A escolha do PT em Natal

Meses atrás, tomei um café com Fernando Mineiro. Conversamos sobre diversos assuntos, mas fizemos uma análise que levei ao meu partido, o PCdoB.
Mineiro lembrava dos momentos marcantes da esquerda nas últimas campanhas municipais.  O grande momento havia sido a eleição de 1996, quando Fátima Bezerra foi derrotada, pelos próprios erros da coligação, num segundo turno por Wilma de Faria.  O grande momento de derrota foi 2004, quando Fátima ficou atrás até de Miguel Mossoró.
Ali a esquerda degringolou.  Na eleição de 2002 aliou-se a Wilma e, em 2004, a Carlos Eduardo.  Aí, a esquerda ficou resumida a apenas três grandes lideranças na cidade: Fátima, Mineiro e George.  Em 2008 o erro foi ter topado a grande aliança, chamada pela oposição de "acordão", e que atropelou a democracia interna de todos os partidos. No PT, o candidato já seria Mineiro desde 2008. No PSB, Rogério.  No entanto, de cima para baixo - entre a noite de um domingo e a manhã de uma segunda - foi definido o nome de Fátima. Fátima merecia ter sido a prefeita ali, mas o atropelamento geral das democracias internas dos partidos cobrou seu preço.
Naquele café, Mineiro estava decidido: seria candidato de qualquer jeito.  Mesmo que saísse sozinho.  Era preciso reposicionar a esquerda em Natal.  E ele acreditava, mais que ninguém, nas possibilidades de uma eleição no contexto em que as redes sociais ampliariam cada vez mais a sua força.  Ainda assim, era necessário o surgimento de novas lideranças e de um novo modo de ser para a política progressista em Natal.  Até para que pudéssemos sair da incômoda posição de termos, PT e PCdoB, passado quatro anos de mandato de Carlos Eduardo, oito de Wilma, e não termos uma marca relevante de nenhum dos dois partidos na gestão pública.
Estávamos certos.  A campanha de Mineiro representou a retomada da luta do campo popular e progressista na cidade - e possibilitou a expressão de novas lideranças.  Ainda que tenhamos tido a reeleição de George Câmara (PCdoB, na aliança com Carlos Eduardo) e a de Lucena (PT), e o retorno de Hugo Manso (PT) - ou seja, lideranças tarimbadas -, é de se destacar a votação de gente como Rodrigo Bico.  Mais que isso: a próxima legislatura terá uma bancada da Frente Ampla de Esquerda, com uma vereadora do PSTU e dois do PSOL.
Falei tudo isso para chegar na questão que envolve, agora, o apoio do PT no segundo turno.  Alguns petistas já seguiram com Carlos Eduardo no primeiro turno, como tinham feito na campanha para o governo em 2010.  Mesmo com a pressão que virá da cúpula para que apoiem o candidato de Micarla nas eleições, o natural seria que o partido seguisse com Carlos - até por ter feito parte de sua gestão.
No entanto, o que está em jogo é o capital político recuperado.  O PT sai fortalecido como em poucos momentos antes. Mesmo que Mineiro tenha tido nominalmente menos votos que Fátima em 2008 (quase 140 mil contra perto de 86 mil agora).  Em 2012, Fátima teve para deputada federal, em Natal, votação muito semelhante a de Mineiro hoje (85.558 votos).
A decisão sobre o apoio no segundo turno passa por aí. No caso de eleição, para Carlos Eduardo o PT terá mais peso que para Hermano.  Hermano praticamente já garantiu maioria na Câmara ontem.  Carlos terá de trabalhar por isso e os dois vereadores do PT seriam sobremaneira importantes.  Mas se a esquerda constrói um novo caminho na cidade, o melhor cenário talvez seja manter a independência, não declarando apoio a ninguém e deixando que os eleitores escolham.  Apoiar e entrar, de cara, no governo do eleito talvez represente degelar o capital recuperado.

P.S.: Recomendo a leitura, em conjunto, do post em que esclareço algumas dúvidas que despertei: Um esclarecimento sobre escolhas: somente pode ser @carloseduardo12

Comentários

Patrick disse…
Não apoiar ninguém num segundo turno - à exceção de situações realmente desastrosas - é lavar as mãos e aceitar que qualquer um tanto faz. É desmanchar o capital político do primeiro turno.

O Brasil poderia ter sido outro se Marina não tivesse silenciado no segundo turno das eleições presidenciais. Se tivesse exigido condicionantes ao seu apoio. É possível que o governo Dilma não tivesse assumido essa visão de meio-ambiente como um problema que atrapalha o desenvolvimento.

Particularmente, vejo a dificuldade de Carlos Eduardo em ter maioria na CMN como uma de suas virtudes.
Concordo. Mas se o partido liberar os militantes, filiados, podem fazer parte das campanhas sem se comprometer com o governo. O problema é entrar para o governo novamente automaticamente.