Operação Assepsia: Ex-secretário nega viagem ao exterior

No Novo Jornal

O ex-secretário municipal de Saúde, Thiago Trindade Barbosa, que ontem prestou esclarecimentos ao Ministério Público, aguarda a apresentação da denúncia à Justiça para saber do que ele será realmente acusado e, assim, se pronunciar ofi cialmente sobre o caso. Porém, em contato com o NOVO JORNAL, após falar ao MP, respondeu algumas perguntas relacionadas ao escândalo da saúde.


Por telefone e bastante seguro, Th iago disse que não tinha como responder se era usado pelo procurador do município, Alexandre Magno Alves de Souza, apontado pelo MP como integrante do ‘núcleo duro’ do esquema acusado de desviar dinheiro público da Secretaria Municipal de Saúde através dos contratos com Organizações Sociais.

O ex-secretário justificou a impossibilidade dizendo que trabalhava numa relação de confiança com os auxiliares da época. Essa descentralização acontecia por necessidade, já que a gestão do sistema de saúde é muito complexa. Outro fato que o levou a distribuir responsabilidades é que ele mesmo não era técnico da área de saúde, mas bacharel em Direito e agente da Polícia Civil. “Infelizmente não tenho como responder sobre isso. Eu trabalhava numa relação de confi ança na Secretaria e no Município. Eu era tido como um gestor que compartilhava ideias, eu não tomava decisões sozinho. E também não sou técnico da área”, afi rmou.

Apesar de econômico na quantidade de respostas, Thiago aproveitou a oportunidade para explicar uma suposta passagem aérea com destino a Barcelona que teria recebido do dono da Associação Marca, Tuffi Soares Mere. Segundo o Ministério Público uma das formas de pagamento indevido do suposto grupo criminoso formado pela Associação Marca e a empresa Salute Sociale, coordenado por Tufi Soares e Rose Bravo, era a distribuição de passagens aéreas. E

usa um email enviado de Tufi a Rose com dados de uma passagem para Thiago Trindade, com destino a Barcelona, para exemplifi car o suposto crime.

Mas o ex-secretário municipal de Saúde nega a viagem embora admita que a passagem foi oferecida. Mas não nas condições postas na petição do MP. Segundo ele, a Marca também ofereceu passagens para a prefeita Micarla de Sousa, a governadora Rosalba Ciarlini e o ex-secretário estadual de Saúde,

Domício Arruda. Mas ninguém viajou. “A viagem não foi realizada. Era um convite que não foi feito apenas para mim, mas para a prefeita, a governadora e o então secretário Domício Arruda. Era um evento de logística integrada em Barcelona, mas ninguém foi. Quando o email de Tufi diz a Rose ‘Veja com Thiago se é isto o que ele quer’, ele está perguntando se a minha disponibilidade de agenda era essa. Eu vi que saiu na imprensa essa história da passagem e, se você puder, por favor, coloque o que de fato aconteceu”, afirmou.

Apesar de encontrar na descentralização da gestão da saúde, quando foi secretário, uma explicação para ter tido o nome envolvido no esquema, Thiago Trindade não se arrepende de ter sido aberto. Para ele, a distribuição de tarefas era uma necessidade da secretaria diante da demanda. “A secretaria é muito ampla. Ter o domínio e o controle daquele universo é muito complicado. A Secretaria de Saúde por si só não faz sozinha a gestão da Secretaria de Saúde. Depende da controladoria e de outros órgãos. E personificar as decisões seria restringir as coisas. Era necessário descentralizar”, analisou.

Ex-secretário municipal de Saúde, Thiago Trindade deixou a SMS em 2011 assim que o contrato da prefeitura com o ITCI foi cancelado por recomendação

do MP. No primeiro depoimento prestado ao Ministério Público, no ano passado, ele disse que seguia as orientações da prefeita Micarla de Sousa. Na petição ele é apontado como o homem que recrutou pessoas para atuar em funções estratégicas na SMS que participaram ativamente da implementação do esquema

das Organizações Sociais, por vezes praticando atos administrativos contrários à lei. Para o MP, Thiago Trindade “desencadeou uma série de contratações

milionárias de entidades supostamente sem fins lucrativos, qualificadas como organizações sociais (OS), substituindo, premeditadamente, os serviços públicos de saúde prestados diretamente por servidores municipais”, escrevem os promotores.

Ainda segundo a petição, o traço comum dessas contratações foi o direcionamento prévio das seleções realizadas e o desvio de recursos públicos por meio de despesas fictícias ou superfaturadas, e ainda despesas pessoais, inseridas nas prestações de contas das organizações sociais, que não sofrem qualquer tipo de controle efi ciente por parte dos órgãos de controle interno do Município de Natal.

O ex-secretário se colocou à disposição do Ministério Público para tirar novas dúvidas que venham surgir com a análise do material que foi apreendido. E pediu para que a reportagem fosse fiel ao que ele disse.

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