Direto dos EUA: As dúvidas sobre o complô iraniano



Da BBC


Em meio às contínuas acusações dos Estados Unidos e à negação veemente do Irã, as dúvidas em torno do suposto plano para assassinar o embaixador saudita em Washington, desvendado nesta semana, não param de crescer.

A versão apresentada pelo governo americano é a de que a Força Quds - unidade de elite da Guarda Revolucionária do Irã - teria recrutado Manssor Arbabsiar, um iraniano com cidadania americana que vive no Texas, para contratar um cartel de narcotraficantes do México e encomendar o assassinato do embaixador Adel al-Jubeir.Segundo o secretário americano de Justiça, Eric Holder, o plano era matar o diplomata saudita em Washington, em um atentado à bomba.

O presidente Barack Obama e outras autoridades americanas insistem que o governo iraniano sabia do complô. Nesta semana, ao comentar o caso, Obama disse que vai buscar sanções duras contra Teerã e que "nenhuma opção está descartada".

Teerã reagiu imediatamente à notícia, classificada como uma "pré-fabricação" dos Estados Unidos para desviar a atenção do público de problemas domésticos e dos protestos do movimento "Ocupe Wall Street".

Mas mesmo dentro dos Estados Unidos, há manifestações de ceticismo em relação a uma trama comparada pelo próprio diretor do FBI, Robert Mueller, a "um roteiro de Hollywood".

Um dos principais mistérios, segundo alguns analistas americanos, é o que levaria uma instituição tão poderosa como a Força Quds a colocar um plano arriscado nas mãos de um sujeito como Arbabsiar.

Em um perfil publicado no jornal Washington Post, Arbabsiar, 56, é descrito por conhecidos na cidade texana de Corpus Christi, onde vivia, quase como um trapalhão, sempre distraído, que não teria capacidade para bolar um plano complexo como esse.

Outra questão levantada é sobre o que levaria a Força Quds - que, apesar de relatos de treinar e equipar grupos como o Hezbollah, o Hamas e até membros do Talebã, nunca direcionou ataques a alvos em solo americano - a mudar tão radicalmente de tática.

Como observa o analista Stephen Walt, professor de relações internacionais em Harvard, em artigo na revista Foreign Policy, explodir um prédio em solo americano seria um ato de guerra, e os Estados Unidos são conhecidos por responder com severidade a ataques assim, vide 11 de setembro.

"Se você fosse atacar um alvo nos Estados Unidos, não mandaria o seu 'Esquadrão Classe A' em vez de 'Mr. Magoo'?", questiona Walt.

Há ainda dúvidas de que carteis de drogas mexicanos teriam interesse em executar um plano tão arriscado pelos alegados US$ 1,5 milhão, quantia relativamente modesta comparada aos bilhões de dólares que esses grupos costumam movimentar com o tráfico.

Alguns cogitam até que o episódio todo seja armação de algum grupo ou país interessado em azedar ainda mais as relações entre Estados Unidos e Irã.

Em seu artigo, o professor de Harvard vai além nos questionamentos sobre o governo americano. "A menos que o governo Obama tenha mais evidências do que apresentou até agora, corre o risco de uma gafe diplomática comparável ao famoso briefing de Colin Powell no Conselho de Segurança da ONU sobre as supostas armas de destruição em massa do Iraque, um briefing que, agora sabemos, era uma série de fabricações e contos de fadas", diz Walt.

Segundo o analista, está em jogo neste episódio a confiança dos americanos na competência, credibilidade e honestidade de seu governo.

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