Mubarak será julgado com ex-ministro no dia 5 a portas fechadas


Do UOL:

O julgamento do ex-ditador egípcio, Hosni Mubarak, cuja segunda sessão ocorreu nesta segunda-feira, foi adiado para o dia 5 de setembro, e o júri decidiu parar de televisionar o que ocorre dentro dos tribunais com o objetivo de "proteger o interesse público".

Como pedia a acusação, o caso de Mubarak passará a ser vinculado a partir da próxima audiência, a portas fechadas, com o de seu ex-ministro do Interior, Habib al Adli, anunciou o juiz Ahmed Refaat.
Manifestações eclodiram próximas ao tribunal onde ocorria o julgamento do ex-ditador Hosni Mubarak
O ex-ditador é julgado por corrupção e envolvimento na morte de centenas de manifestantes oposicionistas durante a revolta que o depôs em fevereiro passado. Um balanço oficial do governo diz que 850 morreram na revolta. Os manifestantes alegam que o número foi muito maior.
Manifestações
Confrontos nas ruas começaram no momento em que o ex-ditador retornava ao tribunal para enfrentar acusações de matar manifestantes. Ele é o primeiro líder árabe a ser julgado desde que a onda de revoltas começou a se espalhar pelo Oriente Médio.
O helicóptero pousou perto do tribunal e em seguida, Mubarak, de 83 anos e doente, vestido com um casaco esportivo, foi levado em uma maca para sua jaula dentro do tribunal para a segunda sessão de seu julgamento.



Centenas de policiais mantiveram guarda, mas os confrontos irromperam em frente ao prédio entre uma multidão de simpatizantes de Mubarak e um grupo pedindo justiça pelos mortos na insurgência que derrubou o ex-líder há seis meses.
A multidão pró-Mubarak atirava pedras e o cordão de isolamento que separava os dois lados se rompeu, e simpatizantes de Mubarak perseguiram seus opositores para longe do prédio.
 
Sessão
Em um tribunal lotado com advogados ansiosos, Mubarak parecia estar contido e austero, as mãos unidas sobre o peito. Uma agulha intravenosa estava implantada em sua mão esquerda. Ele não estava usando as roupas brancas exigidas normalmente para os presos.
Ele trocou algumas palavras com seus filhos Alaa e Gamal, que também estão sendo julgados e estavam dentro da mesma jaula que o pai.
A audiência pode decidir se o chefe do conselho militar que atualmente governa o país prestará depoimento. Advogados da defesa dizem que testemunho do marechal Mohamed Hussein Tantawi sobre o papel de Mubarak em tentar reprimir o protesto de 18 dias, em que 850 pessoas morreram, poderia definir o julgamento.



Mubarak é visto chegando de maca ao local onde ocorreu a segunda audiência de seu julgamento

Inédito
Apesar dos egípcios celebrarem a possibilidade de retribuição contra um líder autoritário, eles estão se questionando se o julgamento vai, realmente, romper com as injustiças do passado.
Alguns temem que a junta militar que governa o Egito vai usar o julgamento como uma prova de que as reformas democráticas foram alcançadas, ainda que os ativistas argumentem que ainda são necessárias reformas mais profundas.
"Estou um pouco preocupada que, se Mubarak for julgado e condenado, as pessoas vão tomar isso como o fim da revolução. Eles vão dizer que a revolução alcançou seus objetivos. O que não é o caso", disse Tareq Shalaby, 27, consultor de mídia social que estava entre as milhares de pessoas protestando na praça Tahir.
O julgamento do presidente deposto é um momento sem precedentes no mundo árabe. É a primeira vez que um líder do Oriente Médio moderno é levado a julgamento pelo seu próprio povo.
O evento mais próximo a este foi o julgamento do ex-ditador iraquiano Saddam Hussein, mas sua captura deu-se pelo Exército americano em 2003 e o tribunal especial para o julgamento de Saddam foi criado com ampla consulta dos americanos e especialistas estrangeiros.
O presidente tunisiano deposto, El Abidine Ben Ali, foi acusado e condenado diversas vezes desde sua deposição, mas os julgamentos foram todos à revelia, pois ele está no exílio na Arábia Saudita.

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