#ForaMicarla: “Se não me derem condições, eu saio”, diz Roberto Lima

Do Diário do Tempo

O professor Roberto Lima pediu férias do cargo de presidente da Funcarte no início de agosto para cuidar da saúde. Enquanto isso, a cultura municipal permanece na UTI. O sangue necessário à completa recuperação da paciente é do tipo Dinheiro Positivo. Isso porque a reestruturação administrativa e jurídica da Funcarte já foi idealizada por Roberto Lima, elaborada e finalizada em formato de Projeto de Lei com cinco princípios básicos capazes de tornar a frágil saúde da cultura municipal em uma garotona com ritmo de atleta. Mas para isso é preciso muito tratamento e doação do tipo de sangue citado. E a previsão para tal “voluntarismo” já é conhecida. Sem dotação orçamentária própria, a Fundação Cultural Capitania das Artes mantém a dependência histórica à boa vontade da prefeitura em disponibilizar recursos. E a doadora de sangue se mostra sanguessuga da cultura – o primeiro setor a ser prejudicado com a queda de arrecadação ou turbulências financeiras municipais. Um exemplo foi a realização do Forraço. O Diário de Natal publicou matéria na véspera com a palavra de Roberto Lima garantindo antecipação no pagamento do cachê com o empenho já firmado – prática há muito descartada e só agora resgatada. Fim do evento e até hoje artistas estão de bolsos vazios, na mesma UTI da Funcarte. Sem dinheiro municipal, o trabalho e a palavra de Roberto Lima caem no limbo. E esse desprestígio já tem prazo para acabar.
O senhor volta da licença médica quando?
A rigor tirei férias para cuidar da saúde. Para um cargo comissionado conseguir licença médica é muito burocrático. Então, preferi pedir férias. Mas mesmo assim tenho acompanhado os trâmites e mantido contato com a prefeita Micarla e a secretária Rosy de Sousa para resolver pendências do Carnaval e São João. No evento da fotografia, por exemplo, a prefeita prometeu um posicionamento até esta segunda-feira, quando a receita do município é finalizada, sobretudo no tocante aos impostos.

Se a prefeitura prorrogar por um tempo mais alongado ou não pagar esse compromisso, o senhor se mantém no cargo?
Se eu perceber que me faltam condições de realizar meu trabalho, não terei mais o que fazer na Funcarte. Não faço milagres. Temos uma equipe muito boa, temos ampliado o acervo com doações de intelectuais, promovido eventos com a Banda Sinfônica, incentivando a cultura junto às escolas, enfim, temos feito a cultura do dia-a-dia, mas implementar um plano de cultura sustentável, está difícil.

Qual seria o plano?

Já temos pronto um Projeto de Lei que cria um sistema municipal de cultura a partir de cinco princípios: um Conselho Municipal de Política Cultural, que seria uma emenda para dotar o Conselho já existente de estrutura para trabalhar, entre outras providências; criar uma secretaria de cultura; um sistema de financiamento à cultura; o fundo municipal de cultura; e o plano de cultura, que contemplaria um sistema de acompanhamento, avaliação e tombamento do patrimônio material e registro do patrimônio imaterial e vivo. Deífilo Gurgel, por exemplo, é um patrimônio vivo que merece esse registro.

O que falta para implementar esse plano sustentável de cultura?

Quando eu voltar terei uma conversa com a prefeita para institucionalizar esse plano do ponto de vista jurídico e administrativo. Se não tivermos essas ferramentas, qualquer gestor chega e faz o que quer. Com esse sistema oficializado podemos nos inserir no Sistema Nacional de Cultura e facilitar o diálogo com o MinC e cidades mais estruturadas nesse quesito.

Sem dinheiro para criar ou manter grandes eventos, essas ações serão a sua herança ao fim da gestão?
Isso: uma gestão sustentável da cultura, inserida no Sistema Nacional e também deixar a Funcarte em dia com os órgãos federais. O resto é a batalha do dia-a-dia, que é grande. Muitas vezes somos mal compreendidos.

A previsão para a 2ª edição do Encontro de Escritores da Língua Portuguesa seria outubro. Será possível?

Teremos uma reunião oportuna para estudar a viabilidade disso. Precisamos de diversas situações: apoio de outras entidades, captação de recursos, parceria com as instituições portuguesas, etc. Não posso anunciar nada ainda.

E o Natal em Natal será nos mesmos moldes do ano passado?
Também faremos reunião a respeito. Mas aí já temos condições melhores de captação junto ao Banco do Brasil e MinC. Claro, o setor de Turismo também vai se associar porque o projeto está inserido no calendário turístico da cidade e a estrutura ficará sob responsabilidade dessa pasta.

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