Após sonho da 'terceira via' com Marina, PV enfrenta ocaso nas capitais

Em 2008, o Partido Verde (PV) conquistou sua primeira capital brasileira: a cidade de Natal, no Rio Grande do Norte. A eleita, Micarla de Sousa, compunha uma chapa com o PP, PSDB e o DEM, da governadora Rosalba Ciarlini e do senador José Agripino Maia, uma das principais forças do Estado. A coligação derrotou no primeiro turno a candidata Fátima Bezerra (PT), apoiada pelo então presidente Lula. Nessa mesma eleição, candidato à prefeitura do Rio de Janeiro, a segunda maior capital do país, Fernando Gabeira iniciou sua campanha com 6% das intenções de voto e terminou o segundo turno derrotado por uma diferença de apenas 50 mil votos. Foi o ano em que o PV obteve seu melhor desempenho em eleições municipais: 76 prefeitos e 1.237 vereadores em todo o país.

Quatro anos depois, a vitória das urnas se transforma em derrota. A prefeita do PV chega ao final de seu governo com 92% de reprovação, a maior entre todos os prefeitos de capitais, segundo o Ibope. Ao longo da gestão, ela perdeu o apoio dos tucanos e democratas e afirmou em entrevistas que deixará a política. Sequer concorre à reeleição, não tem um sucessor e é repelida por todos os candidatos de oposição. A candidata do PV à prefeitura do Rio de Janeiro, Aspásia Camargo, é a quinta colocada na disputa municipal, com 1% das intenções de voto, de acordo com o último Ibope.

Os dois casos exemplificam a situação do partido nas eleições de 2012. Neste ano em que o PV lança o maior número de candidatos de sua história, 17.206 candidatos a prefeito, contra cerca de 13.000 em 2008, e 406 candidatos a vereador ante pouco mais de 300 há quatro anos, a sua única chance real de vitória nas capitais brasileiras é em Porto Velho , Rondônia. Em São Paulo, apoia José Serra, tecnicamente empatado com Fernando Haddad (PT) e com ingresso incerto ao segundo turno. De acordo com a mais recente pesquisa do Ibope, Serra tem 19% e Haddad 18%. Pela última pesquisa Datafolha, o cenário é mais favorável ao tucano, que tem 23% das intenções de voto e está tecnicamente empatado com o primeiro colocado, Celso Russomanno (PRB), com 25%, e também com Haddad (19%). Em Curitiba, compõe a chapa de Gustavo Fruet (PDT), terceiro colocado nas pesquisas. Em Belo Horizonte, na qual tem a vice da chapa de Márcio Lacerda (PSB), líder isolado nas pesquisas, um vídeo circulou pela internet com críticas de Délio Malhares, candidato a vice, com denúncias sobre o suposto uso das obras do metrô na campanha eleitoral e a pressão sobre alguns partidos para que apoiassem a reeleição de Lacerda.

A situação do PV nestas eleições municipais enterra o sonho acalentado em 2010 de o partido se consolidar como a terceira via na polarização PT-PSDB rumo à sucessão de Dilma Rousseff em 2014. Não apenas pelas dificuldades enfrentadas pela sigla, mas também por conta do desempenho do PSB do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que vem ocupando esse espaço neste ano (tem chances reais de vitória em pelo menos cinco capitais). 

Em 2010, com a candidatura de Marina Silva à Presidência, o partido conseguiu se impor como terceira via em uma eleição marcada pela polarização entre PT e PSDB. Marina teve 19,6 milhões de votos. Apesar do terceiro lugar, saiu como "vitoriosa " no primeiro turno. Na ocasião, o PV elegeu 15 deputados federais, sua maior bancada desde a criação do partido em 1986. Marina deixou o partido em 2011, junto de outros quadros que se filiaram na mesma época que ela, como o empresário Guilherme Leal, dono da Natura, e o candidato a vereador em São Paulo Ricardo Young (PPS). O grupo levado por ela pretendia reformar a estrutura e o programa do partido e o deixou alegando dificuldades em impor sua agenda.

O candidato a vereador de São Paulo Ricardo Young, que havia entrado no PV em 2010, disse a ÉPOCA que as dificuldades do partido em se firmar como uma legenda alternativa à polarização entre tucanos e petistas, como tem ocorrido com o PSB neste ano, se dão pela própria estrutura interna do partido. "O PV é um partido de um cacique (em alusão à José Penna, presidente nacional da sigla). Nós tentamos democratizar, mas houve rejeição. O PV é um partido velho com uma pseudoagenda nova." Para a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, o partido erra ao não se dispor a construir "um projeto de sociedade" e que, apesar da atual direção do partido, "tem algumas pessoas que seguem a agenda (ambiental)".

O ex-deputado Fernando Gabeira – segundo colocado na disputa à prefeitura do Rio em 2008 e ao governo do Estado, em 2010 – permanece no PV e afirma que os problemas enfrentados neste ano ocorrem porque as circunstâncias das duas últimas eleições não se repetiram. "O PV era o centro de uma coligação, tinha mais tempo de TV", afirma, em referência à sua candidatura à prefeitura, em 2008, e ao governo do Estado, em 2010, quando compôs com partidos como o PSDB. Outra dificuldade apontada por Gabeira em 2012 é a falta de dinheiro para as campanhas. "Hoje aposta-se menos em candidatos com poucas chances de vencer." Ele afirma também que nem todos os quadros do partido estão comprometidos com a sua agenda e que falta qualidade a parte da bancada do PV na Câmara dos Deputados.

Apesar de não querer voltar à disputa eleitoral, Gabeira continua na militância e defende para o partido uma agenda em que a questão ecológica e da sustentabilidade estejam inseridas em temas como o desenvolvimento econômico e a cultura. O ex-deputado, que voltou a trabalhar como jornalista, tem realizado palestras por todo o Brasil e já se apresentou à direção nacional para trabalhar pela formação de novos quadros.

O presidente do PV, deputado federal José Luiz Penna, afirma que o partido trabalhou pela permanência do grupo de Marina Silva e tem trabalhado em sua agenda, tocando em temas como a economia criativa. Para ele, apesar do baixo desempenho nas capitais, o partido está bem capilarizado nas cidades do interior do país. Mesmo assim, não se arrisca a afirmar quantas prefeituras o PV fará neste ano. Ele afirma que o partido nunca "teve ilusão" de vitória nas eleições cariocas, apesar da derrota de Gabeira em 2008 ter-se dado por uma diferença de 50 mil votos no segundo turno. Neste ano, Eduardo Paes (PMDB), candidato à reeleição, tem 57% das intenções de voto, segundo o Ibope.

Penna diz acreditar que a rejeição à Micarla não era esperada e concorda com a tese da prefeita, segundo a qual a sua prefeitura fora prejudicada por forças da oposição local e federal. A prefeitura, porém, poderia ter enfrentado menos problemas se o partido tivesse "participado mais da administração. Pelo menos para diminuir o prejuízo".

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