Ainda sobre a polícia que atira primeiro


Policia admite erro e quebra de protocolo em operação que deixou feridos no Rio


Do UOL:

Em entrevista coletiva nesta quarta-feira (10) no quartel-general da Polícia Militar do Rio, o comandante da corporação, coronel Mario Sergio Duarte, reconheceu que houve erros e quebra de protocolo durante a operação de ontem à noite no centro da cidade, quando criminosos tentaram assaltar passageiros de um ônibus do transporte coletivo. O protocolo da PM do Rio proíbe que policiais atirem em veículos que furem o bloqueio feito por carros policiais.
“Não estamos compactuando com a quebra de protocolo, e nem validando erros. Se tem pessoas inocentes feridas, é porque houve erros na operação. Não podemos negar que policiais efetuaram disparos contra o ônibus com o objetivo de pará-lo, mas, com precisão, só a perícia poderá comprovar quem os efetuou”. Pouco depois, o policial comparou: “O que parou o ônibus foram disparos dignos de cena de filme americano”.

Duarte afirmou que cada ação na operação deve ser analisada, de modo que eventuais erros, defendeu, sejam corrigidos. Ele ressaltou que os bandidos eram violentos. “As pessoas eram violentas. Um deu tiro no pescoço [de uma pessoa que passava pelo local] quando tentou roubar um carro para prosseguir sua fuga. Outro agrediu uma vítima a coronhadas.”
Os policiais envolvidos na operação pertencem ao 4º BPM (Batalhão de Polícia Militar). Segundo o comandante do batalhão, coronel Marcos Vinícius, estão à disposição da perícia as armas utilizadas na operação. “Foram utilizadas cinco pistolas. Não houve o uso de fuzil. Essas cinco armas estão à disposição da perícia”, afirmou.
Entre as seis vítimas feridas na operação, estão um policial militar que não estava em serviço, mas se encontrava em um ponto de ônibus próximo; um homem ferido no pescoço ao passar com sua picape nas imediações; uma mulher ferida no tórax, em estado grave no hospital Souza Aguiar. “Conversei com o cirurgião que a operou. Ele me informou que ela levou um tiro de cima para baixo, que entrou pela clavícula e saiu na mama, perfurando o pulmão.” O quarto ferido é uma passageira baleada nas nádegas; a quinta, uma passageira  ferida a coronhadas. O sexto ferido é um dos assaltantes, preso de madrugada quando tentava ser atendido em um hospital particular, em Copacabana (zona sul).
O comando da PM não disse quantos, dos seis feridos na operação, teriam sido atingidos por policiais ou pelos próprios criminosos. A justificativa é a espera dos trabalhos da perícia.
“Alguns policiais atiraram em direção aos pneus do ônibus. A rigor, isso não deveria ter acontecido, mas estamos diante de um caso paradoxal. Os policiais não sabiam o que poderia acontecer. Gerou uma situação indesejada de tiros nos pneus”, disse Duarte.
Apesar do saldo, o balanço final do chefe da PM carioca é positivo. “Convém considerarmos o desfecho como positivo, mas trágico por ter havido vítimas. Lamentamos que haja pessoas feridas e prometemos melhorar nosso processo”, finalizou.

O sequestro

Cerca de 20 passageiros foram feitos reféns durante aproximadamente uma hora e meia na noite dessa terça, na avenida Presidente Vargas, no centro do Rio de Janeiro, nas proximidades da Universidade Estácio de Sá. A ação teve início quando o coletivo foi invadido por um grupo armado. Dois policiais do 4º BPM (São Cristóvão) estavam perto do local e perseguiram o veículo até uma área próxima ao Trevo das Forças Armadas. O sequestro terminou por volta de 21h30.
Seis pessoas ficaram feridas. Quatro foram levadas ao hospital Souza Aguiar: Liza, Fabiana, Alcir e Josuel dos Santos Messia, 42, que, atingido de raspão na perna, já recebeu alta. Todos eram passageiros do coletivo, exceto Alcir, que estava passando pelo local no banco do passageiro de um carro. A quinta vítima é um policial militar que possivelmente tentou invadir o ônibus para reprimir a ação dos assaltantes. Ele teria sido levado para o hospital da corporação, no Estácio, de acordo com Duarte. O sexto ferido é um dos criminosos.
O ônibus, que pertence à empresa Viação Jurema e fazia o trajeto Praça 15-Duque de Caxias (linha 427C), tem vidros escuros, o que dificultou a visualização do total de pessoas em seu interior. Durante as negociações, dois criminosos foram retirados do veículo e cerca de dez passageiros foram liberados.
Durante a ação, os criminosos conseguiram furar dois bloqueios até que o ônibus --conduzido por um dos criminosos-- se chocou com um carro de polícia. Nesse momento, o policial que supostamente tentou invadir o veículo disparou contra os pneus, impedindo qualquer tentativa de fuga.
* Com informações de Janaina Garcia, do UOL Notícias em São Paulo

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