Operação Pecado Capital: Gilson Moura [não] se explica

Por Alisson Almeida
No Embolando Palavras

O deputado estadual Gilson Moura (PV), citado no processo da Operação Pecado Capital, em entrevista ao Diário de Natal, negou envolvimento no esquema de corrupção do Ipem-RN, afirmou que não tinha conhecimento do caso, confirmou que indicou mais de 50 pessoas para o órgão, mas disse desconhecer a existência de funcionários “fantasmas” na autarquia estadual.

Gilson demonstrou acreditar na “inocência” de Rychardson de Macedo Bernardo, ex-diretor do órgão, indicado para o cargo pelo deputado estadual, acusado pelo MP de comandar a “organização criminosa” que correu as “entranhas” do Ipem-RN pela corrupção. “A gente torce para que ele consiga provar sua inocência de todas essas acusações“, declarou.
O repórter do Diário de Natal esqueceu de perguntar a Gilson Moura por que, na opinião dele, Rychardson afirmou nas gravações telefônicas que as 53 pessoas indicadas pelo deputado eram funcionários fantasmas, se o parlamentar assegura que seus apadrinhados davam expediente.
O jornalista esqueceu, ainda, de questionar o deputado sobre a afirmação da ex-governadora Wilma de Faria (PSB), segundo quem Rychardson foi exonerado em virtude das denúncias de irregularidades no Ipem-RN.
Depois disso, Rychardson voltou a trabalhar no gabinete de Gilson na Assembleia Legislativa, de julho a dezembro de 2010, como assessor parlamentar. Também tive informações dando conta que a noive de Rychardson, Emanuela, é lotada no gabinete de Gilson, recebe remuneração de R$ 3.500,00, mas nunca deu expediente na AL.
O que mais chama a atenção na entrevista de Gilson Moura, para mim, é a defesa da “inocência” de Rychardson, contra quem há indícios e provas fortíssimas. De acordo com a denúncia do MP, Rychardon fazia às vezes de “testa de ferro” de Gilson.
Conversando com meus inquietos botões, perguntei o que eles tinham a dizer sobre isso. A inquietude se transformou, subitamente, em mudez. “É que o criador agora está nas mãos da criatura e não pode confrontá-lo”, foi só o que consegui captar deles.
A seguir, a íntegra da entrevista de Gilson Moura ao DN:
Citado nas interceptações telefônicas do Ministério Público (MP) entre os envolvidos no escândalo de corrupção desvendado pela Operação Pecado Capital, o deputado estadual Gilson Moura (PV) declarou, em entrevista exclusiva ao Diário de Natal, que desconhece qualquer esquema montado no Instituto de Pesos e Medidas do Rio Grande do Norte (Ipem) para desviar recursos públicos. No entanto, ele admitiu ter indicado o advogado Rychardson Macedo Bernardo, preso acusado de comandar o esquema, para presidir o instituto, em 2007, durante a gestão da ex-governadora Wilma de Faria (PSB). Gilson disse que vai torcer para que o amigo prove sua inocência. O pevista negou qualquer envolvimento nos negócios de Rychardson, que são usados, de acordo com o MP, para lavar dinheiro desviado do Ipem, apesar de admitir ter recebido doação de Bernardo para sua campanha eleitoral. Embora também admita que indicou mais de 50 funcionários para o Ipem, naquele período, o deputado negou que existissem comissionados fantasmas indicados por ele. O pevista disse também desconhecer a nomeação de seus familiares que estiveram lotados no órgão durante o período que Rychardson era presidente.
O que o senhor tem a dizer sobre a citação do seu nome entre os envolvidos no esquema de corrupção desvendado pela Operação Pecado Capital?
Em primeiro lugar, eu respeito o trabalho institucional do Ministério Público. A citação do meu nome se deu pelo fato de eu ter indicado, na época, o advogado Rychardson Bernardo, que trabalhou comigo, para o Ipem (Instituto de Pesos e Medidas). Quando trabalhou comigo, ele sempre demonstrou muito profissionalismo, tanto é que foi o nome lembrado e indicado para a então governadora Wilma de Faria (PSB), que analisou o currículo e fez a nomeação dele para o cargo.
De acordo com o Ministério Público (MP), dois parentes do senhor tinham cargos fantasmas no Ipem. Como funcionavam essas indicações?
Eu desconheço. Desconheço inclusive que tinham pessoas da minha família com cargos fantasmas. Eu desconheço isso.
Nas interceptações telefônicas feitas pelo Ministério Público, envolvidos no esquema dizem que o senhor possuíamais de 50 cargos no Ipem. Todos eram cargos fantasmas?
Eu tinha minhas indicações, como outras pessoas também tinham suas indicações lá no órgão. Pelo que eu sei, todos os funcionários indicados por mim trabalhavam e eram indicados justamente para trabalhar, para dar expediente normal, lá no órgão.
O senhor tinha conhecimento sobre o esquema de desvio de dinheiro público do Ipem, lavado em estabelecimentos comerciais de Rychardson?
Desconheço qualquer esquema. Entendo que o trabalho do Ministério Público foi feito. Agora, os fatos já estão judicializados. Será respeitada a ampla defesa, o contraditório. Rychardson e seus advogados vão apresentar a defesa, no tempo adequado. A gente torce para que ele consiga provar sua inocência de todas essas acusações. São todas suposições, de certa forma fruto de uma investigação. Mas, mesmo assim, o estado democrático assegura o direito de ampla defesa, do contraditório e acima de tudo da presunção de inocência.
Deputado, mas como com uma renda de R$ 60 mil por ano,Rychardson movimentava tantos milhões de reais?
Olhe, na verdade quem tem que explicar é o advogado dele. Essa pergunta tem que ser feita ao advogado dele.
O senhor tem alguma ligação com os supermercados “É Show” ou com os outros estabelecimentos comerciais de propriedade de Rychardson?
Não. Nenhuma ligação.
O senhor ajudou de alguma forma na fundação dos supermercados?
Não. Não houve nenhuma ajuda nossa para a criação dos negócios da família do senhor Rychardson Bernardo. Em relação a isso, quem deve ser questionado é o advogado dele. Não tenho nenhuma relação.
O senhor pretende preparar uma defesa referente à citação do seu nome? Como o senhor se portará diante desse processo?
Olha, eu não fui citado, juridicamente falando. Então, o que tenho a fazer é tocar o meu mandato. É tocar justamente a minha atuação parlamentar. É tocar o mandato que o povo legitimamente me deu com votação expressiva na última eleição. Vou seguir em frente, exercendo minha função parlamentar.
A citação do nome do senhor nesse escândalo de corrupção inviabiliza seu projeto político de concorrer à prefeitura de Parnamirim?
De maneira nenhuma. A gente sabe inclusive que setores ligados aos nossos adversários estão achando e têm quase certeza que esse tipo de situação iria inviabilizar um projeto político que não é meu. É um projeto do partido e do povo livre e forte da cidade de Parnamirim. Não inviabiliza de maneira nenhuma. A gente continua com o mesmo propósito, com o mesmo objetivo de enfrentar essa luta.

Comentários