"Criamos o nosso próprio seguro de vida", diz diretor de organização de jornalismo investigativo

Terminando de preparar uma aula de investigação jornalística, inclui essa história relatada por Leandro Fortes, repórter da CartaCapital, em seu livro da editora Contexto (2010), "Jornalismo Investigativo":

O Investigative Reporters and Editors (IRE) é um entidade sem fins lucrativos fundada "como reação à extraordinária máquina de produzir distorções e mentiras montada pelo governo dos Estados Unidos ao longo da Guerra do Vietnã. Mas foi o assassinato de um de seus fundadores, o jornalista americano Don Bolles, em 1976, que deu à IRE uma imagem universal de instituição de defesa dos princípios da liberdade de imprensa e, mais adiante, de modelo aplicado de organização de jornalistas. Bolles trabalhava para o Arizona Republic, principal jornal diário da cidade de Phoenix. Tinha em mãos uma pauta de risco: investigava grilagem de terras promovidas pelo crime organizado da região. Um dia, o repórter entrou no carro para voltar do trabalho para casa e, assim que girou a chave na ignição, a explosão de uma bomba o matou”(FORTES, 2010, p. 29)

Como resultado do assassinato, foi constituida uma força-tarefa de 38 jornalistas de 28 jornais e redes de tevê mergulharam no “Projeto Arizona”. Foi produzida uma série de 23 reportagens foi publicada por veículos de todo o país, ganhando diversos prêmios.

Nas palavras de David Kaplan, diretor do IRE: “Nós deixamos a máfia saber que matar jornalistas era extremamente ruim para os negócios. Criamos o nosso próprio seguro de vida".

No Brasil, nem para lutar por salários os jornalistas parecem ter força para se unir. Ainda mais para investigar a morte de colegas ou se unir para enfrentá-las, enfrentando máfias e ameaças. Às vezes, parece, há colegas que, na verdade, se põem a serviço das próprias máfias - nem sempre por livre e expontânea vontade, mas porque num cenário de baixos salários e poucos empregos o que lhes resta é trabalhar em veículos cuja linha editorial é uma linha de defesa de todos os crimes organizados que, por fim, mereciam ser investigados e matam quem os investiga.

Enquanto isso, jornalistas continuam sumindo e morrendo no Brasil inteiro. 

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