Osvaldo Orlando da Costa formou-se em engenharia em Praga, na ex-Tchecoslováquia. Regressou ao país em 1963, militando no PC do B. Em 1964 teve seus direitos políticos cassados com o golpe militar. Chegou à região do Araguaia, para instalar a guerrilha, entre 1966 e 67.
Foi o autor da primeira morte militar durante a guerrilha, quando durante um encontro na mata com uma patrulha do exército matou a tiros o cabo Odílio Cruz Rosa.
Osvaldão foi morto com um tiro de carabina quando descansava num barranco, em 4 de fevereiro de 1974, nos estágios finais da ofensiva militar que aniquilou a guerrilha, pelo mateiro Arlindo Vieira 'Piauí', um conhecido seu que na época havia virado guia das patrulhas militares. Seu corpo foi pendurado num helicóptero que sobrevoou várias áreas da região a mostrar aos caboclos locais que o 'imortal' guerrilheiro estava morto. Decapitado por um sargento do exército, seus restos foram deixados na mata e nunca encontrados.
Um militar que testemunhou o fato comenta:
"Vi cortar a cabeça do Osvaldão. O sargento pegou a faca, lubrificou a faca e disse: "é bandido, tu agora não mia mais (...)". Ai pegou a faca, pegou a cabeça dele, botou um pau em baixo e foi cortando. Foi cortando, cortando, cortando. E eu não tive coragem de olhar até ele terminar. Na hora que ele cortava eu não agüentei e afastei pra trás.
Aí o sargento me empurrou pra frente e disse: "tu tá punindo (torcendo) por ele? Se tu não aguenta, tu tá punindo por ele. Tu é mesmo terrorista". Aí me empurrou e eu caí no pau. Aí o sargento disse: "De hoje em diante se tu chegar com a FAL cheia de bala na repartição onde nós vamos te encaminhar, você vai seguir o mesmo caminho que eles estão seguindo. Você está punindo por eles. Você não dá nenhum tiro". Fazia 20 dias que a gente andava, e eu não tinha dado nenhum tiro. Aí deram fé (notaram).
Disseram que ia seguir o mesmo caminho deles, que iam me cortar a cabeça. Me fizeram medo, né?
[O corpo] ficou lá no lugar que mataram ele, na beira da lagoa. Enterraram não. Largaram no meio da mata. Todos que morrem, papa-mickey, eles deixam no meio da mata. E não é de todos que eles tiravam a cabeça, não. Só daqueles mais afamados.
Agora, não sei nem pra quê, nem porquê".
Osvaldão não é um nome de referência apenas na história do PC do B, como também na história da luta contra a ditadura militar instalada no Brasil a partir de 1964.
Osvaldão foi lembrado hoje de maneira involuntária por Ricardo Noblat:
Orlando está ocupando o lugar de Osvaldo? O ato falho aponta para as similitudes. Orlando e Osvaldo são comunistas, negros, altos, fortes. Aponta também para a morte [política] covarde a que está sendo arrastado o ministro Orlando Silva. Seu corpo será exibido em praça pública, cabeça cortada, mito desfeito.
Orlando está sendo executado pela mídia com o decisivo apoio do governo central. Tiro pelas costas. Sem chance de defesa. Orlando repete, midiaticamente, o triste fim de Osvaldão, um dos insepultos das matas do Araguaia. Aquele que, engenheiro, era chamado de boxer, porque negro engenheiro, você sabe, não pode ser.
E ministro comandando a Copa? Pode ser negro, nordestino e comunista? Pelo visto, não pode. Nem para mídia, nem para o governo.
Tiro à traição.
Do próprio partido.
Partido, aliás, que aceitando como inevitável a queda trai a luta de sua militância que se expôs ao enfrentamento público das calúnias na última semana para, em troca do cargo, perder a honra. Entregue-se o cargo, mas não se entregue a honra. Não entregue o corpo que a mídia tanto almeja. Se alguém tiver de apresentar um corpo, que seja Dilma.
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