Operação Pecado Capital: Para advogado, só escutas não condenam Rychardson


O ex-diretor do Ipem (Instituto de Pesos e Medidas do RN), Rychardson de Macedo Bernardo, completou, neste sábado (17), seu sexto dia de prisão no quartel do Comando Geral da Polícia Militar. Ele divide uma sala, com ar-condicionado, com o irmão, Rhandson de Macedo Bernardo. Os dois são acusados pelo Ministério Público de integrar a “organização criminosa” que teria desviado R$ 12 milhões do órgão, entre 2007 e 2010.De acordo com a petição do MP, Rychardson seria o líder do grupo. Além dele e do irmão, também são acusados o advogado Daniel Vale Bezerra, o analista de sistemas Adriano Flávio Cardoso Nogueira e o engenheiro civil Aécio Aluízio Fernandes de Faria. Os três investigados tiveram a prisão temporária revogada, ontem, pelo juiz da 7ª Vara Criminal, José Armando Ponte Dias Júnior.

Hoje pela manhã, Rychardson recebeu a visita do advogado André Castro. Na saída, ele conversou com a reportagem do Nominuto.com sobre a Operação “Pecado Capital”, os rumos da investigação e as denúncias que pesam contra Rychardson e Rhandson. Ontem, o desembargador Caio Alencar negou o pedido de liminar, impetrado pela defesa deles, para libertá-los.

Diante dessa negativa, o advogado contou que vai analisar “outra via”, em paralelo ao habeas corpus, para tentar demonstrar a “desnecessidade da continuidade da prisão” de Rychardson e Rhandson.

“Vamos aguardar o julgamento do habeas corpus pela Câmara Criminal [do Tribunal de Justiça do RN]. Ao mesmo tempo, estamos esperando a atitude do Ministério Público, que tem um prazo para apresentar essa denúncia. Então, estamos esperando o desenrolar dos acontecimentos e poderemos até, por outra via, concomitantemente ao habeas corpus, entrar com uma medida, perante o próprio juiz da causa mostrando a desnecessidade da continuidade da prisão”, comentou.

André disse que ainda não há nenhuma certeza sobre as acusações contra seus clientes. Ele frisou que, por enquanto, não há acusação formal contra Rychardson e Rhandson, mas só “indícios” levantados pelo Ministério Público.

“Ele [Rychardson] vai responder quando as acusações forem feitas. O Ministério Público, na verdade, disse ao juiz que há ‘indícios’ de todas as acusações. Mas, de fato, ainda não houve acusação. A gente só vai ter conhecimento do que se trata quando houver essa denúncia. Antes disso, não temos nenhum tipo de certeza do que ele está sendo acusado”, ponderou.

O prazo, segundo o advogado, para a apresentação da denúncia termina na próxima quinta-feira (22). Ele disse que, uma vez formalizada a acusação, o juiz poderá reavaliar a prisão dos dois irmãos.

Patrimônio

O advogado de Rychardson de Macedo afirmou que as escutas telefônicas divulgadas pelo Ministério Público, como parte do processo da Operação “Pecado Capital”, não são suficientes, por si só, para condenar seu cliente. “Escutas, sozinhas, não fornecem juízo de segurança para qualquer condenação”.

André Castro tem uma interpretação diferente daquela do Ministério Público sobre as escutas telefônicas, nas quais Rychardson trava diálogos com o irmão Rhandson e com o advogado Daniel Bezerra, entre outras pessoas, sobre o pagamento de diárias, funcionários fantasmas e uma possível interferência do ex-diretor do Ipem para afastar das investigações o delegado Matias Laurentino.

“Há uma ligação que ele [Rychardson] está discutindo os métodos do delegado. Quando você acha que um juiz é parcial, você tem como fazer uma exceção de suspeição desse juiz. Existem meios legais, quando você acha que uma pessoa está extrapolando suas funções, para trocar essa pessoa”, comentou, negando que seu cliente tivesse qualquer influência junto à cúpula da Polícia Civil.

O advogado afirmou que o MP fez uma “ilação” ao dizer que Rychardson teria tentado, através de tráfico de influência, afastar o delegado do caso. “O MP tirou uma ligação telefônica de um contexto de seis meses de escutas, mas só apresentou aquelas duas. Não tem como fazer juízo de valor assim. A defesa só vai saber quando tiver acesso a todas as escutas e em que contexto essa conversa existiu”.

Em relação à acusação de desvio de recursos públicos do Ipem-RN e da criação de empresas fantasmas para lavagem de dinheiro, André Castro disse que os R$ 4 milhões citados na petição do MP não foram desviados. “Esse foi todo o orçamento que ele [Rychardson] administrou enquanto foi gestor [do órgão]”.

“Os R$ 12 milhões seria a movimentação de uma das empresas [de Rychardson]. A gente já explicou que o dinheiro que passa por uma loja de carros não é da loja. Quando a loja vende um carro financiado, o banco deposita o dinheiro na conta da loja, que tem que pagar ao dono. A movimentação financeira que vale é o lucro da empresa. Há uma diferença muito grande do conceito de faturamento para o conceito de lucro”, explicou.

André também negou que Rychardson levasse uma vida de esbanjamento. Ele disse que a lancha comprada pelo seu cliente foi financiada pela Platinum Automóveis, uma das quatro empresas do ex-diretor do Ipem-RN. O equipamento, segundo o advogado, está à venda.

“Enquanto não vender [a lancha], ele vai continuar usando. Se isso é esbanjar ou não, é uma questão empresarial dele. Não acredito que seja um crime nem motivo para ele estar sendo denunciado”, completou.

Comentários