#NatalMinhaCasaMinhaVida: Tuitaço propõe discussão sobre obras da Copa em Natal

O nome dele é Abimael Lopes Pereira e é um dos símbolos dos impactos e transtornos que estão sendo gerados pelas obras da Copa 2014 em Natal. Na frente de seu comércio - em cujo primeiro andar reside com sua família - dispôs uma faixa em que sintetiza: “Esta é minha casa, minha vida”.

Abimael foi personagem da série de sete matérias sobre as obras da Copa 2014 em Natal exibida desde a semana passada pelos programas da ESPN Brasil. Se as obras causam transtornos e, mais que isso, violação flagrante de direitos dos impactados, as reportagens geraram reações as mais estapafúrdias. Principalmente da parte dos poderes públicos locais, assim como de jornalistas, ligados ou não, aos interesses em questão. Um desses jornalistas, que classificou o jornalismo da ESPN de canalhice, é assessor da Federação das Indústrias do RN - o que parece indicar que não se pronunciou como formador de opinião pública mas como porta-voz dos industriais do estado.

Abimael dispôs a faixa em seu comércio porque, como diz à reportagem, a oferta da prefeitura era que ele trocasse um imóvel que valia R$ 900 mil por uma casa do Programa Minha Casa, Minha Vida. "Dá vontade de pegar uma corda, colocar no pescoço e se enforcar", esbravejou à reportagem.

Os atingidos pela Copa em Natal - assim como nas outras sedes - são invisíveis sociais. E seria muito bom para os que mais ganham com os negócios trazidos pela Copa e pela Fifa que permanecessem invisíveis. Com raras exceções, em Natal ninguém na mídia hegemônica havia dado espaço para seus questionamentos e pontos de vista daqueles que estão sendo mais impactados.

Nós já conhecemos as histórias daqueles e daquelas que, no meio do caminho das obras de mobilidade, sequer foram procurados para negociar. Mas as matérias da ESPN foram importantes para denunciar coisas óbvias.

Primeiro, ao contrário do que deveria ter acontecido, os projetos de mobilidade não apresentam alternativas ou possibilidades para apresentação de alternativas. Foram atrasados, propositadamente ou por incompetência mesmo, ao ponto de a prefeitura ter dito em audiência pública no fim do ano passado que a única coisa a se negociar com os moradores seria o valor das indenizações.

Em segundo lugar, vários projetos estruturantes relacionados à Copa foram pensados e estão sendo executados de forma exógena - por técnicos e especialistas de outros lugares que não conhecem a realidade local (nem social, nem econômica, nem estrutural ou ambiental). Isso foi denunciado nas matérias da ESPN, por exemplo, pela professora Maria Cristina, do Departamento de Arquitetura da UFRN, no que se refere ao Aeroporto de São Gonçalo.

Por fim, os representantes do poder público e/ou seus porta-vozes partiram para o ataque para desqualificar aqueles que foram ouvidos pela ESPN e os que articulam a luta. Tiro n’água. Uma das mais pueris críticas que li foi de alguém que acusou a ESPN de ter sido ludibriada por grupo político ligado à Wilma de Faria. Quer dizer que 429 famílias que serão desalojadas pelas obras da Copa não têm o direito de lutar sem que isso seja confundido com uma questão partidária? Quer dizer que os membros do Ministério Público, da Procuradoria do Município ou de entidades como a OAB, que fazem parte do Comitê Popular da Copa em Natal e apoiam a APAC (Associação Potiguar dos Atingidos pela Copa) são atores interessados em desestabilizar a realização da Copa em Natal por causa de uma questão partidária?

A ESPN teve o mérito de despertar a opinião pública natalense para a discussão sobre os impactos das obras da Copa sobre a população da cidade, em particular a mais excluída e pobre de nossas periferias.

Dessa discussão, seu Abimael Pereira virou símbolo. Essa discussão vai ser mobilizada na tarde de hoje, a partir das 15h, por meio de um tuitaço com a frase que ele cunhou: #NatalMinhaCasaMinhaVida. Participe e conheça outros lados que você, provavelmente, criticou sem conhecer.

Comentários

Natércio disse…
Companheiro, amigo, esse tipo de atitude hoje é eleitoreira!
Carlos Teixeira disse…
Cobrar dos gestores o cumprimento da lei não é eleitoreiro, é CIDADANIA.