Era uma vez, a Petrobras

Rapidamente, passei o crachá pela última vez

Hoje foi meu último dia de trabalho na Petrobras.  Seis anos depois.

Esta, com certeza, não é uma carta fácil de ser escrita.

Ingressei na Petrobras em julho de 2006, após ser aprovado em concurso realizado no fim de 2005. Confesso que a Petrobras não era a minha primeira opção profissional – havia terminado o mestrado poucos meses antes, cursava disciplina como aluno especial no doutorado e pretendia seguir uma carreira acadêmica.

Acontece que fazer o concurso e entrar na Petrobras parecia uma boa idéia. E se revelou ser.

Entrar na Petrobras é descobrir um empolgante mundo de desafios e oportunidades. Estimulante, atuar na empresa é gratificante para qualquer jovem profissional em um mercado de trabalho cada vez mais concorrido. Afinal, é a empresa dos sonhos de uma parcela considerável de egressos das universidades do país.


Mesmo não sendo a opção primeira, entrar na Petrobras encanta e apaixona qualquer um. Seu dinamismo, sua vitalidade e seu compromisso para o progresso e desenvolvimento do país e das comunidades em que atua fazem encher de orgulho cada brasileiro e mudam a maneira com que se relacionam todos os que se aproximam da Companhia para nela trabalhar.

A decorrência natural disso tudo foi uma mudança de planos. Passou a fazer parte da minha expectativa na vida permanecer por longos e profícuos anos na Companhia. Meus primeiros dois anos na Petrobras, na Universidade Petrobras em Salvador, foram de aprendizado e crescimento, especialmente em uma forma de gestão que para mim era completamente nova.

Questões familiares me fizeram desejar o retorno à Natal e comecei a buscar uma transferência para a então UN-RNCE. Finalmente essa transferência foi obtida em setembro de 2008 e na primeira semana de outubro já estava atuando na CSI da Unidade.

O último ano e meio, no entanto, contribuíram para uma mudança radical de perspectiva. Passei a ver os caminhos profissionais a serem traçados na empresa cada vez mais obstruídos para mim. Tarefas sendo retiradas, atividades e planejamentos sendo desconsiderados foram se tornando aos poucos um peso difícil de conduzir. Próximo a terminar o doutorado, o desejo de deixar a empresa foi crescendo.

O quadro de saúde foi se deteriorando. No último ano, por dois períodos tive 15 dias de afastamento em virtude de uma depressão moderada que me atingiu. O quadro que desenhou esse cenário é muito claro, com algumas marcas muito evidentes, como os dois exemplos seguintes:

1) No fim de 2009 fui convidado para organizar o Planejamento Estratégico da gerência. Fizemos uma reunião de três dias e elaboramos um detalhado relatório. Em nenhum momento foi dado retorno gerencial acerca do planejamento realizado e dessa maneira nunca podemos executar o planejado. O fato começou a gerar o constante desânimo para quaisquer atividades, especialmente as que dissessem respeito a planejamento e gestão do grupo de imprensa sob meus cuidados. Parecia que eu atuava junto a ouvidos mocos.

2) Em 2011, realizamos o planejamento de uma atividade - relacionada à transformação de um jornal impresso semanal em mensal e a migração de conteúdo para o Portal Petrobras. Após o planejamento ser aprovado e começar a ser executado, fui desautorizado a prosseguir com a atividade sob argumento de que não teria sido aprovado - mesmo tendo sido.

A somatória de eventos como esses começou a me fazer mal pessoalmente. E a desejar encontrar uma saída para uma situação profissional mais tranqüila e realizada. As desautorizações geraram uma situação em que doía vir trabalhar.

Tudo piorou em virtude de questões relacionadas à minha militância político-social e ao blog em que mantenho por esse motivo.

Desde que foram deflagradas as Operações Pecado Capital (em setembro) e Sinal Fechado (em novembro) meu blog pessoal passou a publicar detalhes das investigações – alguns dos quais passaram à margem da imprensa tradicional. Tal fato gerou uma série de pressões sobre mim e sobre o trabalho do blog.

Ao ponto de que em 05 de janeiro deste ano fui chamado a uma conversa com minha gerente. Ela informou que havia recebido uma reclamação formal contra mim, por parte de um representante da Assembléia Legislativa, devido ao meu blog.

Publiquei esse dado no blog, omitindo, como sempre faço, o nome da Companhia, uma vez que o blog nada tem a ver com minha atuação profissional da Petrobras. Publiquei inclusive um print, preservando nomes, do e-mail recebido com essa advertência.

Quase dois meses depois, ao chegar para trabalhar, fui surpreendido pela informação de que havia sido suspenso por um dia, em um processo em que o direito à defesa foi plenamente cerceado. Recorri ao Sindicato, ao movimento nacional de blogueiros, a amigos e partidos em busca de reverter uma ação que, evidentemente, se tratava de uma perseguição política da Assembléia que instrumentalizou o sistema de conseqüências da Petrobras para isso.

Após conversas diversas, publicações em alguns blogs acerca do caso, finalmente conseguimos reverter a questão – e a suspensão de um dia foi convertida em uma advertência por escrito.

Confesso que tentei prosseguir trabalhando normalmente após o fato, mas o desânimo e a improdutividade me empurraram na busca de uma porta de saída. Foi a gota d´água.

Essa porta se ampliou a partir da defesa de minha tese de doutorado, no fim de abril.

Finalmente, em maio, fui aprovado no concurso para professor adjunto do departamento de Comunicação Social da Universidade Federal do Ceará.  Devo tomar posse nos próximos dias.

Vida que segue.

Comentários

Patrick disse…
Sucesso na nova carreira!