Tomem ciência


Fazia tempo que não assistia a um debate tão cretino como o que parte da imprensa se meteu de carona na crise que provocou o racha no Instituto Internacional de Neurociência de Natal. Que por aqui, na mídia tradicional, não se pratica o tal jornalismo científico meu camarada Alex de Souza já havia comentado outro dia.
Aliás, a última pessoa que lembro ter queimado uns neurônios para seguir por esse caminho foi uma amiga, mas acabou desiludida com a falta de oportunidade e, embora premiada, por esse e outros motivos preferiu cantar no terreiro da assessoria de imprensa.

O que espanta nesse caso da neurociência é a forma pedante como jornalistas, blogueiros e afins vêm se apedrejando na ânsia de tomar partido numa discussão que se desenha muito mais ideológica que partidária. Sim, há diferença entre ideologia e partidarismo. E está bem distante das teorias da conspiração.
Uma coisa, pelo menos, esse debate pobre tem mostrado: o ego de um jornalista mal intencionado é bem maior que o de um cientista em crise. Na troca de insinuações entre os senhores da mídia, as frustrações profissionais dessa gente se revelam muito mais que a pobreza do conteúdo dos seus argumentos.
Há quem não goste do neurocientista Miguel Nicolelis por vários motivos. O aparente perfil autoritário, a identificação com o PT traduzida no apoio financeiro ao Instituto, e até a paixão pelo Palmeiras. A sacanagem é usar essas divergências pessoais à distância para atacar o trabalho de um sujeito que, goste você ou não, tem se destacado na área que domina. Nicolelis peca por ser inacessível e, também por isso, despertou a ira de uma gente que não aceita as criticas que ele faz ao poder público local. Administrações que ignoraram o grande projeto que dirige, diferente do que faz o Governo Federal desde que Lula subiu a rampa do Palácio do Planalto pela primeira vez.
Mas Nicolelis não é milagreiro para virar santo nem merecedor da capa mítica que veste as divindades sobre-humanas. E o engajamento da mídia pró-Nicolelis nessa briga também tem sido tão cego que não há espaço nem para o outro lado da história sem a velha prática das insinuações e do patrulhamento ideológico.
Sábado passado, encontrei o neurocientista Sidarta Ribeiro, a outra ponta da polêmica, numa roda de capoeira na UFRN. O perfil do cientista que diz ter votado sempre em Lula e na Dilma foi publicado na terça-feira. De lá para cá, por conta da entrevista, virou “ídolo da fina flor da extrema direita natalense”.
Não vou me meter na linha de pesquisa dos dois por pura falta de conhecimento no assunto. O que eu sei é que já ultrapassou o limite do bom-senso essa disputazinha não-me-toque de beira de esquina. Tomem ciência disso: vocês são ridículos.

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