Polícia que mata: Inteligência da polícia duvida de ataque à Rota em São Paulo


"Possivelmente, o atentado contra a mencionada sede miliciana seria para tirar o foco de práticas ilícitas envolvendo integrantes da Rota e martirizar os envolvidos", diz o relatório
Na Folha de São Paulo

Relatório confidencial da inteligência da Polícia Civil destinado à cúpula do governo põe em xeque a versão da PM segundo a qual a sede da Rota em São Paulo sofreu um atentado em agosto de 2010.
Na versão oficial, o ex-detento Frank Ligieri Sons, 33, atacou a tropa especial ao lado de um comparsa, atirando no prédio, com um coquetel molotov na mão. Ainda segundo a versão oficial, os policiais da Rota revidaram e mataram Sons. O outro fugiu.
À época, a tropa especial da PM paulista era alvo de investigações em que aparecia como suspeita de assassinatos e envolvimento com quadrilhas de roubo de cargas.
O documento confidencial da inteligência da polícia diz: "Possivelmente, o atentado contra a mencionada sede miliciana seria para tirar o foco de práticas ilícitas envolvendo integrantes da Rota e martirizar os envolvidos."
O ataque foi divulgado pela Rota 17 horas após seu comandante, o tenente-coronel Paulo Adriano Telhada, afirmar também ter sido vítima de atentado, este ocorrido em sua casa, na zona norte.

Inconsistências Entre as inconsistências da versão a respeito da noite do suposto atentado à sede da Rota apontadas pelo relatório da inteligência estão:
1. O prédio tinha o vidro de uma janela quebrada, mas não foram achados projéteis.
2. O coquetel molotov, que chegou a ser exibido pela imprensa, desapareceu sem que tivessem sido feitos exames de conteúdo e digitais.
3. Não foram feitos exames residuográficos para indicar o uso de armas nem do "terrorista" nem dos PMs que teriam reagido ao ataque.
4. A Rota disse que não havia câmeras que pudessem fornecer imagens do ataque, mas o local dispõe de duas.
O documento ainda afirma que Sons, morto supostamente no atentado, não tinha nenhum ligação conhecida com o crime organizado.
O suspeito esteve preso por 11 anos por roubo e lesão corporal. Para a família, ouvida pelos policiais da inteligência, ele seria "incapaz" de participar de um atentado de "tamanha relevância".
Ele não tinha, dizem familiares, condições físicas para executar o atentando por ser "extremamente doente" e "toxicômano e alcoólatra".
Procurado pela Folha, o comando da Polícia Militar informou ontem, por meio de nota, que vai pedir uma cópia do relatório da inteligência da Polícia Civil para investigar o caso. Disse ainda que será "rigoroso" com eventuais desvios dos homens de sua corporação.

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