A notícia abaixo me faz lembrar tudo o que já foi escrito, por mim e por outros, sobre o afastamento da presidenta Dilma Rousseff de sua base de apoio popular e a consequente incapacidade de resistir às crises. Ou ela acha que sua base no Congresso será suficiente para enfrentar as crises políticas que virão?
Da Carta Maior:
Era o começo de um dia que chacoalhou os alicerces políticos do Palácio do Planalto, com partidos aliados rebelados e prontos para o revanchismo, e que levaria Dilma a recorrer aos conselhos do antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva.
Depois de receber a pesquisa, Dilma tinha uma reunião com seu Conselho Político, formado por líderes e dirigentes partidários. Eles achavam que, enfim, teriam a oportunidade de discutir frente a frente com a presidenta os problemas de relação que se acumulam desde o início do ano. E que se acentuaram com as demissões de indicados para cargos no governo em decorrência de denúncias da imprensa. Frustraram-se com uma pauta limitada à crise econômica mundial.
Alguns aliados saíram do encontro mais azedos do que tinham entrado. Entre eles, os que possuem mandato foram ao Congresso com um sentimento revanchista. A pesquisa Ibope divulgada quase ao fim da reunião ajudou a estimular a vontade de dar o troco.
Para um ministro com gabinete do Planalto, a pesquisa mostra que o governo precisa ter mais humildade e melhorar suas relações políticas. Com Dilma popular, é fácil ser linha dura. Quando a aprovação cai, porém, o Congresso anima-se a reagir na base do “quem precisa de quem agora?”
“Essa queda de popularidade não teve uma dimensão que justifique um afastamento [entre partidos e Dilma]. Mas se houver quedas sucessivas e a Dilma mantiver esse padrão de decisão, ela pode ter problemas”, disse o cientista político Antônio Augusto de Queiroz, do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), que já vê risco "real" para o governo.
Com a base aliada de Dilma estressada depois da reunião do Conselho Político, o próprio líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), foi obrigado a articular para que nada fosse votado naquela quarta-feira, o principal dia da semana para o Congresso. Havia risco claro de derrota. “Uns 150 deputados da base estavam dispostos a não votar nada. Achei melhor não forçar a votação. Só vale a pena forçar se for para ganhar”, diria Vaccarezza no dia seguinte.
Enquanto Vaccarezza agia na noite de quarta-feira em Brasília, longe dali, em São Paulo, Dilma encontrava-se com Lula no aeroporto de Congonhas. Ela participaria de um evento de empreiteiros, e aproveitou para aconselhar-se antes. Conversaram a sós, por mais de duas horas. Assessores presidenciais tentaram – em vão - evitar que o encontro fosse descoberto, pois isso reforçaria a sensação da classe política de que Dilma não teria estofo próprio para a lida diária da política.
Já tinha sido assim na primeira crise ministerial do governo, envolvendo o ex-chefe da Casa Civil Antonio Palocci. Na época, Lula viajara a Brasília para conversar com senadores, e o entorno de Dilma botara na rua a versão de que a presidenta não sabia do movimento nem o aprovava.
O clima daquela quarta-feira animou os partidos adversários de Dilma a tentar uma ação ousada. No dia seguinte, decidiram tentar jogar o governo contra o Congresso, propondo a criação de uma grande CPI da Corrupção, juntando Câmara e Senado. Para isso, começaram a recolher a assinatura de senadores e de deputados.
Até agora, a oposição reconhecia a insuficiência numérica na Câmara e concentrava no Senado seus planos investigatórios. Mas já sente que há descontentamento entre deputados governistas que poderia terminar em colaboracionismo. “A postura de complacência do Congresso desestimula a investigação [de todas as denúncias]”, disse o líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR).
O sucesso ou o fracasso da coleta de assinaturas para a CPI será um termômetro da popularidade de Dilma junto ao eleitorado dela dentro do Congresso.
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