Operação Pecado Capital: @FatorRRH e a vontade de vomitar

Publico abaixo texto do professor Ricardo Rosado sobre a Operação Pecado Capital.  Texto já antingo, do dia 13.  Confesso que tinha passado batido até que ontem um amigo me mandou por e-mail.  Mais alguém que clamou por explicações dos nomes de pessoas públicas referidas na petição do MP e nas gravações divulgadas.

Por Ricardo Rosado
No FatorRRH

Reclamei aqui no Fator RRH e no twitter da forma  como o Ministério Público decidiu anunciar as prisões de alguns agentes públicos bandidos (não necessariamente nesta ordem), na chamada Operação Pecado Capital, ocorridas ontem.

Tudo está narrado em postagens anteriores aqui no blog.

Como a denúncia veio somente por via digital, a fonte ficou sendo um portal, uma petição e alguns áudios da investigação.

Nenhum dos Promotores veio ao palco dar outras maiores explicações.

Reclamei do método, por considerá-lo insuficiente.

Terminou sendo útil para a minha própria investigação, ao ser obrigado a fazer a leitura de todas as mais de 100 páginas da petição do MP que respaldou a decisão judicial no desmantelamento da quadrilha que agia no IPEM/RN.

Assim as minhas dúvidas, incertezas e, principalmente, inseguranças, emergiram violentamente.

É de estarrecer, depois da leitura, como é que pode se montar uma quadrilha, roubos, chantagens, furtos, prevaricação, propina, ameaças, fraudes em licitações, contratação de funcionários fantasmas num órgão público tão insignificante na estrutura administrativa do Estado, sem que ninguém tenha percebido, reagido, denunciado.

Dá pra tremer e sentir calafrios o que seriam capazes de fazer nas super estruturas do Governo do Estado.

Num pequeno órgão público como o IPEM, eles roubaram mais de R$ 4 milhões em dois anos.

Como foi possível uma quadrilha de exibicionistas agir impunemente dentro da esfera do Governo do Estado sem que os órgãos de controle e fiscalização internos do Executivo não tenham sequer percebido.

Ou percebido muito tarde, quando já havia uma investigação em marcha.

De que forma esses quadrilheiros puderam atuar sem sofrer resistências, por exemplo, dos sindicatos dos funcionários públicos estaduais, sempre tão atuantes e mobilizados quando o assunto é a luta salarial.

De que maneira os gatunos desfilavam com o dinheiro público em lanchas turbinadas,  lavavam os pés com uísque importado, fatos conhecidos dos veranistas de Pirangi, sem que a Governadora do Estado não chamasse os cargos comissionados para, pelo menos, perguntar se procediam as acusações ou era somente intriga da oposição.

Coisas dos poderosos e dos caciques.

É de estranhar ainda mais quando se sabe que o Tribunal de Contas, órgão fiscalizador das contas públicas, aprovou tudo o que o Governo do Estado mandou para aprovar. Se fez algumas ressalvas - algo já previsto nos pareceres do TC - foi superficial. Nem de longe denunciou o roubo.

Como vamos explicar para os leitores e eleitores que a Assembleia Legislativa também não viu, não ouviu, não leu, não sabia,  não ligou e aprovou também as contas do Governo do Estado no período.

Aliás, é intrigante na petição que um dos meliantes recebeu dinheiro da própria Assembleia Legislativa, sem se saber que tipo de bandido a casa está abrigando e fazendo exatamente que tipo de trabalho sujo.

Com que cara deve estar o comando da Polícia Militar da época ao saber que alguns montaram uma quadrilha, criaram empresas fantasmas para lavar dinheiro público roubado e ainda carregavam os malotes destas arapucas nas viaturas policiais, protegidos por soldados e oficiais.

A Polícia Civil também deveria estar cheia de vergonhas ao demitir, pelo “princípio da eficiência no serviço público”, exatamente o delegado que estava avançando nas investigações. Está evidente a pressão política interna para afastar os inoportunos que poderiam atrapalhar os planos da organização criminosa.

Num jogo amplo que se verifica na petição, também é muito estranho que empresários das mais diversas atividades - empregos terceirizados, postos de combustíveis, construção civil etc - tenham aceitado participar de uma quadrilha, legitimando suas ações, sem que o espírito público prevaleça.

Esses empresários são também corruptos e fizeram parte da quadrilha.

O que fará a OAB, por exemplo, para analisar a atuação de um advogado que optou pelo mundo do crime forjando pareceres para colaborar com a matilha.

Até mesmo indivíduos se prestaram a receber dinheiro sem trabalhar e a repassar grande parte deste dinheiro para a quadrilha.

São tão desonestos quanto os chefes da gang.

Enfim, de que forma a população pode confiar nos seus políticos, nos seus governantes, se sabiam, agiam, permitiam, recebiam e escondiam o resultado do assalto ao dinheiro público.

Olhem que, um foco mais atento e profundo no relatório será capaz de revelar coisas ainda mais perigosas e assustadoras.

Coisas - um dos bandidos usou o termo "coisar" numa das ligações grampeadas - que seriam fatalmente indagadas ao Ministério Público se tivesse optado por uma denúncia ao vivo, diante da imprensa, das câmeras e dos microfones.

Pois é, o MP iria "coisar" melhor a coisa.

Só achei ruim ter que ler todo o relatório porque após a leitura fiquei com vontade de vomitar.

Que ainda não passou.

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