#HomofobiaNao: @jeanwyllys_real:"os direitos LGBTs fazem parte do que se convencionou chamar de ‘causas polêmicas’"
Do Blog do @delucca
O deputado federal Jean Willys (Psol-RJ) passou por João Pessoa em setembro e pude conversar com ele. em entrevista exclusiva, durante cerca de 15 minutos. Apesar da conversa breve (e franca), conversei sobre homofobia e movimento LGBT. Confiram o material (com fotos de Cleide Teixeira). Ele também pode ser lido na edição desta quinta-feira do Jornal da Paraíba.
Como você avalia os números de assassinatos motivados por homofobia na Paraíba? Já foram 17 só neste ano.
Jean Wyllys - Estes dados comprovam uma tendência que as estatísticas frágeis comprovam de que os estados do Nordeste são estados com grandes índices de homofobia, a despeito de São Paulo, onde os crimes de homofobia têm crescido de forma assustadora. Isso acontece porque nos estados do Nordeste o machismo, o sexismo, a homofobia, vigoram com mais força do que nos estados do Sudeste. Nós lidamos com estatísticas precárias, a gente não tem um instrumento de avaliação dos crimes homofóbicos, apenas um levantamento que é feito pelo GGB com uma metodologia que não é precisa, enquanto a Secretaria de Direitos Humanos, através da Ministra Maria do Rosário vem tentando desenvolver estatísticas mais precisas com o Disk-100. O que eu posso avaliar em relação a estes crimes aqui na Paraíba é isso, a confirmação de uma tendência. É lamentável. A maioria das vítimas desses crimes são travestis e transexuais, confirmando outra tendência, de que o segmento mais vulnerável da comunidade LGBT são as transexuais, que já sofrem uma violência ao serem excluídas do mercado de trabalho e são empurradas deliberadamente para a prostituição. Elas se tornam vulneráveis ao tráfico internacional de pessoas, ao trabalho escravo sexual e a violência, seja por conta de quem alicia e explora o serviço delas, seja por quem freqüenta a noite.
Você acredita que hoje os casos de violência contra homossexuais estão mais comuns ou apenas estão sendo mais divulgados?
Jean Wyllys - As duas coisas. Os casos hoje são mais divulgados, já que a população tem mais instrumentos de divulgação desses crimes, como as redes sociais, o YouTube, os blogs, e antes a primazia da divulgação desses crimes era da imprensa. Hoje pessoas comuns podem fazer denúncias e servir até de fonte pra imprensa. Mas o número de crimes está aumentando como uma reação as conquistas da comunidade LGBT, que tem feitos conquistas significativas em termo de visibilidade, já que o Brasil é o país com maior número de Paradas Gays no mundo, temos as conferências LGBT em todo o país, a Conferência Nacional, etc. Estas conquistas têm provocado uma reação nos setores mais conservadores que tem respondido, não só com campanhas difamatórias, mas também com os crimes propriamente ditos.
Por que é tão difícil aprovar legislações específicas em relação aos direitos gays no Congresso? A PLC 122, chamada de lei contra a homofobia, por exemplo, não consegue avançar…
Jean Wyllys - Porque os direitos LGBTs fazem parte do que se convencionou chamar de ‘causas polêmicas’. Existem as causas unânimes, como os direitos das crianças, o meio ambiente, dos idosos, e destes, nenhum parlamentar pensa duas vezes antes de dizer, ainda que seja da boca pra fora, que são a favor. Mas muitos deles se colocam publicamente contra a cidadania LGBT e esta é a principal dificuldade na aprovação de leis. A homossexualidade é tratada como uma questão moral e não como uma questão da violação de direitos humanos, de liberdades civis. Muita gente acha que é legitimo alguém perder direitos ou ser violados nos seus direitos humanos por ser homossexual e é o mesmo pensamento que já norteou, por exemplo, a violência contra os negros, contra as mulheres. Muita gente achou que era legítimo e ‘natural’ que as mulheres não votassem, porque elas seriam ‘naturalmente inferiores’, um pensamento que hoje e rechaçado por ser absurdo e que muito tempo foi sustentado por políticos. Já hoje, você vê que um pensamento como este é sustentado por vários parlamentares, inclusive por parlamentares aqui da Paraíba.
Você acredita que os parlamentares que aparecem criticando a luta dos homossexuais publicamente, como Jair Bolsonaro (PP-RJ) ou Marcos Feliciano (PRB-SP), querem apenas ganhar visibilidade com a polêmica?
Jean Wyllys - Não ficou nenhuma mágoa, os LGBTs não têm culpa de não apoiarem os seus quadros, da mesma maneira que as mulheres e negros não tem culpa de serem sub-representadas no Congresso Nacional. Mulheres, negros, indígenas e homossexuais são primeiro destruídos na relação que tem consigo mesmo. O primeiro sintoma para desarticular politicamente estes grupos é destruir a relação positiva que eles podem ter consigo mesmo e com seus semelhantes, fazendo com que os negros introjetem o racismo, que as mulheres introjetem o machismo, que os gays introjetem a homofobia. O fato dos LGBTs não votarem nos seus quadros é fruto desta homofobia internalizada, então não tenho nenhum tipo de mágoa por conta disso.
O Movimento LGBT nunca teve um representante legitimo, apesar de já ter tido deputadas e senadores que lutaram pelos direitos dos homossexuais. Você acredita que por conta disso os gays não gozam de tanta proteção do estado e que sua eleição pode ser um marco para os direitos gays no Brasil?
Jean Wyllys - Acho que os gays não gozam de tanta proteção do estado e de um conjunto de proposições legislativas e dispositivos legais que os protejam também por que não têm representantes e eles são incapazes neste momento de se organizar politicamente e eleger representantes que possam lutar por isso que eles não têm. A comunidade gay existe e está inscrita na topografia das cidades e é constituída pela própria injúria de que ela é vítima. A injúria contra os homossexuais acaba construindo a homossexualidade no seu coletivo, e eles existem como um coletivo disperso, sem um projeto político em comum, e esta incapacidade de se juntar e traçar um projeto político em comum faz parte da estratégia do sistema para destruir a auto-estima das pessoas pra que elas não conquistem direitos. Guardando as devidas proporções, o mesmo acontece com os negros e com as mulheres. Não vou fazer um exercício de futurologia e dizer que serei este expoente. Eu sou apenas um militante dos direitos humanos e que acredita que podemos construir um mundo onde o bem de todos seja levado em conta, num estado democrático de direito, um estado de bem estar social que possa usar parte de sua riqueza para o bem do seu povo. Eu estou pensando no direito de expressão da sua identidade e do seu afeto, um povo rico não é só um povo sem pobreza, mas um povo livre para expressar suas diferentes identidades, suas diferenças. Não fui eleito pelo movimento e meu compromisso com o movimento passa apenas por aí, pelas causas em comum, não tenho outra aliança com o movimento que não seja essa. Respeito o movimento LGBT, acho que ele tem acertos e equívocos, e que sua principal tarefa, que era ampliar sua base social, ele não fez durante estes anos, então ele tem representação midiática, mas não tem base social. A tarefa de despertar a consciência no grande público LGBT não foi feita ainda, esta para ser feita e acho que minha atuação política colabora pra isso.
O polêmico pastor evangélico Silas Malafaia tem um discurso muito incisivo contra os direitos dos homossexuais e fala do risco da criação de uma ‘ditadura gay’, após a aprovação da união civil entre pessoas do mesmo sexo e da proposta de lei contra a homofobia. Você acredita que este risco existe, ou, pelo contrário, há o risco de ter cada vez mais influência da igreja no Estado, com a eleição de deputados e senadores ligados a grupos religiosos?
Jean Wyllys - Vou citar as palavras do Pastor Ricardo Gondim, que eu respeito muito e que prova que o cristianismo tem quadros que são totalmente o contrário destes fundamentalistas: “Deus me livre de um Brasil evangélico”. Quando eu digo isso, eu digo de um país fundamentalista, que cerceia a liberdade de expressão, nossas manifestações culturais, que censure a nossa música, que transforme a TV num espaço de reprodução de seus dogmas. Neste sentido, corremos muito mais risco de termos uma ditadura fundamentalista cristã do que uma ditadura gay.
O deputado federal Jean Willys (Psol-RJ) passou por João Pessoa em setembro e pude conversar com ele. em entrevista exclusiva, durante cerca de 15 minutos. Apesar da conversa breve (e franca), conversei sobre homofobia e movimento LGBT. Confiram o material (com fotos de Cleide Teixeira). Ele também pode ser lido na edição desta quinta-feira do Jornal da Paraíba.
Como você avalia os números de assassinatos motivados por homofobia na Paraíba? Já foram 17 só neste ano.
Jean Wyllys - Estes dados comprovam uma tendência que as estatísticas frágeis comprovam de que os estados do Nordeste são estados com grandes índices de homofobia, a despeito de São Paulo, onde os crimes de homofobia têm crescido de forma assustadora. Isso acontece porque nos estados do Nordeste o machismo, o sexismo, a homofobia, vigoram com mais força do que nos estados do Sudeste. Nós lidamos com estatísticas precárias, a gente não tem um instrumento de avaliação dos crimes homofóbicos, apenas um levantamento que é feito pelo GGB com uma metodologia que não é precisa, enquanto a Secretaria de Direitos Humanos, através da Ministra Maria do Rosário vem tentando desenvolver estatísticas mais precisas com o Disk-100. O que eu posso avaliar em relação a estes crimes aqui na Paraíba é isso, a confirmação de uma tendência. É lamentável. A maioria das vítimas desses crimes são travestis e transexuais, confirmando outra tendência, de que o segmento mais vulnerável da comunidade LGBT são as transexuais, que já sofrem uma violência ao serem excluídas do mercado de trabalho e são empurradas deliberadamente para a prostituição. Elas se tornam vulneráveis ao tráfico internacional de pessoas, ao trabalho escravo sexual e a violência, seja por conta de quem alicia e explora o serviço delas, seja por quem freqüenta a noite.
Você acredita que hoje os casos de violência contra homossexuais estão mais comuns ou apenas estão sendo mais divulgados?
Jean Wyllys - As duas coisas. Os casos hoje são mais divulgados, já que a população tem mais instrumentos de divulgação desses crimes, como as redes sociais, o YouTube, os blogs, e antes a primazia da divulgação desses crimes era da imprensa. Hoje pessoas comuns podem fazer denúncias e servir até de fonte pra imprensa. Mas o número de crimes está aumentando como uma reação as conquistas da comunidade LGBT, que tem feitos conquistas significativas em termo de visibilidade, já que o Brasil é o país com maior número de Paradas Gays no mundo, temos as conferências LGBT em todo o país, a Conferência Nacional, etc. Estas conquistas têm provocado uma reação nos setores mais conservadores que tem respondido, não só com campanhas difamatórias, mas também com os crimes propriamente ditos.
Por que é tão difícil aprovar legislações específicas em relação aos direitos gays no Congresso? A PLC 122, chamada de lei contra a homofobia, por exemplo, não consegue avançar…
Jean Wyllys - Porque os direitos LGBTs fazem parte do que se convencionou chamar de ‘causas polêmicas’. Existem as causas unânimes, como os direitos das crianças, o meio ambiente, dos idosos, e destes, nenhum parlamentar pensa duas vezes antes de dizer, ainda que seja da boca pra fora, que são a favor. Mas muitos deles se colocam publicamente contra a cidadania LGBT e esta é a principal dificuldade na aprovação de leis. A homossexualidade é tratada como uma questão moral e não como uma questão da violação de direitos humanos, de liberdades civis. Muita gente acha que é legitimo alguém perder direitos ou ser violados nos seus direitos humanos por ser homossexual e é o mesmo pensamento que já norteou, por exemplo, a violência contra os negros, contra as mulheres. Muita gente achou que era legítimo e ‘natural’ que as mulheres não votassem, porque elas seriam ‘naturalmente inferiores’, um pensamento que hoje e rechaçado por ser absurdo e que muito tempo foi sustentado por políticos. Já hoje, você vê que um pensamento como este é sustentado por vários parlamentares, inclusive por parlamentares aqui da Paraíba.
Você acredita que os parlamentares que aparecem criticando a luta dos homossexuais publicamente, como Jair Bolsonaro (PP-RJ) ou Marcos Feliciano (PRB-SP), querem apenas ganhar visibilidade com a polêmica?
Jean Wyllys - São oportunistas porque querem
construir uma cortina de fumaça para que a população não preste atenção
naquilo que interessa mesmo. Pra mim, o que deveria importar para a
população são as igrejas neopentecostais gozarem de livre isenção
fiscal e arrecadarem milhões de reais sem prestar contas a sociedade.
Você viu que recentemente o Ministério Público de São Paulo ajuizou
ação contra Edir Macedo (bispo da Igreja Universal e da TV Record) por
lavagem de dinheiro, evasão de divisas e formação de quadrilha. Você
pode imaginar o quanto do dinheiro para saúde, segurança pública,
educação já foi desviado nesta evasão de divisas por sonegação? Isso
deveria ser de interesse da população. Mas quando você levanta a
questão da homossexualidade como uma questão moral você cega a
população para aquilo que realmente interessa. São caroneiros,
oportunistas, que não tem uma agenda nem um conjunto de trabalhos para
o Brasil e que aparece publicamente e ganham espaço rechaçando os
direitos dos homossexuais.
Ficou alguma mágoa por você não ter tido apoio do Movimento
LGBT durante sua campanha, que agora tanto reivindica em seu mandato?Jean Wyllys - Não ficou nenhuma mágoa, os LGBTs não têm culpa de não apoiarem os seus quadros, da mesma maneira que as mulheres e negros não tem culpa de serem sub-representadas no Congresso Nacional. Mulheres, negros, indígenas e homossexuais são primeiro destruídos na relação que tem consigo mesmo. O primeiro sintoma para desarticular politicamente estes grupos é destruir a relação positiva que eles podem ter consigo mesmo e com seus semelhantes, fazendo com que os negros introjetem o racismo, que as mulheres introjetem o machismo, que os gays introjetem a homofobia. O fato dos LGBTs não votarem nos seus quadros é fruto desta homofobia internalizada, então não tenho nenhum tipo de mágoa por conta disso.
O Movimento LGBT nunca teve um representante legitimo, apesar de já ter tido deputadas e senadores que lutaram pelos direitos dos homossexuais. Você acredita que por conta disso os gays não gozam de tanta proteção do estado e que sua eleição pode ser um marco para os direitos gays no Brasil?
Jean Wyllys - Acho que os gays não gozam de tanta proteção do estado e de um conjunto de proposições legislativas e dispositivos legais que os protejam também por que não têm representantes e eles são incapazes neste momento de se organizar politicamente e eleger representantes que possam lutar por isso que eles não têm. A comunidade gay existe e está inscrita na topografia das cidades e é constituída pela própria injúria de que ela é vítima. A injúria contra os homossexuais acaba construindo a homossexualidade no seu coletivo, e eles existem como um coletivo disperso, sem um projeto político em comum, e esta incapacidade de se juntar e traçar um projeto político em comum faz parte da estratégia do sistema para destruir a auto-estima das pessoas pra que elas não conquistem direitos. Guardando as devidas proporções, o mesmo acontece com os negros e com as mulheres. Não vou fazer um exercício de futurologia e dizer que serei este expoente. Eu sou apenas um militante dos direitos humanos e que acredita que podemos construir um mundo onde o bem de todos seja levado em conta, num estado democrático de direito, um estado de bem estar social que possa usar parte de sua riqueza para o bem do seu povo. Eu estou pensando no direito de expressão da sua identidade e do seu afeto, um povo rico não é só um povo sem pobreza, mas um povo livre para expressar suas diferentes identidades, suas diferenças. Não fui eleito pelo movimento e meu compromisso com o movimento passa apenas por aí, pelas causas em comum, não tenho outra aliança com o movimento que não seja essa. Respeito o movimento LGBT, acho que ele tem acertos e equívocos, e que sua principal tarefa, que era ampliar sua base social, ele não fez durante estes anos, então ele tem representação midiática, mas não tem base social. A tarefa de despertar a consciência no grande público LGBT não foi feita ainda, esta para ser feita e acho que minha atuação política colabora pra isso.
O polêmico pastor evangélico Silas Malafaia tem um discurso muito incisivo contra os direitos dos homossexuais e fala do risco da criação de uma ‘ditadura gay’, após a aprovação da união civil entre pessoas do mesmo sexo e da proposta de lei contra a homofobia. Você acredita que este risco existe, ou, pelo contrário, há o risco de ter cada vez mais influência da igreja no Estado, com a eleição de deputados e senadores ligados a grupos religiosos?
Jean Wyllys - Vou citar as palavras do Pastor Ricardo Gondim, que eu respeito muito e que prova que o cristianismo tem quadros que são totalmente o contrário destes fundamentalistas: “Deus me livre de um Brasil evangélico”. Quando eu digo isso, eu digo de um país fundamentalista, que cerceia a liberdade de expressão, nossas manifestações culturais, que censure a nossa música, que transforme a TV num espaço de reprodução de seus dogmas. Neste sentido, corremos muito mais risco de termos uma ditadura fundamentalista cristã do que uma ditadura gay.
Comentários