Operação Sinal Fechado: Como funcionam os negócios de Carlos Augusto Montenegro

Como destaquei ontem, as denúncias apresentadas contra Carlos Augusto Montenegro pelo Domingo Espetacular têm tudo a ver com as investigações da Operação Sinal Fechado e o "negócio dos cartórios" de George Olímpio.
A primeira vez que ouvi sobre a investigação mostrada ontem foi na vinda de Amaury Ribeiro Júnior, autor de A privataria tucana e produtor da Record.  Amaury disse a mim e ao jornalista Leandro Fortes, no Buraco da Catita, que estava investigando o negócio que rendeu milhões a Carlos Augusto Montenegro.  Conversamos sobre isso no contexto da Operação Sinal Fechado.

No R7

No dia em que o Domingo Espetacular apresentou reportagem com negócios suspeitos do presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, o índice de audiência do jornalístico registrou, segundo o instituto, um dos piores índices dos últimos anos.

O programa fechou com oito pontos em média no Ibope segundo dados prévios. Ficou em terceiro lugar durante a apresentação, atrás de Globo e SBT. Há mais de dois anos - desde fevereiro de 2010 - o programa não registrava audiência tão baixa no Ibope.

Neste ano, o programa chegou a registrar o dobro de audiência segundo o Ibope, como em março, quando fechou com média de 16 pontos e picos de 20. Em junho e julho, registrou média acima de 10 pontos.

A reportagem do Domingo Espetacular mostrou como Montenegro ganhou bilhões de reais com negócios suspeitos com a exploração particular de um serviço público, a taxa de gravames para carros financiados em todo o Brasil, e as aplicações de remessas de dinheiro em operações suspeitas em paraísos fiscais.

Montenegro criou a empresa GRV, que administra o gravame no Brasil. O gravame é um mecanismo que visa a garantir que ninguém passe adiante um carro financiado, que ainda não foi pago. Na prática, é um número que identifica o carro. Todo carro comprado por financiamento tem gravame, e isso vale para cerca de 70% de todos os carros vendidos no País.

Ou seja: um serviço público está sob controle de uma empresa privada, e sem que tenha havido concorrência pública. Isso gerou enriquecimento meteórico e questionável de Carlos Augusto Montenegro e seus sócios, rendendo cerca de R$ 180 milhões por ano. Mesmo tendo vendido a GRV em 2005 para outra empresa, a Cetip, em transação que rendeu R$ 2 bilhões, Montenegro e seus sócios continuaram influindo no negócio, ao manterem cerca de 5% das ações da nova empresa.

Pouco depois de assumir o serviço de administração dos gravames pelo Brasil, Montenegro abriu empresas em paraísos fiscais, como as Ilhas Virgens Britânicas, no Caribe. Pelos papéis obtidos pela reportagem, constata-se que as empresas de Montenegro no exterior trazem dinheiro para suas empresas no Brasil.

Um detalhe chama a atenção: Solange Montenegro, irmã do dono do Ibope, aparece nas duas pontas das transações. Ela é procuradora de uma das empresas sediadas em paraíso fiscal, de onde o dinheiro sai, e sócia de uma das empresas no Brasil, onde o dinheiro entra. A procuração para que ela possa movimentar esse dinheiro todo foi emitida por outra empresa de Montenegro em paraíso fiscal.

Um esquema semelhante ao utilizado por Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF, investigado pela Polícia Federal. A exemplo do esquema montado por Montenegro, quem assina os documentos nas duas pontas da operação é um irmão de Teixeira, Guilherme Terra Teixeira. As revelações desse esquema derrubaram Ricardo Teixeira do comando do futebol brasileiro.

Cada ponto no Ibope corresponde a cerca de 60 mil domicílios na Grande São Paulo.

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