A jihad do Tea Party nos EUA

 
Vocês já conhecem o que eles gostam de dizer: jamais negocie com terroristas. Isso só vai encorajá-los. Nos últimos meses, grande parte do país observa horrorizado como os republicanos do Tea Party vêm travando uma jihad contra o povo americano. Suas demandas intransigentes no sentido de cortes profundos de gastos, ao lado da sua prazerosa disposição para destruir os mais valiosos ativos dos EUA, sua fé e reputação, foram totalmente irresponsáveis. Mas eles não se importam. Segundo eles, para atingir seu objetivo valia a pena explodir o país, se fosse necessário.
Como ideólogos em qualquer lugar, eles desdenham o compromisso. Quando John Boehner, o presidente da Câmara, tentou formalizar um acordo com o presidente Barack Obama, que incluiria alguns aumentos modestos da receita, eles o humilharam. Depois que o último acordo foi finalmente forjado no domingo - o que significou uma capitulação quase total de Obama - membros do Tea Party foram à Fox News para lamentar que os cortes tinham sido de apenas US$ 2,4 trilhões e não os US$ 4 trilhões pretendidos. Foi algo de dar vertigens.

Durante toda a segunda-feira, a blogosfera e os programas de entrevistas discutiram sobre que partido ganhou politicamente com o embate. O que importa não é como esses cortes de gastos afetarão nossos políticos, mas o país. E não estou nem falando do terrível custo, com o corte de US$ 2,4 trilhões, que será arcado pelos pobres e a classe média. Falo dos seus efeitos sobre a economia ainda fragilizada dos EUA. A real crise americana não é uma crise da dívida. Mas de desemprego. Contudo, esse acordo não só deixará sem solução o problema do desemprego. Certamente a situação ficará ainda pior.
Incrivelmente, os democratas chegaram até a abandonar sua demanda para que um aumento do auxílio-desemprego fosse parte do acordo. Como disse Mohamed El-Erian, diretor executivo da Pimco, corretora de investimentos em títulos, a política fiscal abrange um numerador e um denominador: "O numerador é a dívida, mas o denominador é o crescimento".
E acrescentou: "o que temos feito é acelerar cada vez mais, e de um modo que nos prejudica, o numerador. E no processo corroemos o denominador". Vai demorar muito para o crescimento econômico ajudar a reduzir o déficit, e ao mesmo tempo ajudar as pessoas a encontrar um emprego. Os cortes de gastos reduziram o crescimento e aumentam a probabilidade de o país entrar numa recessão.
Sofrimento. Se isso pode causar mais sofrimento para seus cidadãos, não é uma preocupação dos republicanos do Tea Party. O que impressiona é que tanto o presidente Obama quanto o presidente da Câmara afirmam que o acordo ajudará a economia. Eles pensam que vão nos convencer. Sabemos o que ocorreu em 1937, quando Franklin D. Roosevelt, acreditando que a Depressão desaparecera, tentou controlar os gastos federais. O corte de despesas levou os EUA direto para a Grande Depressão, onde permaneceram até a chegada do pacote de estímulo conhecido como 2.ª Guerra Mundial. É nesse caminho que estamos seguindo. Nossos inimigos não podiam ter concebido um plano melhor para debilitar a economia americana do que esse acordo sobre o teto da dívida.
Se há alguma coisa que Roosevelt fez certo durante a Depressão foi promulgar leis criando uma rede de seguridade social para aplacar os golpes que uma economia de livre mercado poderia infligir em épocas difíceis. Nesta recessão, é como se governo saísse do caminho de modo a garantir que os golpes se tornem ainda mais duros do que precisariam ser. O debate sobre o teto da dívida refletiu um país mais duro, menos cordial. É triste.
Na minha opinião, Obama tinha de ter jogado a carta da 14.ª Emenda, usado sua linguagem e defendido "a validade da dívida pública" para elevar unilateralmente o teto da dívida. Claro, teria enfurecido os republicanos, mas e daí? Eles já o encaram como um anti-Cristo. Juristas afirmam que o Congresso não teria recurso legal para derrubar sua decisão. Inexplicavelmente, ele preferiu seguir um caminho que ampliou extremamente a influência dos extremistas republicanos.
Supondo que o Senado aprove a lei, o teto da dívida é um tema tão insignificante que só será retomado após a próxima eleição. Mas as extenuantes batalhas sobre o déficit não terminaram.
Graças a este acordo, uma supercomissão formada no Congresso deve analisar outros cortes de US$ 1,2 trilhão a US$ 1,5 trilhão no fim de novembro. Se cortes forem sancionados em 23 dezembro, reduções automáticas generalizadas serão impostas, incluindo na área da Defesa. Como foi explicado ad nauseam, a ameaça de cortes na área da Defesa deve dar aos republicanos um incentivo para jogar mais limpo com os democratas nas negociações. Mas com nossos soldados ainda lutando no Afeganistão, que lado vai pestanejar se os cortes propostos significarem uma ameaça à segurança nacional? Do mesmo modo que agiram quando dos pacotes de socorro financeiro para os bancos, que muitos republicanos rechaçaram, os democratas serão mais responsáveis. Aparentemente, esse é um problema deles.
No momento, os republicanos do Tea Partir devem deixar de lado suas roupas de terroristas suicidas. Mas eles a colocarão novamente. Afinal, agora estão se sentindo muito mais encorajados. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

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