Operação Sinal Fechado: Expedito Ferreira processa Alcides Barbosa

A Tribuna do Norte de ontem informou que o desembargador Expedito Ferreira decidiu processar Alcides Barbosa.  Barbosa, em seu depoimento prestado em colaboração premiada ao Ministério Público estadual, disse que George Olímpio, entre fevereiro e novembro de 2011, pagava um valor mensal de R$ 100 mil ao diretor-geral do Detran, Érico Ferreira, que seria dividido meio a meio com seu pai, o desembargador Expedito.
Desde o início da publicação das investigações, primeiro da Pecado Capital e depois da Sinal Fechado, a proximidade de Expedito com as organizações criminosas era evidente - ainda que não ganhasse as páginas dos jornais.  E esse envolvimento não dependia do depoimento de Alcides para se comprovar.
Em 27 de novembro, por exemplo, três dias após a operação Sinal Fechado, publiquei o seguinte post:



Levando em consideração que o atual diretor-geral do DETRAN é Érico Ferreira, filho do desembargador Expedito Ferreira, resta-nos a curiosidade de quem é o Expedito que falou com Carlos Augusto Rosado:
Mais adiante, na petição, há um outro indício sobre quem é Expedito:
Mais adiante, a petição esclarece:
Aí se você volta e lê a primeira transcrição, lá no alto, e se espanta: Expedito interveio junto a Carlos Augusto Rosado para, aparentemente, ajudar a quadrilha.
No mesmo dia, falei de como Expedito e Érico ficaram conhecendo a organização neste post:



Aparentemente parte da quadrilha não acha que o novo governo quer extinguir os negócios, apenas tirar Lauro Maia e Wilma de Faria da jogada.
Alcides esclarece que Marcus Vinícius, ao ser exonerado do cargo no Detran, revelou todo esquema ao novo diretor, Érico Ferreira, para garantir a continuidade dos negócios de inspeção veicular e do registro de veículos.  O pagamento de George a Érico e Expedito tinha a ver com o negócio de registro de veículos.
O contrato do Detran com a Planet, empresa da qual George era sócio-oculto, foi renovado de forma emergencial em junho.  E no dia 25 de novembro, dia seguinte à deflagração da operação, ocorreria mais uma licitação para o serviço de registro de veículos pelo Detran.  Na busca e apreensão, o MP encontrou as provas nos escritórios de George Olímpio de que a licitação seria fraudada em favor da continuidade do contrato com a organização criminosa.  Essa fraude seria operacionalizada por Érico Ferreira.
Antes disso, o nome de Expedito também é referido nas interceptações da Operação Pecado Capital.  Aparentemente, havia uma pessoa de Expedito Ferreira atuando como fantasma no IPEM sob o comando de Rychardson Macedo.  Um diálogo entre Daniel Bezerra e Rychardson Macedo, interceptado no contexto da Operação Pecado Capital, cita dois desembargadores:

- Ele botou a Sayonara, a de Saraiva?, pergunta Rychardson.
- Botou, botou também... a de Expedito também, respondeu Daniel.
É... por um lado é bom, conclui Rychardson.
Aliás, Daniel Vale Bezerra, quando denunciado pela Operação Pecado Capital, era procurador jurídico do Detran/RN na gestão de Érico Ferreira.  Ou seja, há um imbricamento das operações ao menos nesse ponto.
Um observação sobre Saraiva Sobrinho.  De início, Saraiva não era tão diretamente citado na Operação Sinal Fechado. No entanto, ele demonstrou proximidade com o caso. Primeiro, Edson Faustino, investigado e filho do preso João Faustino, é seu assessor jurídico. Nessa condição, deferiu uma liminar em favor da organização criminosa do INSPAR em abril de 2011.
Depois, quando assumiu o TRE, além de levar consigo Edson Faustino, nomeou o genro de João Faustino, Marcus Procópio, como coordenador de patrimônio. Marcus também é um dos réus na Operação Sinal Fechado.
Publiquei aqui, também, a informação de que Saraiva teria recebido propina para remeter um agravo para a Justiça Federal em favor do Consórcio Inspar. George teria comprado um parecer por R$ 100 mil junto a um técnico do Ibama para justificar o interesse da União na inspeção veicular do RN.
Os indícios de envolvimento de Expedito - e também Saraiva - são anteriores ao depoimento de Alcides Barbosa.  Em seu depoimento, Alcides nega que soubesse de pagamentos a Saraiva para a migração da ação para a Justiça Federal.  Mas confirma a propina paga a Érico e a Expedito.
Esses argumentos em defesa do desembargadores e de Érico - alinhado a uma crítica severa ao MP e à Alcides - foram também apresentados pelo ex-procurador do estado, Hemetério Gurgel em sua coluna do Jornal de Hoje deste fim de semana.    Hemetério afirma, por exemplo, que Érico teria sido monitorado em seus telefonemas "por meras suposições de seu envolvimento".  E que a juíza Emanuella Cristina teria suspendido, em setembro, a interceptação por causa da inconclusibilidade dos dados coletados.   A decisão, segundo Hemetério, foi de 15.09.2011.  Deve ser a decisão abaixo, no âmbito do processo de número 0003280-61.2011.8.20.0001 (001.11.003280-3), em que constam as movimentações de interceptações e quebras de sigilo da investigação.



15/09/2011Decisão Proferida
Interceptação Telefônica - renovação enésima vez - defere em parte


Os indícios contra Érico Ferreira levaram o MP a incluí-lo na investigação.  Tanto, que o filho de Expedito se tornou réu.  Um documento apreendido na Montana comprova o pagamento de ao menos uma parcela de propina a Érico por meio da Montana, por exemplo.
Érico deixou o país dias antes da Operação ser deflagrada - segundo me foi dito por uma fonte, porque Expedito havia recebido a informação da ação do MP antecipadamente.  Érico teria ido para a Flórida, nos Estados Unidos, e ficado em um imóvel de Gilmar da Montana.
A suspensão de um monitoramento, decidida pela juíza Emanuella Cristina, pode ser em razão de vários motivos.  Por exemplo, o número do telefone está equivocado.
De fundo, no entanto, o que resta é que a defesa de todos os acusados, operada por eles, por advogados e por aliados em várias instâncias - inclusive na Procuradoria-Geral do Estado -, está violenta no sentido de desqualificar provas, circunstâncias, depoimentos e o ataque direto ao próprio Ministério Público.  Parece que entre outras intenções o grupo quer jogar a opinião pública contra as investigações.  Um grupo poderoso e desafiado em seu poder que, foi mantido, até hoje, na base de atividades criminosas e corrupção.

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