#ForaMicarla: Sobre conversões

Nem sempre falo aqui sobre minha fé.  A minha vivência religiosa tem sido, nos últimos 16 anos, no ambiente evangélico.  É desse lugar que nutro a força para manter minha empreitada por essas bandas digitais.
Quando Micarla de Sousa começou a se afirmar evangélica circulou um vídeo em que a prefeita dá o seu testemunho em evento de mulheres na Igreja Batista da Lagoinha.  Ali, Micarla falou da gravidade de seu problema de saúde - que, segundo disse, a levou à UTI mais de uma vez.  Ali, a prefeita afirmou que enfrenta as trevas na gestão municipal.  Havia pouco, havíamos ocupado a Câmara e conquistamos, a muque, o direito de ver a gestão investigada com uma CEI sobre os contratos.
Não sabíamos, então, que estava em curso uma investigação aprofundada sobre os contratos de gestão que cederam à OSs unidades hospitalares do município.  Não conhecíamos a dimensão e os tentáculos das redes de corrupção conduzidas para dentro da gestão a partir da secretaria municipal de saúde.  Mas Micarla conhecia.  Foi isso, pelo menos, que disse o então secretário, Thiago Trindade, em conversa com o braço direito de Rogério Marinho, Alexandre Magno Sousa, apontado como mentor de tudo:
Agora a questão é a seguinte, me responda algumas coisas 1º a Prefeita sabia do contrato, minha resposta, sim a Prefeita sabia do inteiro teor do Projeto e do valor.” Alexandre diz: “sabia de tudo, antes de ser publicado foi feito uma apresentação para ela.”. Thiago diz “é do valor, não é? Que é o principal”. Alexandre diz: “de tudo, foi feito uma apresentação para ela de tudo, de absolutamente de tudo.”. Thiago diz “inclusive as origens desse financiamento.” Alexandre diz: “até porque o contrato é legal, ela viu a planilha, ela não cometeu nenhum absurdo não, ela viu uma coisa que ia funcionar, que ia dar certo. 
Eu acredito em um Deus de graça que salva e muda a história da gente a partir do que foi feito por Jesus em Sua vida, morte e ressurreição.  Mas sempre que penso em conversão me lembro de um relato bíblico, que a prefeita deve conhecer e, sendo cristã, acreditar.  É a história de Zaqueu, relatada em Lucas 19.  Permita-me falar um pouco sobre Micarla e Zaqueu.
Poucas linhas antes de o evangelho de Lucas (18. 18-28) contar a história de Zaqueu, conta a história do jovem rico:
Certo homem importante lhe perguntou: "Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna? "
"Por que você me chama bom? ", respondeu Jesus. "Não há ninguém que seja bom, a não ser somente Deus.
Você conhece os mandamentos: ‘Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não darás falso testemunho, honra teu pai e tua mãe’".
"A tudo isso tenho obedecido desde a adolescência", disse ele.
Ao ouvir isso, disse-lhe Jesus: "Falta-lhe ainda uma coisa. Venda tudo o que você possui e dê o dinheiro aos pobres, e você terá um tesouro nos céus. Depois venha e siga-me".
Ouvindo isso, ele ficou triste, porque era muito rico.
Vendo-o entristecido, Jesus disse: "Como é difícil aos ricos entrar no Reino de Deus!
De fato, é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus".
Os que ouviram isso perguntaram: "Então, quem pode ser salvo? "
Jesus respondeu: "O que é impossível para os homens é possível para Deus".
O jovem rico, chamado de homem por Lucas, queria "herdar a vida eterna" mas, quando ouviu de Jesus o que era necessário para isso, inclusive vender tudo o que tinha e dar o dinheiro aos pobres, foi embora triste.  Vendo isso, Jesus diz que é impossível um rico se salvar - afinal, um camelo passar no fundo de uma agulha é impossível - mas o "que é impossível para os homens é possível para Deus".
E é nesse contexto que aparece o relato de Zaqueu:
Jesus entrou em Jericó, e atravessava a cidade.
Havia ali um homem rico chamado Zaqueu, chefe dos publicanos.
Ele queria ver quem era Jesus, mas, sendo de pequena estatura, não o conseguia, por causa da multidão.
Assim, correu adiante e subiu numa figueira brava para vê-lo, pois Jesus ia passar por ali.
Quando Jesus chegou àquele lugar, olhou para cima e lhe disse: "Zaqueu, desça depressa. Quero ficar em sua casa hoje".
Então ele desceu rapidamente e o recebeu com alegria.
Todo o povo viu isso e começou a se queixar: "Ele se hospedou na casa de um ‘pecador’ ".
Mas Zaqueu levantou-se e disse ao Senhor: "Olha, Senhor! Estou dando a metade dos meus bens aos pobres; e se de alguém extorqui alguma coisa, devolverei quatro vezes mais".
Jesus lhe disse: "Hoje houve salvação nesta casa! Porque este homem também é filho de Abraão.
Pois o Filho do homem veio buscar e salvar o que estava perdido".
Zaqueu era publicano - ou seja, cobrador de impostos.  Era líder, na verdade, do grupo de cobradores.  Como funcionava o negócio de cobrar impostos?  Zaqueu calculava o valor que devia ser passado pelos moradores da cidade ao Império Romano.  Depois de pagar o imposto devido, cobrava dos moradores - com lucro e extorsão.  (Zaqueu exercia um papel semelhante ao de Antônio Luna na gestão Micarla de Sousa).
Assim sendo, pode-se, de certa maneira, Zaqueu era rico porque extorquia e explorava os moradores de Jericó, onde morava.
Zaqueu se converteu.  E Jesus reconheceu isso ("Hoje houve salvação nesta casa!").  E qual o sinal da conversão de Zaqueu, que foi visível a Jesus?
"Olha, Senhor! Estou dando a metade dos meus bens aos pobres; e se de alguém extorqui alguma coisa, devolverei quatro vezes mais"
Zaqueu deu metade dos seus bens aos pobres e devolveu quatro vez o que extorquiu (quando a Lei Judaica previa a devolução do valor extorquido e mais um quarto).  A conversão de Zaqueu representou sua mudança de vida, abandono da prática de extorsão e devolução dos bens adquiridos injustamente.
Olho para os relatos que dão conta da conversão de Micarla de Sousa - e sua intenção de se tornar pastora - e fico esperando ver os sinais semelhantes aos da conversão de Zaqueu.  Alcides Barbosa relatou, em seu depoimento da delação premiada na Operação Sinal Fechado, que Marco Doninelli, antes de fazer trabalhos espirituais para George Olímpio, tinha como cliente a prefeita de Natal - estou esperando o testemunho de Micarla sobre os trabalhos que pagou e os avanços empresariais e políticos conquistados à base de despachos e que tais.
Espero, também, o depoimento de Micarla de Sousa ao Ministério Público assumindo suas responsabilidades e denunciando os esquemas de corrupção que tenham existido em sua gestão.  Se ela é cristã convertida e tem culpa em algum desses esquemas, dirá isso de público.  Se ela conhece as atividades ilegais desenvolvidas na gestão - como as que denunciou a Operação Assepsia - espera-se que, convertida, preste depoimento esclarecedor aos promotores do patrimônio público.
Como fez com Zaqueu, somente acreditarei na realidade da fé da prefeita quando ela se comprometer com a verdade e a justiça e anunciar que dá "a metade dos meus bens aos pobres; e se de alguém extorqui alguma coisa, devolverei quatro vezes mais".
 

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