O luxo musical no templo do consumismo

Por Sergio Vilar
No Diário do Tempo


A abertura da Semana da Música foi mágica. Momento único. Confesso meu preconceito camuflado na descrença de que a apresentação da Orquestra Sinfônica da UFRN no Norte Shopping atrairia tanta gente. E mais: com total atenção. Foram 45 minutos de peças clássicas e ouvidos atentos no primeiro e segundo pisos do shopping. Música erudita, refinada, entregue de graça no antro capital do consumismo – contraste total. Passantes, famílias inteiras, algumas com bebês no colo paravam para escutar. E ficavam. E ouviram durante quase uma hora, em pé, peças que de certo nunca ou pouco ouviram. E se encantaram. É o poder salvador da música, tal qual a poesia.O maestro André Muniz iniciou a apresentação às 19h30 com o hino nacional, acompanhado pelo coro do público. Em seguida, a peça Brasil Amazônico. Não lembro o autor. Mas achei o desenrolar muito lento, uniforme e, a princípio, mal escolhida para o local. Temi a debandada da galera pela morgação, digamos, da melodia – linda, para se ouvir em casa. Mas ninguém arredou pé! E fiquei eu e meu tal preconceito camuflado envergonhados. Talvez as peças mais familiares, pelo menos pra mim, foram uma trilha de desenho da Disney. A composição (salve, papai Google!) é de Edward Grieg, chamada Morning Mood (aqui). Belíssima! E a outra, nosso clássico Royal Cinema, de Tonheca Dantas.

André Muniz marcou um gol no ângulo quando apresentou e executou uma peça também muito massa de um dos alunos da Orquestra, Williames Costa, pianista nascido e criado na Zona Norte. Aplausos efusivos para ele e ao fim de todas as execuções. Realmente um momento único. Pena nenhum veículo de mídia ter comparecido. Nem mesmo a InterTVCabugi, que assegurou presença. Fica a dica para as próximas edições. E por falar de mídia, ouvi lá pelo DN que neste domingo sai matéria a respeito do mercado de luxo em Natal. Pra mim, essa abertura da Semana da Música no Norte Shopping foi a maior oferta gratuita de um produto de luxo que vi nos últimos anos.

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