Escândalo entre os batistas: resposta a alguns comentários

Recebi alguns comentários que merecem respostas a respeito da venda do terreno dos batistas no Barro Vermelho. Os meus leitores sabem quanto espaço tenho dedicado aqui a combater crimes de colarinho branco e corrupção. Aprendi a suspeitar de negócios com potencial de ilegalidade. Dito isso, vamos aos comentários.
O primeiro deles foi assinado por João Marcos Bezerra:
A autorização p/ a venda do terreno foi aprovada na assembléia da convenção em Mossoró. Dê uma checada.
Deus abençoe! 

Já tratei dessa questão aqui. Uma das primeiras perguntas feitas na assembléia de quinta-feira foi de porque uma nova assembléia para tratar do assunto, convocada a pedido da construtora, se em 2010 a convenção já tinha aprovado a venda. O presidente Antônio Targino não respondeu, nem o advogado da Record. Apenas o pastor Evilásio teve ousadia: a assembléia teve de ser convocada, com risco de o negócio ser desfeito, porque a ata da reunião de Mossoró não garantia a legalidade do negócio para a empresa.
Na nova assembléia, que serviria para referendar a decisão, a necessidade de dois terços dos votos existia - a votação não foi alcançada e a venda, portanto, não foi autorizada.
Os dois comentários seguintes, que clamaram por ética e democracia, foram, veja só, anônimos!

Se ver preocupacao nao com a convencao e seu trabalho, mas com empavia e interesse de uma so igreja, que trai acordado e ocupa o que nao e seu. Cria casuismo e tenta ate atingir moralmente lideres e membros da comissao. Basta vira o disco cara. Ser batista e ser democratico e etico. Deus ver os coracoes. 

A igreja Batista Viva tinha 25 delegados na reunião de quinta-feira. O não teve 115 votos. Somente isso prova que não se trata apenas do interesse de uma igreja isolada - que aliás poderia encontrar outro espaço se fosse desalojada daquele lugar.
Preservar ética e o interesse de uma coletividade não pode ser chamado de casuísmo. Não foi a IBaV quem convocou a assembléia e nem a seu pedido. Foi a própria convenção e a pedido da construtora, que não teve segurança jurídica para realizar o negócio. Agora, casuísmo sim é desrespeitar o que reza o estatuto para manter a venda. Ser Batista é ser ético e democrático - ou seja, permitir o contraditório e respeitar seus estatutos.
Espero que possamos, na justiça, esclarecer quem tem razão.

Publica. Como assim.. Foi so uma consulta e demonstracao de trans parencia dos contratos e trabalhos da comissao. A Igreja Viva ou volta p primeira Igteja ou compra um terreno. Abaixo a protelacao e casuismos. 


Não era uma simples consulta. Era uma assembléia extraordinária para deliberar sobre a venda. Caso fosse apenas consulta, não precisaria ser feita. Sendo realizada, exigia a maioria qualificada. Qualquer coisa diferente disso é golpe.
E o anônimo só pode estar querendo ser engraçado em propor a volta da Igreja Batista Viva para a Primeira Igreja Batista: há quase dez anos a PIB escorraçou aqueles que viriam a organizar a igreja Viva.

PS
Novos comentários.  O primeiro, de Angélica Vieira.

Angélica Vieira 
Daniel, você disse muito bem ao afirmar que essa questão deve ser resolvida na justiça. A questão da venda já havia sido votada em uma assembleia regular em Mossoró. A assembleia ocorrida na última quinta-feira tinha o único objetivo de atender a um pedido da construtora, e não o de votar novamente algo que já foi decidido sobre a alienação do bem. Quanto aos 2/3 de votos citados, o estatuto é muito claro. Trata-se do total dos membros presentes, e não da natureza do voto. Além disso, infelizmente, está sendo causado um escândalo desnecessário junto à sociedade natalense, expondo e manchando o nome dos batistas e do evangelho. É necessário refletir e ter respaldo antes de realizar afirmações e acusações levianas na mídia. Portanto,essa atitude pode trazer consequências negativas junto à justiça. Não sou contra a diversidade de opiniões, pois isso é natural, mas creio que os cristãos devem se respeitar e se unir, discutindo soluções com decência e ordem, conforme a Palavra de Deus nos ensina. Utilizar palavras agressivas não constitui a melhor forma de se resolver uma divergência de ideias. 

Já mostrei em outro post que não tem o menor sentido afirmar que o artigo 30 do Estatuto fala em quorum, não em maioria qualificada.  Vou repetir aqui:

Qualquer ato que importe em alienação de bens imóveis em nome da Convenção necessita de sua prévia autorização, em Assembléia Geral, em que votem 2/3 (dois terços) dos mensageiros presentes na hora da votação"

Como já disse aqui, a votação da última quinta-feira à noite não alcançou  2/3 dos votos favoráveis.   Ainda assim, membros da diretoria da igreja argumentaram que o artigo 30, transcrito acima, se refere ao quorum necessário na votação , não se tratando da definição da necessidade de uma maioria qualificada.
O que foi dito? Que o artigo prevê, por exemplo, que numa convenção em que existam 300 inscritos, a assembléia em que se decida a alienação de patrimônio precisaria ter no mínimo 200 presentes (quorum de 2/3).
Evidentemente não é disso que trata o artigo.  Caso fosse, estaria se referindo explicitamente a quorum.  Mais que isso, o texto não falaria sobre "2/3 (dois terços) dos presentes na hora da votação".  O relativo "que", para mim é evidente pela presença da frase final, se refere a "autorização".  Ou seja, para venda do imóvel seria necessário a autorização de 2/3 dos presentes na hora da votação.  Eram 262 presentes, votaram a favor 144.  Para a venda acontecer, era necessário o voto de 175.  A venda não foi autorizada.  Qualquer ação diferente disso é golpe.

Abstenção conta como voto, como podemos depreender de um caso que citarei como analogia. Em dezembro passado foi apresentado um pedido de impeachment contra a prefeita Micarla de Sousa (PV) na Câmara Municipal de Natal. Estavam presentes na votação vinte dos 21 vereadores. Foram cinco abstenções, com oito votos a favor e sete contra. O processo não foi aberto porque as abstenções contam - se não contassem, bastavam os oito votos e a maioria simples. Com as abstenções, seriam necessários onze votos para que o processo fosse aberto.
Uma possibilidade de interpretação do artigo 30 do estatuto da Convenção que justifique o ponto de vista exposto seriam as abstenções não contarem como votos. Mas contam.
Sobre a ameaça velada de processo contra mim, não tenho o que temer.  Enfrento neste espaço pessoas mais temíveis que a Convenção Batista Norteriograndense - que afinal de contas são meus irmãos.

Nelson Sousa
Nota: Pastor Evilásio não disse que a ata da convenção em Mossoró estava irregular. As palavras dele foram deturpadas, assim como todo o resto.


Pastor Evilásio foi o único que respondeu à pergunta de Lael, deixando claro que a nova reunião era necessária porque a ata da reunião de Mossoró não dava segurança jurídica ao negócio para a empresa, por mal escrita que estava.  Em outras palavras, a ata estava irregular.

Comentários

Lael disse…
cometário este postado no blog:
"Se ver preocupacao nao com a convencao e seu trabalho, mas com empavia e interesse de uma so igreja, que trai acordado e ocupa o que nao e seu".
Peço por favor que, a bem da verdade pública cite, qual a igreja que "...trai o acordado e ocupa o que não é seu?...
Daniel, em nenhum momento foram realizadas ameaças contra você. Eu só acho que uma ação traz consequências, e eu só falei na questão da justiça porque você mesmo citou. Mas é com muita tristeza que vejo toda essa situação e a forma como vem sendo conduzida. Devemos agir sempre em amor. Como você mesmo disse, somos irmãos, portanto, não devemos ficar alimentando discussões e julgamentos acerca do caráter de outras pessoas. Somente Deus conhece a intenção do coração de cada um. Além disso, Ele tem uma visão mais ampla que a nossa, e com certeza, está no controle de todas as coisas.
Angélica Vieira
Ana Paula Ferreira Felizardo disse…
Estimado Daniel,

Passo para parabenizá-lo pela qualidade dos conteúdos postados no seu blog.

Considero os seus registros permeados de elevada importância pois o acesso a informação é um direito inerente da pessoa humana e os batistas do RN precisam acompanhar essa discussão de interesse público.

Compreendo que deve prevalecer um debate maduro e votos conscientes após exame de consciência acerca da responsabilidade que se constitui essa operação de venda de um patrimônio estimado em mais de 5 milhões.

O momento deve ser encarado como importante e necessário pois sinaliza que a comunidade está atenta e interessada razão pela qual devemos estimular a participação social dos membros nesse processo.

Os votos contrários e as abstenções sinalizam que não há unanimidade e nem consenso, o que impõe ainda mais cautela nos encaminhamentos.

Entendo que tudo está sujeito a um vir a ser contínuo, ou seja, a vida é dialética, a linearidade é uma utopia. Nesse sentido, as mudanças são certas pq nada está escrito em pedras.

Cabe-nos aprender a ouvir a diversidade de opiniões, conhecer as diferentes alternativas de otimização do patrimônio e o mais importante saber recuar quando dúvidas são suscitadas.

Compareci na referida Assembleia Geral, na condição de ouvinte, e fiquei muito chocada com a falta do debate efetivo de idéias, de propostas, de projetos e ainda mais com o corte nas falas, com o indeferimento de apresentação outras alternativas sobre a mesma seara. Como ser democrático sem assegurar a efetiva participação?

Desagradou-me observar a avidez da mesa pela aprovação da matéria. Esperava que os líderes da Convenção conduzissem os trabalhos com a devida neutralidade e imparcialidade pois se trata de um bem oriundo de doações, para uso comunitário e caberia a defesa apaixonada pela venda do patrimônio se fosse uma propriedade privada.

Os riscos são proporcionais a magnitude da operação financeira.

Fiquemos atentos!

Um abraço,
Ana Paula Ferreira Felizardo
Anônimo disse…
Ana Paula Ferreira Felizardo, a assembléia era apenas para ratificar! e não expor idéias, propostas ou pensamentos. Realmente o ditado está certo "o dinheiro é a raiz de todos os males", Não permita que o diabo feche os seus olhos e faça você pensar em coisas incertas a respeito do que o que farão com o dinheiro da venda! Jesus foi ousado para realizar obras e seguiremos o seu exemplo!

graça e paz!
Edilane kelly disse…
Parece que os olhos que "o diabo está fechando" não são os da Ana Paula Felizardo. Creio que antes de comentar os anônimos deveriam se informar melhor sobre a história das "vendas" do patrimônio Batista.

Kelly Lima.