Operação Sinal Fechado: Cassiano Arruda apoiava Inspar e sabia do milhão de José Agripino, diz Alcides

Terminei de assistir hoje a primeira parte do depoimento de Alcides Barbosa, prestado em colaboração premiada com o Ministério Público, no contexto da Operação Sinal Fechado.
Enquanto assistia ao filme, fui postando no twitter algumas observações desde ontem.  Ao fim do primeiro dia de depoimento as observações que anotei somam 28 páginas.  Evidentemente ainda não tenho condições de sistematizar tudo, mas resolvi fazer alguns destaques aos poucos - como os que dizem respeito à participação de Batista Júnior, da Friboi, no esquema.  O contato com a Friboi, realizado por meio de Eduardo Patrício, foi articulado pelo empresário mineiro Gil Pierre Henck - de muita influência no Ministério dos Transporte.  O objetivo era tornar o esquema de George Olímpio nacional.  Para tanto, Gil garantiria a autorização e homologação dos selos de inspeção para o grupo.  Batista Júnior teria, inclusive, se filiado ao PSB por influência de George Olímpio e Iberê Ferreira.  Ambos estiveram na festa de filiação do dono da Friboi.
Outro personagem que aparece com frequência, mas sem ser um dos mais importantes protagonistas, é o jornalista Cassiano Arruda Câmara.  Em 16 de dezembro, publiquei uma entrevista que fiz, por e-mail, com Cassiano.  Mesmo por e-mail, a entrevista revelou toda a ira de Cassiano:

Nesses mais de 40 anos de jornalismo, nem no tempo da Ditadura, havia presenciado qualquer patrulhamento sobre o relacionamento entre fonte e jornalista, tratando de um fato de interesse público, como é o caso em tela. Aliás, para exercer a profissão de repórter não dá para selecionar o conceito – ético ou moral – de suas fontes. Embora no caso, houvesse a oferta de um Ministro aposentado de Tribunal Superior
Quanto a insinuação descabida de taxar a coluna, que escrevo há 39 anos e meses, como matéria paga, repilo por não ter essa pratica em toda uma vida (usando seu raciocínio você me dá o direito de indagar: - quem pagou para você me inquirir desta forma?). E, se você não tivesse se colocado com meu ex-aluno, o único caminho era partir para o desaforo. – Como, usualmente, é usada a régua do próprio caráter para medir o comportamento alheio, dispenso-me de dar resposta merecida
A publicação de anúncios e matéria de interesse da empresa que se preparava para ganhar uma concessão governamental no NOVO JORNAL foi tratada no local próprio: - O Departamento Comercial.
O escritório do advogado George Olimpio tem contrato de advocacia de partido com a empresa que edita o NOVO JORNAL, que não tem reclamações a fazer sobre a natureza do serviço contratado e pago; assim como já recorremos a outros escritórios.
Em relção ao comentário sobre insegurança jurídica, sobre uma demanda do Sindicato da Industria da Construção Civil sem nada a ver com a inspeção veicular, mantenho-o, integralmente e até poderia repetí-lo hoje. Lembrando que a Promotoria do Meio Ambiente foi de onde partiu a sugestão para se fazer inspeção veicular no RN (assunto que tive oporunidade de comentar, agora depois de deflagrada a tal Operação - "Falta alguém na Operação Sinal Fechado)..
Acho que não deixei de responder a nenhuma questão do seu interrogatório, mas, se quiser mais alguma coisa comigo estou pronto a atendê-lo, no meu escritório. Afinal não disponho de tanto tempo além de minhas obrigações diárias, para cumprir pauta feita por filho da puta nenhum; espero já ter virado essa página... Aliás, depois dos 65 anos de idade tive a audácia de montar um jornal para não ficar querendo estabelecer linha editorial para veiculo de comunicação nenhum a não ser o meu (devendo explicações só ao seu leitor). É o que tenho procurado fazer nesses mais de dois anos, sem dar a ninguém - a ninguém mesmo - o gosto de estabelecer a linha editorial.
Antes de prosseguir, uma observação. Notaram como a argumentação no primeiro parágrafo se assemelha à defesa que Veja tem feito de sua própria relação com Carlinhos Cachoeira?
Alcides Barbosa esteve com Cassiano, no Novo Jornal.  George Olímpio havia viajado e o empresário paulista foi falar com o jornalista sobre a negociação para a manutenção do contrato com o Consórcio Inspar.  Alcides tinha sido informado pelo publicitário Rui Nogueira - com quem Cassiano havia trabalhado em campanhas e de quem se considerava amigo - que o dono do Novo Jornal era "verdadeiro"e "o melhor amigo de Carlos Augusto [Rosado]".
No encontro com Cassiano, Alcides diz ter escutado do jornalista que isso "aí tá uma droga, deu essa confusão aí porque Carlos Augusto não queria que José Agripino pegasse esses cheques e George tá falando um monte de besteiras”.
Cassiano tinha interesse de manter a inspeção veicular.  Entre outras coisas, porque a Art&C era a agência do Consórcio Inspar.  Mas, premido pelas circunstâncias, o jornalista recuou.  Diz Alcides:
"Cassiano discorda bem depois... No começo ele torcia para dar certo... A agência deles tinha as contas do governo, né? George tinha acertado com Arturo que a agência do Arturo ia fazer toda a divulgação do Inspar... E Arturo tinha sido contratado pelo governo. Cassiano falou: “Olha a situação que eu estou: são quatro anos de governo e George quer que eu faça a Inspar? Não tem jeito....'".
Mais adiante, Alcides explica que um e-mail citado por ele em uma das interceptações - que teria ido direto na veia e sido escrito pelo "pai de nosso amigo"- provavelmente tinha sido escrito por Cassiano: ele, Cassiano, era o "pai de nosso amigo", Arturo.

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