De pé no chão se aprende a ler - por isso, deve ser derrubado

Ontem fez exatos 40 anos do falecimento do prefeito deposto de Natal, Djalma Maranhão.  Abaixo vou republicar o texto de Roberto Monte sobre o assunto, que eu roubei do Ailton Medeiros.


Tenho falado repetidamente sobre o papel popular de Djalma.  A revolução da pedagogia crítica e libertadora de Paulo Freira aplicada nas ruas, tendas, lugares de Natal - porque, como dizia, o slogan, De pé no chão também se aprende a ler.


Engraçado lembrar a morte de Djalma em um momento em que outro personagem escolheu o RN e Natal para promover uma revolução educacional, social e política vem sendo massacrado pela mesma elite que não podia permitir que o ex-prefeito transformasse a cidade, como podia transformar.  Nicolelis não é Djalma, mas seus adversários são, ideologicamente, os mesmos.  O povo não pode ser libertado!


Prefeito Djalma Maranhão: 40 anos de saudades!

Roberto Monte*



No dia 30 de julho de 1971, há exatos 40 anos, na Avenida 18 de Julio, , em Montevidéu, é encontrado morto em sua cama o prefeito Djalma Maranhão, exilado no Uruguai, aos 55 anos de idade.
A empleada (empregada) Elba entra em contato com o escritório de Djalma, na época na Plaza Independencia. Carlos Sousa e esposa são os primeiros a chegarem no local e entram em contato como ex-ministro da Justiça Amaury Silva, que faz as comunicações e os encaminhamentos de praxe logo após.
A causa mortis, segundo certificado assinado pelo Dr. Hugo Pombo aponta insuficiência cardíaca.
Segundo Darcy Ribeiro e Moacyr de Góes, o que o nosso Djalma realmente morreu foi de saudade, de banzo…
Dentro de seu caixão que chega a Natal, vem um livro fúnebre, onde constam assinaturas de inúmeros exilados brasileiros como o Presidente João Goulart e sua esposa Maria Teresa, Leonel Brizola e esposa Neusa, Amaury Silva, Neiva Moreira,Antônio Terra, Joselito Padilha, Carlos e Dirce Marés, Nélida Pinõn.
Logo no início do livro, um exilado de nome Milton Caldeira deixa a seguinte mensagem:
“Uns morrem em combate direto com o inimigo, outros, por contingência da própria luta, perecem longe do campo de batalha. Daqueles, muitos já tombaram assassinados pelos algozes dos povos.
Por força da própria luta, convivi com um destes: meu querido e inesquecível Maranhão, o velho novo companheiro, indômito e fraterno, ansioso de voltar à uma peça em que foi ator: emancipação da gente humilde de seu querido Nordeste e de toda a América.
Como humilde ator desta mesma peça, deixo gravado aqui estas palavras, como testemunho de sua vida solidária e de sua vontade de voltar à cena.”
Um detalhe passou-me seu filho Marcos Maranhão: Logo abaixo do expressivo texto o presidente Goulart assina, endossando tão fortes palavras.
Em Natal são incluídas inúmeras assinaturas de tantos que foram homenageá-lo e há um outro texto no livro, com a seguinte mensagem:
“Nunca pediu clemência, dava bandeiras e passava de mão e mão o ensanguentado coração do povo brasileiro”, assina Jacy Pereira.
No ano de 2011, além de celebrarmos os 40 anos de morte do nosso querido companheiro, é comemorado também os 50 anos da Campanha de Pé no Chão Também se Aprende a Ler.
Nós humanistas e defensores da Memória Histórica Potiguar não poderíamos deixar passar em branco tais datas e para tanto, estamos lançando hoje um portal em homenagem a Djalma, Moacyr, Luiz Gonzaga,Mailde, Luiz Ignacio, Margarida, Hélio, Omar e a tantos e tantas professorinhas, alunos e alunas de Pé no Chão e todos aqueles que participaram desse momento histórico, através do endereço eletrônico www.dhnet.org.br/educar/penochao/
Nos últimos 30 anos reunimos um vasto material acerca de Djalma e sua obra e eis que é chegado o momento para socializarmos tudo isso, preservar o nosso Direito a Memória e à Verdade, não acham?
Que tal ouvir a voz de Djalma no dia 21 de dezembro de 1963, quando na Praça Gentil Ferreira, com o Presidente Goulart fala ao povo de Natal na Cadeia da Legalidade,da Rádio Mayrink Veiga?
Hei, alguém aí ainda lembra o Hino da Campanha de Pé no Chão e outras músicas relacionadas a Djalma? Uma palinha do Hino, feito por Dosinho:
Povo pobre, natalense
Chegou a vez para quem quer aprender
Como sofre o ser humano
Quando não sabe o seu nome escrever

A prefeitura abre a campanha
Para ajuda do ensino e do saber
Pela meta do Prefeito Maranhão,
De pé no chão, também se aprende a ler

Você também encontrará vasto material sobre a Campanha de Pé no Chão, livros, textos e reflexões, áudios, vídeos e imagens, suas cartas do exílio, além de conhecer os participantes da campanha e da intrépida trupe de Djalma.
Lançado o portal, a idéia é fazermos logo a seguir um DVD Multimídia para distribuirmos com o nosso povo, com professore(a)s, aluno(a)s, bibliotecas, sindicatos,comunidades, bem no estilo De Pé no Chão…
Para finalizar, vamos citar o texto do poeta Roberto Lima, que nos fala desse homem que temos orgulho de ter sido o melhor e maior prefeito de nossa cidade Natal , Ode ao Prefeito Maranhão:
Foi um dia triste aquele:
O Prefeito Maranhão
Teve que deixar a terra
Que ele amou de coração
Teve que deixar seu povo
Que aprendeu de pé no chão…

O poder tomado à força
Se chamou revolução:
Quem pensava diferente
Foi para noutra nação,
E o prefeito dessa gente
Foi morar noutro rincão.

Refrão:
Calou-se Congo e Chegança,
Toda a arte popular,
São José não deu licença
Para o Pastoril dançar,
Não dançou o Boi Calemba,
Bambelô não quis tocar…

Duas vezes foi prefeito
De Natal, cidade amada,
Onde a arte do seu povo
Era, então, valorizada,
E sonhou com sua gente
Toda alfabetizada.

Ele foi preso e cassado.
Sua vida exilada,
Foi viver longe da Pátria,
Tão querida, idolatrada,
Sem as dunas, sem as praias
Da cidade ensolarada.

Refrão Bis
Por aqui era lembrado
Pelo que de bom havia.
Retornar a sua terra
Era tudo que queria,
Mas morreu triste exilado
Em Montevidéu, um dia.

Foi um dia triste aquele
Da chegada ao seu torrão
Pra dormir seu sono eterno
Na ternura do seu chão,
E este povo nunca esquece
O Prefeito Maranhão…

Quem pensar que Djalma Maranhão e sua obra morreram, estão mais que enganados, DJALMA MARANHÃO VIVE E VIVERÁ SEMPRE NA ALMA DO NOSSO POVO
*Roberto Monte é Coordenador do Centro de Direitos Humanos e Memória Popular e pesquisador da vida e obra de Djalma Maranhão

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