Maior tragédia com fogo no Brasil aconteceu no maior circo da América Latina

Na semana em que o país chora com o episódio de Santa Maria, muito foi relembrado o caso do incêndio do Gran Circo Americano, em Niterói.  
Em 17 de dezembro passado, a tragédia em Niterói completou 51 anos.  Dela, surgiu o Profeta Gentileza.  O texto de Chandra Santos mostra que a versão de que ele seria proprietário do circo é lendária - mas Gentileza se envolveu na história por "chamado divino".
Vi, hoje, parte desse texto kibado em outros espaços virtuais.  

Foi necessário construir caixões e construir o cemitério de São Miguel, em São Gonçalo, para enterrar as vítimas
Foi necessário construir caixões e construir o cemitério de São Miguel, em São Gonçalo, para enterrar as vítimas

Por Chandra Santos
No Conexão Jornalismo


Nesta segunda-feira dia 17 de dezembro completa 51 anos da maior tragédia da história mundial do circo. Na mesma data em 1961 várias pessoas haviam aproveitado o domingo de sol para ir ao maior e mais completo circo da América Latina. Sob a lona verde e laranja do Gran Circo Norte-Americano, a plateia esperava ansiosa pelo número que encerrava o espetáculo do dia. A trapezista Nena, apelido de Antonietta Stevanovich, terminava o seu salto tríplice e esperava o aguardado aplauso, quando um incêndio lambeu, às 15h45, a lona parafinada que cobria o picadeiro. Mais de 3 mil pessoas estavam no local, a maioria crianças.

O incêndio do Gran Circo afastou as pessoas dos circos na cidade de Niterói - palco da tragédia. O número de mortos nunca foi conhecido, mas a imprensa da época contabilizou 503. Para se ter uma ideia, não havia caixões, nem covas, para enterrar todas as vítimas.

O motivo do fogo também não foi esclarecido. Para a polícia foi Dilson Marcelino Alves, 20 anos, o Dequinha, que ateou fogo no local com a ajuda de outros dois homens, Bigode e Pardal. O motivo seria vingança por ele ter sido despedido do emprego. No entanto, ao realizar a pesquisa para seu livro "O espetáculo mais triste da história" (Companhia das Letras), o jornalista Mauro Ventura constatou que as pessoas não acreditam nisso. A outra hipótese levantada é que tenha ocorrido um curto circuito nas instalações elétricas precárias do local.

O profeta Gentileza apareceu depois do incêndio no Circo
O profeta Gentileza apareceu depois do incêndio no Circo  
Do incêndio surgiu um personagem folclórico no Rio de Janeiro: o profeta Gentileza que pintou mensagens nas pilastras da Avenida Perimetral no Cais do Porto. Reza a lenda que o excêntrico personagem enlouqueceu ao perder a família na tragédia, mas Mauro Ventura desmente o mito em O espetáculo mais triste da Terra. José Datrino, nome verdadeiro de Gentileza, trabalhava com uma frota de caminhões.

Quando o Gran Circo foi incendiado, Datrino recebeu um “chamado divino”, segundo o qual deveria “consolar os desconsolados” que perderam tudo com a tragédia. Gentileza também montou uma casa no endereço da tragédia, plantou flores e instalou uma placa: “Bem-vindo ao Paraíso do Gentileza. Entre, não fume, não diga palavras obcenas”. Viveu durante quatro anos no endereço consolando as pessoas que por lá passavam. Há quem diga que ele previa a morte das vítimas que estavam internadas nos hospitais.
Assista o vídeo:

Comentários

Chandra Santos disse…
Obrigado por reproduzir o texto e citar os créditos. =)