Mais notícias da polícia que primeiro atira

Disparos vieram de fora do ônibus e deixaram assaltantes nervosos, relata passageira de sequestro no Rio

Do UOL:

“Fiquei abaixada o tempo todo, do jeito que muitos ficaram; não sabia se sairia viva ou morta dali. Os bandidos diziam que não iam fazer nada com a gente, mas ficaram muito nervosos quando os tiros começaram –começaram de fora, todos eles”.
O relato é da vendedora Cristiane Figueiredo Silone, 35, uma das cerca de 20 passageiras do ônibus sequestrado na noite dessa terça-feira (9) no centro do Rio. A ação, que durou cerca de uma hora e meia, terminou com dois bandidos presos –um terceiro seria detido no início da madrugada, em Copacabana, e a polícia tenta prender um quarto homem – e três passageiros baleados, uma delas, Liza Mônica Pereira, 46, teve o pulmão perfurado e está em estado grave no CTI (Centro de Tratamento Intensivo) do hospital Souza Aguiar, no centro da cidade.
Um policial e um homem que passava pelo local, em um carro particular, também foram baleados.
Ainda assustada, Cristiane contou ao UOL Notícias nesta quarta-feira (10) que há oito anos faz essa linha do centro à Baixada Fluminense. Segundo a vendedora, cansada, ela pegou no sono durante o trajeto e acordou já com os ocupantes do veículo rendidos. Os dois criminosos que entraram se passando por passageiros, ela diz, estavam bem vestidos e não chegaram a roubar nenhum pertence. “Um deles usava até gravata, mas ninguém atirou”.
“Eles ficaram muito nervosos quando viram que a ação deles não ia dar certo, com o cerco do lado de fora. Fiquei tão desesperada que mal olhei na cara dos outros passageiros, principalmente quando os tiros começaram a vir. Nisso, vi uma senhora baleada no abdômen”, lembra a vendedora, que diz nunca ter sido assaltada na linha frequentada por ela há oito anos.
“Minha filha rezava o tempo todo”
A mãe de uma passageira que também trabalha no centro do Rio, mas que preferiu não se identificar, afirmou que a filha foi ao trabalho hoje como forma de tentar superar o trauma da noite passada. “Ela precisava espairecer”.
De acordo com ela, a filha contou que os disparos não foram, nenhum deles, feito dentro do ônibus. “Minha filha me disse que, dentro, alguns passageiros tentavam acalmar os dois rapazes. Ela, mesma, só rezava e pedia o tempo todo que aquilo tudo terminasse logo. Mas ela garantiu que eles [os criminosos] não atiraram –os tiros vieram só de fora”.
A Polícia Militar vai se pronunciar sobre o caso em coletiva no comando da corporação, ainda nesta manhã.

O sequestro

Cerca de 20 passageiros foram feitos reféns durante aproximadamente uma hora e meia na noite dessa terça, na avenida Presidente Vargas, no centro do Rio de Janeiro, nas proximidades da Universidade Estácio de Sá. A ação teve início quando o coletivo foi invadido por um grupo armado. Dois policiais do 4º BPM (São Cristóvão) estavam perto do local e perseguiram o veículo até uma área próxima ao Trevo das Forças Armadas. O sequestro terminou por volta de 21h30.
Ao menos cinco pessoas ficaram feridas. Quatro foram levadas ao hospital Souza Aguiar: Liza, Fabiana, Alcir e Josuel dos Santos Messia, 42, que, atingido de raspão na perna, já recebeu alta. Todos eram passageiros do coletivo, exceto Alcir, que estava passando pelo local no banco do passageiro de um carro. A quinta vítima é um policial militar que possivelmente tentou invadir o ônibus para reprimir a ação dos assaltantes. Ele teria sido levado para o hospital da corporação, no Estácio, de acordo com Duarte. Seu nome e estado de saúde não foram informados pela polícia.
O ônibus, que pertence à empresa Viação Jurema e fazia o trajeto Praça 15-Duque de Caxias (linha 427C), tem vidros escuros, o que dificultou a visualização do total de pessoas em seu interior. Durante as negociações, dois criminosos foram retirados do veículo e cerca de dez passageiros foram liberados.
Durante a ação, os criminosos conseguiram furar dois bloqueios até que o ônibus --conduzido por um dos criminosos-- se chocou com um carro de polícia. Nesse momento, o policial que supostamente tentou invadir o veículo disparou contra os pneus, impedindo qualquer tentativa de fuga.
* Com informações de Rodrigo Teixeira, especial para o UOL Notícias, no Rio

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