Anos Rebeldes - o remake


Por Cynara Menezes
No blog Socialista Morena



Vinte anos depois do sucesso da primeira versão, que inspirou os caras-pintadas a irem às ruas contra o governo de Fernando Collor, a TV Globo anunciou que irá fazer um remake da minissérie Anos Rebeldes. O autor da trama original, Gilberto Braga, declarou-se impedido de reescrever o texto por razões pessoais e foi substituído pelo blogueiro Agnaldo Figueiredo (nenhum parentesco com o general homônimo). O jornalista née dramaturgo decidiu fazer algumas modificaçõezinhas na sinopse, “para dar um toque atual, mais novo millenium” ao enredo.

O cenário da nova versão também é o Rio de Janeiro. Os jovens Maria Lúcia e João Alfredo, alunos do tradicional colégio Pedro II, estão começando a namorar quando acontece uma deposição constitucional no Brasil, no dia 31 de março de 1964. Com amparo na Carta Magna, os militares gentilmente obrigam o presidente João Goulart a deixar o poder e o substituem de forma legítima por um general. O povo comemora nas ruas a vitória da Revolução mais pacífica da história mundial.

João Alfredo é um radical de esquerda treinado em Cuba que atua como estudante profissional e só frequenta as aulas para fazer política, atrapalhando os que desejam estudar. Rebelde sem causa, mesmo com a calma e a felicidade reinantes, teima em provocar as autoridades dizendo que o país vive uma ditadura, o que é uma falácia, já que os militares a cada quatro anos realizam eleições e se revezam no poder da forma mais democrática possível.

No entanto, o rapaz, com um grupo de subversivos hippies e viciados em drogas, organiza ações extremistas e começa a praticar atentados contra os valentes homens de farda que salvaram o País da ameaça dos comunistas que queriam implantar, isso, sim, uma ditadura, a famigerada e sangrenta ditadura do proletariado. Os subversivos montam sofisticados centros de tortura em seus aparelhos clandestinos, para onde levam qualquer um que encontram fardado pelas ruas, até mesmo escoteiros.

Decepcionada com as atitudes de João Alfredo, Maria Lúcia se filia à Arena e passa a ser perseguida pelo antigo namorado, que havia trocado pelo belo Edgar, formado no Mackenzie e membro do CCC (Comando de Caça aos Comunistas), entidade extremamente libertária inspirada no grande democrata norte-americano Joseph McCarthy. Edgar é um homem puro e do bem, nascido na tradicional família paulistana e descendente de alemães, mas não é racista e tem inclusive alguns amigos negros.

Enquanto isso, a lésbica e viciada em drogas Heloísa, filha de um humilde banqueiro que doava a maior parte de sua fortuna aos pobres, resolve entrar para o grupo dos subversivos. Seu principal objetivo é explodir lugares e atingir civis inocentes. Má e egocêntrica, Heloísa é presa e submetida a um tipo de interrogatório avançado para a época e que daria ao Brasil diversos prêmios na área dos Direitos Humanos: deitada no divã, amparada por psicólogos e tomando água de coco, a terrorista resolve nada dizer, recebe alguns conselhos e é imediatamente liberada.

Mas a pérfida Heloísa sai dali disposta a espalhar mentiras sobre os heróicos golpistas constitucionais. Quando descobre, nas páginas da imprensa livre do País, que está sendo vilmente acusado pelos terroristas, o presidente Costa e Silva chora durante várias noites e, deprimido, baixa o AI-5, uma espécie de libelo governamental em favor da convivência pacífica com opositores. Heloísa, #chatiada, muda-se para a Albânia. Suas palavras antes de deixar o país: “Lá, sim, tem democracia”.

Mais tarde, Maria Lúcia se lança candidata e é eleita a primeira presidente mulher no Colégio Eleitoral. João Alfredo, arrependido, também entra para a Arena e se torna governador biônico de Brasília. Contrariando as más línguas que sugeriam que, na verdade, é ele quem de fato governa, Edgar se torna o braço direito da mulher no Planalto e juntos promovem, lenta e gradualmente, a volta das eleições, digamos, convencionais. É tão suave a transição que o povo praticamente nem sente a diferença. No final, ao som de “Eu Te Amo, Meu Brasil”, um grupo de simpáticos generais aparece acenando, como a dizer: “Se vocês precisarem de nós novamente, estaremos aqui. Contem conosco”. Fim.

(Este é um texto de ficção. Qualquer semelhança com personagens e acontecimentos reais é mera coincidência.)

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