Por Duciran Farena
 Procurador Federal em João Pessoa/PB
Prisão: no dia 28 de agosto passado, seis membros do  Conselho Estadual de Direitos Humanos (CEDH) faziam uma inspeção para apurar  denúncias de maus tratos no Presídio PB1. Os agentes carcerários recusaram-se a  abrir uma cela lacrada, de onde presos imploravam socorro. Então, foi passada,  pelo orifício de ventilação, uma máquina fotográfica a um deles, que tirou  fotos do interior da cela: estavam aglomerados nus, em uma cela suja e úmida,  sem mobília, e com só uma latrina imunda. Foi o pretexto para que, a mando do  Diretor, fossem presos os conselheiros, ao se negarem a entregar a câmera. Uma  das detidas, a Professora da Universidade Federal da Paraíba Nazaré Zenaide,  ligou-me pedindo socorro. Falei por meio do aparelho dela com o Capitão da  Polícia Militar encarregado de cumprir a ordem. Identifiquei-me e disse  claramente a ele que o CEDH tem prerrogativa legal de adentrar qualquer  ambiente prisional e tirar fotos como quer que seja; que a ordem era ilegal,  assim como havia sido a recusa em abrir a cela; que ele poderia ser  responsabilizado pessoalmente se insistisse no cumprimento. A princípio, o  Capitão defendeu a prisão; depois, titubeou; disse que estava apenas "cumprindo  ordens" e enfim, passou a dizer que ele não havia prendido ninguém; mas não  poderia soltar os conselheiros porque não tinha a chave do portão... Três horas  depois, os conselheiros foram libertados pelo Promotor Marinho Mendes. O  episódio repercutiu no Brasil inteiro e no Mundo: Congresso em Foco, UOL, "The  Economist".
    Farsa: São instauradas três comissões pelo Estado da  Paraíba. Uma, para apurar a "tentativa de fuga", uma forma de tentar  responsabilizar os presos pela situação em que se encontravam; outra, pela  Secretaria de Assuntos Penitenciários, e por último, uma comissão "intersetorial" formada por diversas entidades. Nunca se viu comissão intersetorial para apurar  ilícitos administrativos ou fatos criminais; mas a comissão chega a recomendar  o afastamento do Diretor do PB1, provavelmente hoje o homem mais poderoso da  Paraíba. Nada acontece. Os conselheiros vítimas da prisão são agoniados por  sucessivas convocações, onde são submetidos a interrogatórios inquisitórios,  durante os quais o Diretor do PB 1 passeia para lá e para cá, ostensivamente  armado. Tudo está pronto para que a farsa seja concluída com a total inocência  dos responsáveis, com base no "estrito cumprimento do dever legal putativo",  isto é, imaginaram que estivessem fazendo a coisa certa... Argumento que  justificaria também os atos dos Nazistas condenados em Nuremberg e os assassinatos  do nosso Regime Militar...Contudo, os responsáveis não só tinham o dever  funcional de conhecer a Constituição e as leis, mas também condições de saber  que o que faziam era ilegal: um deles foi pessoalmente advertido. Fizeram-no,  porque queriam ocultar do conhecimento público o que ocorria no interior  daquela cela lacrada e intimidar o Conselho. Felizmente, o inquérito penal está  na Justiça Federal, onde, esperamos, não vingue esta farsa cuidadosamente  preparada.
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