Um tempo atrás publiquei entrevista com Hélio Silva, empregado da Petrobras que, vítima de assédio moral, tem visto seus sonhos e sua saúde desmoronar pela ação da empresa - gerencial e jurídica.
Em 20 de julho do ano passado, Hélio ingressou com ação trabalhista contra a Petrobras em virtude do excesso de horas-extras trabalhadas - aliás, diversos são os empregados de sua gerência que apresentaram ações semelhantes. Apenas em 4 de novembro, quase quatro meses depois, o empregado da Petrobras começou seu curso de medicina.
No entanto, "o que causa espécie" - para usar a expressão utilizada pelos advogados da empresa -, é que a defesa da Petrobras não tendo muito o que dizer solicitou à justiça que fosse oficiado à Universidade do Estado do RN para que fosse concedida a lista de freqüência às aulas de Hélio Silva para que fique provado que o empregado mente ao dizer que trabalhava 17 horas por dia - o que seria impossível para quem cursa medicina.
Inacreditável o desespreparo - desespero? - para ação por parte da Petrobras, uma vez que a ação pelas horas extras é anterior ao ingresso de seu empregado no curso de medicina.
O trecho, porém, que me fez rir na defesa da Petrobras - e que mais uma vez mostra seu despreparo - se deu quando o advogado da empresa quis fazer troça com o caso, citando o milagre bíblico de Jesus multiplicando pães e peixes:
Quem esteve no Monte Sinai, doutor advogado, foi Moisés recebendo as tábuas da Lei, não Jesus multiplicando pães e peixes. Aliás, aquela lei de Moisés era suficiente para garantir os direitos de Hélio - fosse na garantia da integridade e da saúde do trabalhador, fosse na previsão dos descansos sabáticos, anos de remissão e jubileus.Acaso seja verdade, da mesma forma como Cristo realizou com os pães, em episódio acontecido no Monte Sinai, o autor conseguiu realizar o "milagre da multiplicação das horas", fazendo com que seu dia consiga ter mais do que as "tradicionais" 24 horas.
Vergonhosa a forma como a Petrobras - que se afirma como social e ambientalmente responsável - trata um técnico valioso, capaz mas que, por responsabilidade dela, tem visto sua vida laboral se esgotar, já tendo estado com a saúde extremamente fragilizada.
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