Eleições no berço da Primavera Árabe

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Berço da Primavera Árabe, a Tunísia realizará neste domingo (23) eleições para a Assembleia Constituinte, nove meses depois da queda do ex-ditador Ben Ali, ocorrida em 14 de janeiro. Os tunisianos vão eleger 217 integrantes para o colegiado, que terá a função de elaborar uma Constituição, formar um novo governo e eleger o presidente do país, em um período de no máximo um ano.
A campanha para o pleito começou em 1º de outubro e as agremiações políticas têm buscado atrair os votos dos muitos indecisos, que podem mudar a relação de forças. Hoje, o favorito é o partido islamita moderado Ennahda, que sofreu dura repressão durante os anos Ben Ali e hoje concentra 25% da preferência do eleitorado.

Em seguida, vem o Partido Democrata Progressista (PDP), com 16% das intenções de voto, segundo uma pesquisa feita pelo Observatório de Transição Democrática na Tunísia (TODT, na sigla em inglês) e divulgada em 30 de setembro.

Outros partidos dividem uma pequena parcela do eleitorado, entre eles o Ettajdid, que formou em maio uma coalizão de esquerda com cinco partidos, batizada de Pólo Democrático e Modernista (PDM). Do lado liberal, há o Afek Tounes e, na centro-esquerda, o progressista Ettakatol, entre as 105 formações políticas existentes no país.

O principal candidato do Ennahda -- e das eleições -- é Rashid al Ghannushi, islâmico de 70 anos que voltou à Tunísia do exílio em Londres e tem conseguido reunir multidões em seus comícios. No PDP, a tunisiana Maya Jribi lidera a lista de candidatos na capital, Túnis. O médico Mustapha Ben Jafaa é o líder do Ettakatol, que foi legalizado em 2002. No Ettajdid, Ahmed Brahim busca barrar a ascensão dos islamistas.

Porém, eles são apenas alguns entre os cerca de 10 mil postulantes a um pleito no qual devem votar 7 milhões de tunisianos. Segundo a agência “Efe”, foram apresentadas 1.600 listas de candidatos. Parte delas busca abarcar o voto dos tunisianos que moram no exterior -- eles têm direito a eleger 18 dos 217 membros da Assembleia Constituinte.

Onde tudo começou
Desde fevereiro, a Tunísia é dirigida pelo presidente Foued Mebazaa, 78, e pelo premiê Beji Caid Essebsi, 84, que passou a ocupar o cargo após a queda de dois governos posteriores à renúncia de Ben Ali. No início de outubro, Essebsi declarou que espera não estar mais no comando após o dia 23, “já que haverá uma Assembleia Constituinte, um poder legítimo emanado das urnas”. O órgão, no entanto, deve trabalhar em consonância com o atual governo até a formação de um novo.

A Tunísia foi o primeiro país do norte da África a ter uma revolta popular contra o então governo ditatorial no poder. Os protestos se espalharam por outros países, como Egito, Líbia, Iêmen, Jordânia e Síria, o que deu início à chamada Primavera Árabe.

No Egito, o ex-ditador Hosni Mubarak renunciou em 11 de fevereiro, e o país aguarda eleições legislativas para 28 de novembro. Na Líbia, o ex-ditador Muammar Gaddafi foi morto nesta semana, após as forças do Conselho Nacional de Transição (CNT) tomarem o controle do todas as cidades do país. Na Síria, os manifestantes pedem reformas enquanto forças leais ao ditador Bashar al Assad são denunciadas por instituições e governos pela morte de milhares de pessoas. Na Jordânia, o ex-premiê Maaruf Bakhit renunciou nesta semana e um novo governo deve ser formado. Já no Iêmen, os protestos contra o ditador Ali Abdullah Saleh continuam nas ruas.

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