#ForaMicarla: uma análise do fenômeno Micarla de Sousa

Da Carta Potiguar:

O título do post não é meu, mas do sociólogo Zygmunt Baumam e expressa, para muitos, não apenas para ele, a condição do novos tempo na política.
Exageros a parte, na medida em que a realidade não é monocausal, é importante perceber como o político, que era arregimentado nas lutas trabalhistas, sindicais, sociais ou mesmo empresariais, passa agora a viver, não mais de um “passado de lutas”, mas de sua relação com a mídia e com a imagem.
Nesta perspectiva, a história do candidato é cada vez mais secundarizada. Isto não significa dizer que o eleitor não se preocupe com a biografia dos candidatos, mas que, dada a força do marketing, ela pode ser construída de modo relativamente fácil.
Esta condição, que se torna sistêmica na política, acaba forjando uma interação eleitor-político pautada pela imagem. Ao invés das propostas, o sorriso bonito e rosto atraente; ao invés da discussão, o palavrório-oco construído pelas sondagens qualitativas.

A tese de Bauman é interessante e ajuda a compreender alguns dos aspectos constitutivos do comportamento eleitoral. No entanto, perde de vista a variação de classe e as consequentes alterações ideológicas que a mudança de classe acarreta. Por mais que a imagem “seja vazia”, os eleitores criam sistemas de referência que variam, de acordo com a sua inserção social.
Um eleitor da classe A e B não mobiliza os mesmos recursos de referências do que um eleitor das classes C, D ou E. Isto, é valido enfatizar, não significa atribuir qualquer tipo de superioridade, ou de “sofisticação” axiológica para qualquer um dos votantes. A criação de reflexividade é contextual e não inata.
Este, ao meu ver, é o erro que comete a cientista política Mônica Castro, ao afirmar que as classes mais educadas apresentam maior sofisticação eleitoral, ou, nas palavras do também cientista político Yan Carreirão, são as portadoras do voto ideológico, deixando o voto pragmático (uma espécie de voto com o buxo) para as classes menos escolarizadas. Por mais que eles neguem qualquer conotação valorativa, fica difícil não fazer uma associação neste sentido.
Portanto, é fundamental compreender a ideologia do eleitor, que eu chamo de sistemas de referência (informação gerada pelas relações de interdependência nos graus micro, meso e macro e por sua história incorporada), pois que adquire maior capacidade de compreender empiricamente o comportamento dos votantes, um modo de fugir da ideia de “consciência”.
Em suma, e para terminar este texto que ganhou um tamanho que eu inicialmente não esperava, a celebridade pode até ganhar  proeminência na “modernidade líquida”, mas isso não apaga um conjunto de condicionamentos que compõem o que torna possível um eleitor escolher um candidato em detrimento de outro.
FENÔMENO MICARLA
Erra, pela minha análise acima, quem resume a vitória de Micarla de Sousa à questão da Tv. A contribuição de uma boa imagem construída foi importante. No entanto, além de ter atendido naquele momento a ideologia das classes C, D e E, soube conduzir a eleição de maneira mais estratégica do que sua oponente, a deputada federal Fátima Bezerra.
Algo que merece uma maior reflexão futura.

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