#RevoltadoBusao: Uma noite de fúria

Texto de Renato Lisboa, no Novo Jornal, foi honesto com o que eu vi ontem:



PELO MENOS DOIS ônibus incendiados (um na Bernardo Vieira outro no bairro Nordeste); pessoas feridas, trânsito interrompido e muita confusão. Esse foi o saldo de mais um dia de protesto, a princípio, contra o fim do sistema de integração no transporte público; mas que com o passar da noite perdeu o caráter pacífico das outras manifestações e tornou-se algo que ninguém afirma com certeza ter sido orquestrado por estudantes.
Em meio ao protesto e ao risco de novos atentados, as empresas determinaram o recolhimento de todos os ônibus que rodavam em Natal. Os bombeiros tiveram dificuldade para conter as chamas que atingiram os dois veículos. A polícia de choque foi acionada e agiu nas proximidades do Midway. Feridos foram atendidos no Walfredo Gurgel. Hoje, o Sindicato das Empresas dará coletiva sobre a questão do fim da integração pela parte da tarde. Aguarda-se também um balanço dos prejuízos e algum posicionamento por parte da polícia.
▶O INÍCIO
A concentração iniciou em frente ao shopping Via Direta, quando universitários interromperam, por volta das 17h40 a BR-101 e suas ruas marginais. Um grande pano preto representando luto foi estendido na passarela em frente aos shoppings.
Várias pessoas ficaram impossibilitadas de trafegar, independente do veículo utilizado. Embora alguns motoristas demonstrassem irritação com o protesto, vários deles eram simpáticos ao movimento, colocando o polegar para fora em sinal afirmativo, buzinando, parabenizando e falando frases como “Eu tô do lado de vocês” ou simplesmente parabenizando.
Enquanto os manifestantes estavam em frente ao Midway Mall, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) prendeu duas pessoas, sendo um estudante e uma senhora identificada apenas como “Sandra”, que seria uma professora integrante da Comissão de Segurança da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Vários estudantes cercaram o carro da PRF gritando frases de efeito como “Prende Micarla”. Os policiais não falaram para onde levaram os detidos. Um jovem, indignado, encarou um agente federal e disse “Vocês são uma vergonha para esse país”.
Depois de se concentrarem na via do sentido Centro-Sul, o grupo passou a caminhar, pela BR, até o Nordestão de Capim Macio, na avenida engenheiro Roberto Freire. Ficaram um bom tempo parados em frente ao supemercado Carrefour.
Foi quando os policiais federais intervieram mais uma vez. Sem dar maiores explicações, dois agentes pegaram no braço de uma jovem e saíram levando ela até que colegas começassem a seguí-los, cercaram eles e começaram a questionar o motivo da prisão. A princípio, os policiais alegaram que ela estavam fumando maconha, o que não foi confirmado. Um cheiro da erva veio da direção onde a garota estava, mas após terem revistado ela e sua bolsa, não encontraram nada.
Um grupo cercou os guardas e passou a filmar tudo. Uma das manifestantes tinha um megafone e pediu que os guardas se identificassem e explicassem o que estavam fazendo. Eles atenderam o pedido. Mas ainda iriam levar a jovem até a delegacia de plantão. Ele estava com uma decisão da juíza substituta Gisele Leite e leu para os estudantes afirmando que poderia fazer uso da força para retirá-los dali. “Por enquanto, estamos conversando com vocês tranquilamente. Mas estamos com a Polícia Militar de retaguarda pronta para entrar em ação”, tentou amedontrar um dos policiais.
Eles perguntaram quem era o líder do movimento e receberam a resposta em forma de coro. Um uníssono “Ninguém!”. Os adesivos confeccionados pelo Sindicato das Empresas de Transportes Urbano (Seturn) comunicando o final da integração (Passe Livre) foram arrancados. Várias pichações foram feitas nos ônibus e nas proteções das vias. Placas de
trânsito foram arrancadas, pedaços de galhos foram incendiados e colocados no meio da rua.
▶A REVOLTA
Por volta das 21h30, manifestações mais agressivas aconteceram em frente ao Midway Mall. Dessa vez, um grupo menor de pessoas fechou o cruzamento da avenida Bernardo Viera com Salgado Filho, em frente ao Midway Mall. O clima de enfrentamento com os policiais foi crescendo. Em dado momento, manifestantes e outras pessoas (incluindo moradores de rua) cercaram um ônibus da Guanabara já abandonado e começaram a depredá-lo. A polícia no local não teve condições de impedir a ação, aguardando a chegada
do Batalhão de Choque.
Os bombeiros tentaram apagar o fogo em um ônibus incendiado e foram impedidos por manifestantes. A imprensa também foi impedida de fazer imagens do ônibus incendiado em frente ao Midway. Após quebrar boa parte do ônibus, os manifestantes incendiaram o veículo. Por volta das 22h16 o veículo ardia em chamas, queimando inclusive a fiação
pública que estava acima dele. Pouco tempo depois (22h27) a polícia de choque chegou e, armada com armas não-letais e escudos, controlou a situação.
▶AS SUSPEITAS
O diretor de comunicação do Seturn, Augusto Maranhão, disse que, por medida de segurança, os ônibus de todas as empresas foram recolhidos. Ainda era relativamente cedo, cerca de 22h, e eles só iriam para as ruas quando o dia estivesse claro, às 5h. Sobre os ônibus incendiados , Maranhão suspeita que eles tenham sido incendiados por valeiros, pessoas que fraudam o sistema vendendo créditos (passagens) dos cartões pelas janelas dos ônibus.
“Vamos ter uma reunião com a polícia para separar o joio do trigo. Uma coisa é do protesto, outra é o dano ao patrimônio”, disse ele.

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