O pedido de desculpas da BBC


A rede pública britânica BBC divulgou um pedido de desculpas público, depois que em entrevista, uma de suas jornalistas terminou ofendendo o jornalista Marcus Dowe. O tema da entrevista era a revolta dos jovens nas periferias das cidades britânicas.
O pedido de desculpas foi publicado em português aqui:

Darcus Howe
A BBC pediu desculpas por entrevista em vivo transmitida pelo canal de notícias, na qual um veterano jornalista foi acusado de participar de ‘tumultos’. Escritor e jornalista, Darcus Howe foi entrevistado sobre os eventos nas ruas de Londres; a certa altura da entrevista, a apresentadora Fiona Armstrong o acusou de participar de “tumultos”. A empresa pediu desculpas aos telespectadores por qualquer ofensa, depois de a empresa ser soterrada por reclamações do público.
Durante entrevista que foi ao ar ontem, a entrevistadora disse, falando dos estúdios: “O senhor não é estranho a esses tumultos, não é? Já tomou parte em tumultos, pelo que se sabe.”

Howe, entrevistado no dia seguinte dos acontecimentos em Croydon, respondeu “Jamais participei de tumulto algum. Participei de muitas manifestações que acabaram em conflitos. Pare de me acusar de ser agitador. Respeite um velho negro da Índia Ocidental. Você quer que eu diga o que não vou dizer. Sua pergunta é idiota. Exijo que me respeite.”
A BBC declarou que a apresentadora não teve qualquer intenção de desrespeitar Howe e que suas perguntas visavam a contextualizar o que Howe dizia e suas reações aos eventos londrinos. A empresa declarou também que doravante se referirá sempre a “tumultos na Inglaterra”, em vez de “tumultos no Reino Unido”.
“A alteração deve-se ao dever de considerar a sensibilidade dos telespectadores na Escócia, em Gales e na Irlanda do Norte e para assegurar máximas clareza e precisão geográfica”.

Transcrição da entrevista foi publicada aqui:

BBC (para a câmera): Vamos falar com Marcus Dowe, escritor e jornalista. (A câmera mostra um senhor, visivelmente perturbado.) Marcus Dowe, qual sua opinião sobre tudo isso? Você está chocado com o que viu lá a noite passada em Londres?
Entrevistado: Não, não estou. Vivo em Londres há 50 anos e há “climas” e momentos diferentes. O que sei, ouvindo meu filho e meu neto, é que algo muito, muito sério estava para acontecer nesse país. Nossos líderes políticos não tinham ideia. A Polícia não tinha ideia. [Só faltou completar: “Os jornais e os jornalistas não tinham ideia”.]
Mas se se olhasse para os jovens negros e para os jovens brancos, com atenção, se os ouvíssemos com atenção, eles estavam nos dizendo. E não ouvimos. Mas o que está acontecendo nesse país com eles...
BBC: Posso interrompê-lo, por favor... O senhor está dizendo que não condena o que houve ontem? Que não está chocado com o que houve em nossa comunidade ontem à noite?
Entrevistado: É claro que não condeno! Por que condenaria? A coisa que mais me preocupa é que havia um jovem chamado Mark Dogan, tinha casa, família, irmãos, irmãs. E a poucos metros de sua casa, um policial rebentou sua cabeça com um tiro.
BBC [interrompendo]: Sim, mas não podemos falar sobre isso. Temos de esperar o julgamento, o tribunal não se manifestou sobre isso... Não sabemos o que aconteceu. O senhor estava falando do seu filho, de jovens...
Entrevistado: Meu neto é um anjo. Me enfureço só de pensar que ele vai crescer e um policial pode colá-lo a uma parede e explodir sua cabeça com um tiro. A Polícia detém e pára e revista os jovens negros sem qualquer razão. Alguma coisa vai muito mal nesse país. Perguntei ao meu filho quantas vezes ele foi parado pela polícia. Ele me disse “Papai, não tenho conta de tantas vezes que aconteceu...”
BBC: Mas... Isso seria justificativa para sair e quebrar tudo, como vimos nos últimos dias em Londres?
Entrevistado: Onde estava você em 1981 em Brixton? Não digo que estão acontecendo “tumultos”. O que está acontecendo é insurreição das massas, do povo. Está acontecendo na Síria, em Liverpool, em Port of Spain... Essa é a natureza do momento histórico que vivemos.
BBC: O senhor não é estranho a essas agitações. O senhor já participou de agitações como essa, como sabemos.
Entrevistado: Nunca participei de agitação alguma. Estive em muitas manifestações que acabaram em conflitos. Seria normal que a Polícia da Índia Ocidental me acusasse de ser agitador. Mas absolutamente não admito que você me acuse de agitador. Quis oferecer um contexto para o que está acontecendo. O que é que vocês queriam? Masmorras?
BBC: Infelizmente, o senhor não conseguiria ser objetivo. Obrigada pela entrevista.
[Corta e o “jornal” passa a falar da suspensão de uma partida de futebol].
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Desculpas

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