Nicolelis desabafa: “Tenho 50 anos, 30 anos de carreira, 200 trabalhos publicados. Eu nunca saí atirando"


(Alisson cobriu a coletiva de Nicolelis para o Portal No Minuto)

Durante pouco mais de 40 minutos de entrevista coletiva, concedida ontem à tarde em Natal, o neurocientista Miguel Nicolelis falou sobre o fim do convênio entre a UFRN e o IINN-ELS (Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra). Ele explicou que essa parceria foi formalizada porque, quando chegaram ao Brasil, os pesquisadores não tinham lugar adequado para trabalhar na universidade. Com o convênio, o grupo liderado pelo professor Sidarta Ribeiro pôde iniciar seus trabalhos, enquanto não ficavam prontas as obras do Campus do Cérebro em Macaíba. O prédio vai abrigar tanto o IINN como o Instituto do Cérebro da UFRN, criado pelos pesquisadores da universidade.
Vou tentar resumir o que disse o professor Miguel Nicolelis:

1º) Como foi dito pela reitora Ângela Paiva, não há problema institucional entre o IINN e a UFRN; tanto que há outros professores da universidade continuam desenvolvendo trabalhos em parceria com o instituto;
2º) Os equipamentos transferidos à UFRN somam R$ 232 mil, não R$ 6 milhões como disse Sidarta à Falha, ops, Folha de S. Paulo;
3º) Os equipamentos não estavam mais sendo usados no IINN, porque estavam reservados para uso em outras linhas de pesquisa, diferentes daquelas conduzidas no instituto;
4º) A transferência dos equipamentos para a UFRN havia sido previamente acertada com a reitora Ângela Paiva. Não foi, portanto, uma ação intempestiva, como se noticiou;
5º) O IINN é uma entidade privada com parcerias públicas. Como entidade privada, tem suas regras administrativas, entre as quais, restringir o acesso aos laboratórios e equipamentos a uma lista pré-aprovada com 95 nomes;
6º) A razão desse cuidado se deve à natureza do trabalho realizado no IINN, que envolve segredo profissional e direito à propriedade intelectual, entre outros pontos. Nicolelis negou, com veemência, que houvesse restrição ao uso desses equipamentos e ao acesso aos laboratórios do instituto para os pesquisadores da UFRN;
7º) O convênio entre a UFRN e o IINN terminaria em setembro. Portanto, os pesquisadores, em função da vinculação exclusiva com a universidade, teriam mesmo que deixar o instituto;
8º) As pesquisa realizadas por esse grupo da UFRN não se coadunavam mais com as áreas pesquisadas pelo IINN. Esse, para Nicolelis, teria sido o fator fundamental para o desligamento dos professores do instituto;
9º) Dois terços dos recursos do IINN vêm de doações privadas; só um terço é oriundo de parcerias públicas (Em entrevista à Tribuna do Norte, Sidarta disse o contrário: segundo ele, a maioria dos financiamentos do instituto é com recursos públicos);
10º) O super computador, citado pelo professor Sidarta, não foi comprado com dinheiro público. O equipamento custou R$ 10 milhões e foi uma doação do governo da Suécia. Não foi instalado AINDA porque é preciso esperar a conclusão do parque tecnológico, numa área que está sendo levantada especialmente para ele;
11º) Ele considera que dissoluções de parcerias científicas são corriqueiras, mas disse estranhar que algo dessa natureza tenha sido tratado pela imprensa, distorcidamente.
12º) O “microscópio caríssimo”, mencionado na matéria da Folha, não foi instalado AINDA porque é preciso um técnico e recursos para isso;
13º) Ele lamentou que a dissolução de uma parceria científica, algo que disse ser “corriqueiro”, tenha se transformado num “auê” e tenha sido tratada pela imprensa de forma distorcida;
14º) Fez elogios ao trabalho de Sidarta e dos demais pesquisadores, mas afirmou que “parcerias científicas terminam com cavalheiros à mesa”. Num desabafo, disse: “Eu tenho 50 anos, 30 anos de carreira, 200 trabalhos publicados. Eu nunca saí atirando [após encerrar uma parceria científica]“;
15º) Numa resposta ao reacionarismo dos críticos, disse que, mesmo sendo paulistano, se considera um cidadão potiguar e não sairá daqui “de jeito nenhum”.
Em resumo, foram esse os principais pontos tratados na entrevista coletiva. Para o bem do bom debate, seria bom se deixássemos as querelas pessoais de lado e tratássemos somente com os fatos.
Alguns blogs de esgoto noticiaram a “cisão” no IINN com festa, porque torcem o nariz para Miguel Nicolelis em virtude do seu engajamento político, que nada tem a ver com sua atividade científica. Esqueceram que o princípio básico do jornalismo é ouvir os dois ou mais lados da notícia.
Qualquer pessoa tem o direito de acreditar no que quiser e defender as ideias que quiser (e eu defendo as minhas com afinco), mas ninguém tem o direito de distorcer os fatos para fazê-los se parecer com aquilo que se quer que pareçam.

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