Querida senhora

Voltou à minha linha do tempo no Facebook esta carta carinhosa, escrita por mim um ano atrás.
Aproveito para compartilhá-la aqui:

Cara Senhora Coxinha que vi e ouvi hoje no aeroporto de Fortaleza,
Tudo bem?
Queria escrever esta carta para dizer que lamento muito ter encontrado você hoje no aeroporto - ainda que tenha sido completamente imprevisto. Mas acho que lamento mais que isso saber que eu e você nascemos no mesmo país e respiramos o mesmo ar.
Para você ter uma idéia de minha disposição: havia acabado de chegar de viagem e fui direto trabalhar. Reparou que se aproximava do meio-dia? Aí sua indignação coxinha estourou porque dois dos quatro caixas de pagamento do estacionamento estavam fechados - era hora do almoço dos trabalhadores, mas imagino que você não saiba o que seja isso: um trabalhador.
Você esbarrou atrás de mim e alterada reclamou de só haver um caixa funcionando. Fiz ver a você que havia outro, do outro lado. Confesso que naquele momento não sabia de sua coxinice.
Ela se revelou em seguida, logo após pagarmos o nosso estacionamento:
- Cada vez mais tenho vergonha de ser brasileira: bando de ladrão dessa terra.
Sua filha, me pareceu, ficou constrangida.
Quando me preparei para responder, percebi, para meu desalento, que você já ia longe, do outro lado do estacionamento. Uma pena. Essa é a condição de eu escrever esta carta.
A primeira coisa que pretendo falar é questionar: por que você não aproveitou o fato de estar no aeroporto e não partiu, de imediato, para uma terra estrangeira mais digna de você?
A vergonha, minha senhora, é minha de ser seu compatriota e respirar o mesmo ar que você, como já disse.
Tenho muito orgulho de meu povo e de minha terra - e isso não se resume, ainda que se radicalize, aos doze anos de governo petista.
Tenho orgulho de ser brasileiro e conviver no mesmo ar com gente como  Miguel Nicolelis - revolucionário cientista de um revolucionário campo.
Tenho orgulho da luta e da amizade de tantos brasileiros trabalhadores como Erinalba Felix Lima e sua comunidade que nos concede um novo horizonte.
Tenho o maior orgulho em ser brasileiro quando lembro a luta da moçada de Natal em 2011 e 2012, escrevendo a História com o #ForaMicarla e a #RevoltadoBusao.
Você tem vergonha de ser brasileira? Então não merece mesmo ser compatriota de Paulo Freire, machado de Assis, Oswaldo Cruz, Nice da Silveira, Vinicius de Morais, Chico Buarque - nem mesmo de seu conterrâneo José de Alencar.
Nem do futebol brasileiro você merece gozar.  Para você é que não deveria ter Copa.
Com carinho,
Daniel.

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