Ah! Eu tou maluco!

Até a entrada do mundo ocidental na Modernidade, bem o mostra Foucault, a loucura circulava no meio da sociedade. Mesmo que pudesse haver uma série de restrições e exceções quanto aos loucos, não havia encarceramentos e a voz do louco era assumida como divina voz profética da verdade. Ainda assim, o louco era ele mesmo ou quem ele quissesse ser. 

Com o nascimento dos primeiros manicômios, substituto social dos leprosários, e o surgimento das clínicas e da terapeutização da loucura, tudo começa a mudar de forma. A voz dos loucos precisa ser calada, sua presença isolada, seu corpo trancafiado, sua existencia marginalizada. O louco, agora, não pode ser nada ou ninguém. 
Hospitais psiquátricos estão a caminho de seu fim e cada vez menos loucos são encarcerados. O caminho é a inserção na sociedade. O problema é vivermos em uma geraçao completamente dependente de medicação psiquiátrica - loucos ou não -, e das drogas em geral - lícitas ou não. 

Quem já tomou, por menos tempo que tenha sido, alguma medicação de cunho psiquiátrico, sabe que a pessoa se converte em qualquer coisa menos o sujeito que sempre foi.  

Em outras palavras, vivemos uma época em que se interna menos, se isola menos, um mundo mais plural. Mas vivemos um tempo em que nos esforçamos mais por não sermos um sujeito. 

A exclusão, o silenciamento, a marginalização, a eliminação dos sujeitos loucos são hoje medicamentosas, sem necessariamente serem hospitalares.  E, em boa parte do tempo, somos nós que voluntariamente escolhemos usar nossas drogas e silenciar nossas vozes e nossos sujeitos.

Uma explosão como Ah! eu tou maluco!, brado de alegria, não significa nada. E se permitirmos que se torne um grito de liberdade, uma afirmação de nossa auto-consciencia, de reinserção das vozes livres, poderosas e proféticas dos loucos e sãos, marca de uma nova forma de ser sociedade, utópica: Ah! eu sou maluco!

Comentários