
Aliás, as críticas à perfomance de Nobrega implicam uma série de ignorâncias: do caráter político, contestador, subversivo do Carnaval; do que é uma festa pública e popular; de quem é Antonio Nobrega e o movimento armorial.
Um golden shower de ignorância.

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