Da Agência EFE no UOL:
Para estar permanentemente em dia com tudo o que ocorre tão longe, Latuff se abastece, sobretudo por meio do Twitter, a grande fonte de informação da revolução egípcia, na qual os jovens escrevem de forma imediata qualquer coisa que acontece.
"Eu sempre escolho um lado, não pretendo ser neutro, e neste caso meu lado é o do povo egípcio", disse Latuff, que apesar de tudo não se considera o "desenhista oficial" da Revolução do 25 de Janeiro, que conseguiu derrubar Mubarak.
O brasileiro acredita que a queda de Mubarak "não significa o final da revolução, como muitos achavam, portanto é preciso continuar apoiando o povo egípcio até que consiga a democracia".
Para muitos, esse afã de Latuff por se transformar em "a voz do povo" lhe abriu portas de um país que está refletido em seus desenhos.
Como disse o caricaturista egípcio Amr Selim ao jornal "Al-Ahram Online", Latuff "criticou a ditadura egípcia quando estava em seu apogeu, por isso que ninguém deveria se surpreender agora ou depreciá-lo por ser brasileiro".
"Da mesma forma", insistiu, "esperaria-se que eu, um caricaturista egípcio, não desenhasse nada relacionado com o que acontece no Iêmen, Palestina ou EUA".
Para outros, no entanto, Latuff não deixa de ser um estrangeiro, com um conhecimento parcial e limitado da realidade que o inspira tanto.
Não há dia em que as redes sociais deixem de apresentar alguma polêmica relacionada a Latuff. A última delas, a acusação de ser "sionista", é provavelmente a mais errada de todas.
"Estive 15 dias na Palestina em 1999. Depois daquela experiência decidi voltar a apoiar o movimento palestino", assinala sobre esta causa que defende com ardor, e em muitas ocasiões acaba atingindo Israel.
No entanto, o fato de não ser imparcial também se voltou contra ele mesmo e contra suas causas em algumas ocasiões.
Uma dos episódios mais dolorosos para o desenhista foi a reação que provocou por causa de uma caricatura que caçoava o rei saudita, Abdullah bin Abdul Aziz, para apoiar as mulheres que desafiaram a proibição de dirigir nesse país.
Algumas delas se queixaram ao considerar que, ao invés de ajudá-las, essa falta de respeito prejudicou seu objetivo.
"Teve gente que protestou. Por respeito a essas mulheres, tirei o desenho do meu site, sua luta é muito importante", assegura, embora reconheça que "está suscetível a este tipo de coisa".
E embora não se arrisque em adivinhar o rumo que o Egito tomará -"ninguém poderia ter previsto a queda de Mubarak"-, não viajará ao Cairo, por enquanto, para comprovar "in situ".
Tem medo de ser detido: "Tenho certeza de que o Conselho Superior das Forças Armadas pode inventar algo contra mim, inventar uma desculpa para me prender e me expulsar. Temo que me detenham no próprio aeroporto".
O brasileiro Carlos Latuff, considerado um dos cronistas da revolução do Egito com suas charges
Do outro lado do Atlântico, o brasileiro Carlos Latuff se transformou no cronista mais pungente da revolução egípcia, de seus anseios e sucessos, mas sobretudo de seus contínuos revezes.
Poucos na praça Tahrir, centro da revolta que acabou com o regime de Hosni Mubarak, não sabem quem é Latuff.
E quem não o conhece, certamente já viu um de seus desenhos e caricaturas, onipresentes na praça durante os protestos e no Facebook e Twitter, onde tudo começou e que atualmente ainda têm um forte papel na revolução.
Suas caricaturas coloriram cartazes revolucionários e decoraram barracas e tendas de campanha dos manifestantes que ficaram acampados em Tahrir.
Como pode um homem que não pisou no Egito, que não sabe árabe e que vive a milhares de quilômetros captar dessa forma um sentimento coletivo e ser capaz de reproduzi-lo em imagens?
"Muita gente pensa que é por causa da minha origem libanesa, pelo lado da minha avó, mas não é isso. Tem a ver com a solidariedade com os povos, sejam árabes, curdos ou de qualquer outro lugar. Considero-me um internacionalista", disse Latuff à Agência Efe por telefone do Rio de Janeiro, onde nasceu em 1968.
Não fala árabe, mas conta com uma equipe de colaboradores e amigos que o ajudam a traduzir o texto em seus desenhos, embora em muitos casos estes falam por si sós.Poucos na praça Tahrir, centro da revolta que acabou com o regime de Hosni Mubarak, não sabem quem é Latuff.
E quem não o conhece, certamente já viu um de seus desenhos e caricaturas, onipresentes na praça durante os protestos e no Facebook e Twitter, onde tudo começou e que atualmente ainda têm um forte papel na revolução.
Suas caricaturas coloriram cartazes revolucionários e decoraram barracas e tendas de campanha dos manifestantes que ficaram acampados em Tahrir.
Como pode um homem que não pisou no Egito, que não sabe árabe e que vive a milhares de quilômetros captar dessa forma um sentimento coletivo e ser capaz de reproduzi-lo em imagens?
"Muita gente pensa que é por causa da minha origem libanesa, pelo lado da minha avó, mas não é isso. Tem a ver com a solidariedade com os povos, sejam árabes, curdos ou de qualquer outro lugar. Considero-me um internacionalista", disse Latuff à Agência Efe por telefone do Rio de Janeiro, onde nasceu em 1968.
Para estar permanentemente em dia com tudo o que ocorre tão longe, Latuff se abastece, sobretudo por meio do Twitter, a grande fonte de informação da revolução egípcia, na qual os jovens escrevem de forma imediata qualquer coisa que acontece.
"Eu sempre escolho um lado, não pretendo ser neutro, e neste caso meu lado é o do povo egípcio", disse Latuff, que apesar de tudo não se considera o "desenhista oficial" da Revolução do 25 de Janeiro, que conseguiu derrubar Mubarak.
O brasileiro acredita que a queda de Mubarak "não significa o final da revolução, como muitos achavam, portanto é preciso continuar apoiando o povo egípcio até que consiga a democracia".
Para muitos, esse afã de Latuff por se transformar em "a voz do povo" lhe abriu portas de um país que está refletido em seus desenhos.

Charges do brasileiro Carlos Latuff, considerado um dos cronistas da revolução do Egito
Como disse o caricaturista egípcio Amr Selim ao jornal "Al-Ahram Online", Latuff "criticou a ditadura egípcia quando estava em seu apogeu, por isso que ninguém deveria se surpreender agora ou depreciá-lo por ser brasileiro".
"Da mesma forma", insistiu, "esperaria-se que eu, um caricaturista egípcio, não desenhasse nada relacionado com o que acontece no Iêmen, Palestina ou EUA".
Para outros, no entanto, Latuff não deixa de ser um estrangeiro, com um conhecimento parcial e limitado da realidade que o inspira tanto.
Não há dia em que as redes sociais deixem de apresentar alguma polêmica relacionada a Latuff. A última delas, a acusação de ser "sionista", é provavelmente a mais errada de todas.
"Estive 15 dias na Palestina em 1999. Depois daquela experiência decidi voltar a apoiar o movimento palestino", assinala sobre esta causa que defende com ardor, e em muitas ocasiões acaba atingindo Israel.
No entanto, o fato de não ser imparcial também se voltou contra ele mesmo e contra suas causas em algumas ocasiões.
Uma dos episódios mais dolorosos para o desenhista foi a reação que provocou por causa de uma caricatura que caçoava o rei saudita, Abdullah bin Abdul Aziz, para apoiar as mulheres que desafiaram a proibição de dirigir nesse país.
Algumas delas se queixaram ao considerar que, ao invés de ajudá-las, essa falta de respeito prejudicou seu objetivo.
"Teve gente que protestou. Por respeito a essas mulheres, tirei o desenho do meu site, sua luta é muito importante", assegura, embora reconheça que "está suscetível a este tipo de coisa".
E embora não se arrisque em adivinhar o rumo que o Egito tomará -"ninguém poderia ter previsto a queda de Mubarak"-, não viajará ao Cairo, por enquanto, para comprovar "in situ".
Tem medo de ser detido: "Tenho certeza de que o Conselho Superior das Forças Armadas pode inventar algo contra mim, inventar uma desculpa para me prender e me expulsar. Temo que me detenham no próprio aeroporto".
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