Idade Média: Internação de estudante crítico gera reações contra a UFRN

Segundo informações que circulam no grupo do Facebook da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, o estudante universitário Tiago Souto foi internado no Hospital Psiquiátrico João Machado.

Tiago, mestrando em Ciências Sociais, foi vítima, no fim de setembro, de um disparo efetuado (não foi Tiago que levou o tiro, mas estava no local) por um segurança do Campus - porque foi pedir água no Restaurante Universitário após o "horário permitido". Sobre o tema, publicou este texto.

Os relatos dão conta que Tiago vinha cobrando providências da UFRN, exigindo que a empresa contratada, responsável pelo profissional que efetuou o disparo, fosse afastada. A Universidade fez pressão junto à família do estudante, sugerindo que fosse internado.

Tiago planejava, com outros, uma ocupação da reitoria em busca de providências.

"Ele mobilizou um pequeno ato contra a militarização da Univerisdade e pretendia ocupar a reitoria. Não sei dizer quais problemas ele possui, mas a UFRN, através da reitoria, fez a mãe dele, que tem pouca instrução assinar os papéis da internação. Agora o rapaz está dopadíssimo no João Machado", disse um estudante, na rede social.

Inacreditável o episódio como um todo.

Para mim, especialmente imaginar que uma universidade - ainda mais pública - permita que um servidor dispare uma arma de fogo contra um de seus mestrandos sem consequência. E o que já era ruim, fica pior, quando você percebe que a Universidade, lugar de confronto, debate, discussão, promove uma interdição do crítico. Mais que isso: sendo o ambiente propício para debate sobre o tema, o interdita no pior formato possível: nomeando o crítico como louco e o internando em um manicômio. A UFRN, pelo visto, recuou séculos na história do pensamento humano.

Pior: enganando uma mãe de pouca instrução.

Terrível. Inominável situação.

UFRN: Internação é das piores formas de interdição do discurso

De um ponto de vista foucaultiano, tinha dito há pouco no twitter em conversa com o professor Thadeu Brandão, o caso do mestrando em Ciências Sociais, Tiago Souto, não teria diferente análise se o sujeito crítico tivesse histórico de internações ou problemas psiquícos motivados por uso de drogas: a internação continuava sendo o pior cenário possível de interdição das vozes críticas.
Recebi há pouco um telefonema dando conta que a própria reitora mobilizou uma solução psiquiátrica para Tiago em virtude de estar se sentindo ameaçada pelo estudante. Nesse relato, há informações de que veículos da segurança privada do campus foram usados para a detenção e transporte de Tiago. E de que o estudante seria reincidente.
Nada disso, como disse, muda o absurdo cenário do episódio.

UFRN: Quatro versões diferentes para o mesmo fato

Até o momento, o primeiro post que publiquei sobre o estudante Tiago Souto é o mais lido do dia. Do momento da publicação até aqui, recebi relatos diferentes que dão conta de quatro versões para o fato.
Evidente que fica, assim, complicado para entendê-lo em suas minúcias.
De todo modo, não muda o enfoque da crítica que é o papel das definições da loucura na interdição do discurso.
A última das versões que recebi dá conta de que a UFRN cortou as bolsas e os apoios a Tiago a pedido da família, para facilitar seu tratamento.
Silêncios e sons.
Essa é a loucura nossa de cada dia. Ela pode ser ampliada se o sujeito que dela é vítima experimenta uma situação traumática contra a qual não viu defesa nem punição consequente.

P.S.: Por causa das versões conflitantes, alterei o título do primeiro texto. Pontualmente, fiz alguns ajustes, mas sem modificar a cerne dos posts.

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